Na estrada que liga a cidade de Sertanópolis a Bela Vista do Paraíso, conhecida pelo nome de Estrada do Cerne, em meio ao caminho, bem nas proximidades de certo local, onde outrora havia uma venda aconteceu um crime bárbaro. O fato se deu numa época em que o lugar era muito povoado. No auge das lavouras de café. O fato aconteceu com um homem, de boa família assassinado, pode-se dizer, sem motivo algum. Logo após o crime, os familiares da vítima plantaram no local, uma pequena cruz de madeira. Nos pés da cruz eram acesas muitas velas e ao redor foram cultivadas várias espécies de flores. Nos dias de finado, o lugar era muito visitado. Até aqui conta-se a história, do ponto de vista da maioria dos moradores. Porém havia outras versões, um tanto macabras, desafiadoras, de arrepiar os cabelos das crianças e principalmente dos mais supersticiosos. Eram causos sinistros, centenas de vezes contadas pelos especialistas da redondeza. Os comentários sobre aparições assombrosas eram propagados pela tradição oral. Eram tantos os fantasmas que rondavam ao redor da cruz, que iam além de um caixão de defunto que saia do meio do capinzal amarrado por grossas correntes arrastados por um cavalo... Gritos desesperado de um homem pedindo socorro... Vultos voadores que passavam flutuando sobre a estrada... O capinzal ao redor que se estremecia fazendo um barulho esquisito, mesmo não estando ventando... Um suposto automóvel invisível que passava ao lado da cruz fazendo muito barulho de motor, levantando nuvem de poeira... Um cavaleiro estranho, que ao passar pela cruz descia do cavalo com uma faca na mão, jurava matar quem o desafiasse... Muitos são os que juram serem testemunhas oculares de algumas dessas aparições citadas... Outros preferem afirmar que tudo isso não passava de lorotas inventadas, para atiçar a crença das pessoas supersticiosas. Certa ocasião, um garoto com doze anos de idade, morador nas adjacências, estudava na cidade de Bela vista do Paraíso. Cursava na época a quarta série do ensino primário. Durante a semana ficava na cidade, na casa de uma tia. As sextas-feiras à tarde após as aulas, quando saia do Grupo Escolar Basílio de Araújo, não tinha mais horário de ônibus. Ninguém o fazia ficar na cidade nos finais de semana. Mesmo assim, com muito medo fazia todo o percurso a pé. Quase sempre sozinho. Raramente encontrava uma alma generosa que lhe oferecia uma carona. Caminhava muito mais pelo meio do cafezal do que pelo leito da estrada. Passava, a princípio por uma região de grandes fazendas de cafés, onde não havia nenhuma casa próximo à estrada. Sempre que passava perto da cruz, mesmo em plena luz do dia sentia calafrios por todo o corpo. Os cabelos ficam ouriçados... Apertava os passos, nem se quer olhava para a cruz de tanto medo que sentia. Numa dessas solitárias caminhadas, por ironia do destino, era uma sexta-feira do mês de agosto... Tarde de muito calor, céu esfumaçado, sol vermelho quase rente à linha do horizonte, parecendo uma bola de fogo. As fumaças das chaminés das casas já anunciavam que se aproximava o horário da janta. Quando foi se aproximando da cruz, deparou-se com o que mais temia em todas as suas caminhadas. Ao seu encontro vinha um cavaleiro muito estranho, de capa preta, um chapéu grande na cabeça, tal qual como o que era descrito nos boatos que fervilhavam na boca do povo. O encontro fatal e inevitável prometia acontecer exatamente em frente à cruz misteriosa. Tamanho foi o medo que o seu corpo ficou paralisado, trêmulo da cabeça aos pés... Quis gritar por socorro, a voz não lhe saia. Correr... Impossível. As pernas estavam plantadas no chão... Nisto, para aumentar ainda mais o seu temor, o homem enfiou a mão direita atrás da cintura e arrancou, querem saber o quê? Arrancou uma enorme faca !...Santo Deus! ... Já tinha como certo de que seria a próxima vítima... Momentaneamente passou-lhe um filme na cabeça sobre o seu trágico fim... O suposto criminoso foi se aproximando com a arma na mão... Como se não bastasse o homem, até então mal encarado, enfiou a mão direita no bolso da calça e tirou... Tirou... Valha-me Deus! ... Tirou uma laranja... Uma laranja, sim senhor! ... E começou a descascá-la com a maior tranquilidade, enquanto assobiava uma canção da época. Ao passar pelo garoto em frente à cruz disse-lhe: _ Boa tarde, menino! É servido chupar uma laranja? ... Tá doce que nem mel e foi passando montado em seu cavalo, trotando lentamente, até desaparecer na curva da estrada. O garoto ficou ali plantado alguns segundos, até se refazer do susto. Foi então que pode perceber, que no alto do barranco, centenas de abelhas e borboletas disputavam o néctar das flores silvestres e um toco de vela queimava lentamente ao pé da cruz.
quinta-feira, 26 de julho de 2018
A CRUZ MAL ASSOMBRADA
Na estrada que liga a cidade de Sertanópolis a Bela Vista do Paraíso, conhecida pelo nome de Estrada do Cerne, em meio ao caminho, bem nas proximidades de certo local, onde outrora havia uma venda aconteceu um crime bárbaro. O fato se deu numa época em que o lugar era muito povoado. No auge das lavouras de café. O fato aconteceu com um homem, de boa família assassinado, pode-se dizer, sem motivo algum. Logo após o crime, os familiares da vítima plantaram no local, uma pequena cruz de madeira. Nos pés da cruz eram acesas muitas velas e ao redor foram cultivadas várias espécies de flores. Nos dias de finado, o lugar era muito visitado. Até aqui conta-se a história, do ponto de vista da maioria dos moradores. Porém havia outras versões, um tanto macabras, desafiadoras, de arrepiar os cabelos das crianças e principalmente dos mais supersticiosos. Eram causos sinistros, centenas de vezes contadas pelos especialistas da redondeza. Os comentários sobre aparições assombrosas eram propagados pela tradição oral. Eram tantos os fantasmas que rondavam ao redor da cruz, que iam além de um caixão de defunto que saia do meio do capinzal amarrado por grossas correntes arrastados por um cavalo... Gritos desesperado de um homem pedindo socorro... Vultos voadores que passavam flutuando sobre a estrada... O capinzal ao redor que se estremecia fazendo um barulho esquisito, mesmo não estando ventando... Um suposto automóvel invisível que passava ao lado da cruz fazendo muito barulho de motor, levantando nuvem de poeira... Um cavaleiro estranho, que ao passar pela cruz descia do cavalo com uma faca na mão, jurava matar quem o desafiasse... Muitos são os que juram serem testemunhas oculares de algumas dessas aparições citadas... Outros preferem afirmar que tudo isso não passava de lorotas inventadas, para atiçar a crença das pessoas supersticiosas. Certa ocasião, um garoto com doze anos de idade, morador nas adjacências, estudava na cidade de Bela vista do Paraíso. Cursava na época a quarta série do ensino primário. Durante a semana ficava na cidade, na casa de uma tia. As sextas-feiras à tarde após as aulas, quando saia do Grupo Escolar Basílio de Araújo, não tinha mais horário de ônibus. Ninguém o fazia ficar na cidade nos finais de semana. Mesmo assim, com muito medo fazia todo o percurso a pé. Quase sempre sozinho. Raramente encontrava uma alma generosa que lhe oferecia uma carona. Caminhava muito mais pelo meio do cafezal do que pelo leito da estrada. Passava, a princípio por uma região de grandes fazendas de cafés, onde não havia nenhuma casa próximo à estrada. Sempre que passava perto da cruz, mesmo em plena luz do dia sentia calafrios por todo o corpo. Os cabelos ficam ouriçados... Apertava os passos, nem se quer olhava para a cruz de tanto medo que sentia. Numa dessas solitárias caminhadas, por ironia do destino, era uma sexta-feira do mês de agosto... Tarde de muito calor, céu esfumaçado, sol vermelho quase rente à linha do horizonte, parecendo uma bola de fogo. As fumaças das chaminés das casas já anunciavam que se aproximava o horário da janta. Quando foi se aproximando da cruz, deparou-se com o que mais temia em todas as suas caminhadas. Ao seu encontro vinha um cavaleiro muito estranho, de capa preta, um chapéu grande na cabeça, tal qual como o que era descrito nos boatos que fervilhavam na boca do povo. O encontro fatal e inevitável prometia acontecer exatamente em frente à cruz misteriosa. Tamanho foi o medo que o seu corpo ficou paralisado, trêmulo da cabeça aos pés... Quis gritar por socorro, a voz não lhe saia. Correr... Impossível. As pernas estavam plantadas no chão... Nisto, para aumentar ainda mais o seu temor, o homem enfiou a mão direita atrás da cintura e arrancou, querem saber o quê? Arrancou uma enorme faca !...Santo Deus! ... Já tinha como certo de que seria a próxima vítima... Momentaneamente passou-lhe um filme na cabeça sobre o seu trágico fim... O suposto criminoso foi se aproximando com a arma na mão... Como se não bastasse o homem, até então mal encarado, enfiou a mão direita no bolso da calça e tirou... Tirou... Valha-me Deus! ... Tirou uma laranja... Uma laranja, sim senhor! ... E começou a descascá-la com a maior tranquilidade, enquanto assobiava uma canção da época. Ao passar pelo garoto em frente à cruz disse-lhe: _ Boa tarde, menino! É servido chupar uma laranja? ... Tá doce que nem mel e foi passando montado em seu cavalo, trotando lentamente, até desaparecer na curva da estrada. O garoto ficou ali plantado alguns segundos, até se refazer do susto. Foi então que pode perceber, que no alto do barranco, centenas de abelhas e borboletas disputavam o néctar das flores silvestres e um toco de vela queimava lentamente ao pé da cruz.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário