
quinta-feira, 26 de julho de 2018
NOTA DO AUTOR
Os causos e lendas que fazem parte deste livro já foram centenas de vezes contadas pelos moradores de Sertanópolis. Muitos chegaram até em minhas mãos através de alunos, em projetos pedagógicos realizados nas Escolas do Município. Afirmam os coadjuvantes serem as narrativas verdadeiras e de terem acontecido na região. Mas, como diz o velho ditado: “Quem conta um conto aumenta um ponto”, não nego que também dei a minha contribuição, tanto na oralidade como na escrita.
Qualquer semelhança com histórias acontecidas em outras regiões do Brasil, é mera coincidência... Riquezas do folclore nacional.
A LENDA DA SALA 10
Nos tempos em que ainda era comum encontrar nas ruas de Sertanópolis, pés de melancias e pés de abóboras com frutos abundantes e enormes. Em que os transeuntes aventureiros, nas noites escuras esbarravam as cabeças em roliços cachos de bananas que se debruçaram com o peso sobre as calçadas. Em que as corujas, os morcegos juntamente com milhares de vaga-lumes eram donos absolutos das trevas. No pacato vilarejo sabia-se em detalhes a história de vida de cada morador. Os fatos aconteciam como determinava a era do pioneirismo. Assassinatos raramente eram noticiados. Traições amorosas, bem... É bom que se diga que tudo era muito velado... Quando o caso vinha à luz da verdade, boa coisa não acontecia. Os poucos moradores do vilarejo viviam em plena harmonia, não ostentavam nenhum luxo, tudo muito simples. Havia um perfeito relacionamento entre todos. Nos momentos difíceis, que não eram raros, o que não faltava era apoio. Uma comunidade unida, batalhadora, aventureira... Havia respeito entre os casais, famílias de origem europeia, na maioria de italianos, portugueses e espanhóis. Com o passar do tempo, uma das esposas, dona de uma beleza que se destacava entre as demais, até então dona de um comportamento praticamente semelhante às outras mulheres casadas. Bem relacionada com todas, aparentemente uma esposa exemplar, excelente mãe... De um momento para outro começa adquirir certas atitudes fora dos padrões rotineiros, como ali eram de costume. Passa a se arrumar com esmero, vestir-se melhor, usar perfumes. Contrariando os costumes, das demais mulheres casadas, que viviam enclausuradas em seus casebres, escravas dos afazeres domésticos, a Loira, passa a ser assim denominada por todos, alvo iniciante de comentários maldosos, principalmente por sair quase toda a noite sozinha, sem a companhia do marido, sempre bem arrumada e perfumada. O burburinho de fofocas começa a fervilhar na boca dos moradores, principalmente das mulheres... Lá vai a loira, sabe-se lá, fazer o que? Quase todas as noites, nos mesmos horários as cenas se repetiam e por onde ela passava, ficava um rastro de perfume de indagações... O marido, a princípio, confiava plenamente na esposa, tenha por ela muito carinho e admiração, até se sentia orgulhoso diante de sua beleza. Não demonstrava nenhuma cena de ciúmes, confiava plenamente nos argumentos usados pela esposa antes de sair de casa, enquanto se arrumava. Dizia que ia na casa de uma amiga, quando não, dizia que ia até a capelinha rezar. Antes de sair sempre dava um abraço e um beijo no marido, dizendo que voltaria logo. A boca do povo, cada vez mais comenta as mudanças radicais da loira. Os amigos mais próximos do seu marido já começam a dar-lhe conselho sobre o que de mal poderia estar acontecendo... Ele, de início chega a ser intolerante com os amigos na defesa da esposa, alegando que sabia aonde ela ia quase todas as noites. Mas, ao vê-la, cada vez mais se aprontado melhor, procurando perfumes mais caros para comprar, já começou a ficar com a pulga atrás da orelha. Será mesmo que ela está me traindo? Com quem será que ela está saindo. Essas perguntas e outras ainda mais indesejáveis começam a martelar dia e noite em sua cabeça. Contém os impulsos, domina o ciúme e passa observar melhor as atitudes da esposa... Enquanto isso a esposa segue na sua missão rotineira noturna. Tomado pela ira causada pelo ciúme contido no âmago da alma, já doentia... Não resistiu à tentação. Comprou um revólver sem que a esposa soubesse. Manteve por certo tempo à arma muito bem escondida, embrulhada num pedaço de jornal, em cima do guarda roupa e passou a arquitetar um plano de vingança. Tinha que fingir para esposa que tudo estava bem, ao seu lado procurava manter-se calmo, despreocupado. Mas quando estava só a aparente tranquilidade se transformava em ódio, mágoa, rancor. Não suportando mais a angústia, resolveu colocar um fim no que tanto o atormentava e que já era alvo de chacotas maldosas. Numa dessas noites em que a esposa se pôs ainda mais bela, melhor arrumada, mais perfumada resolveu segui-la pra desvendar o mistério. Passo a passo, na noite escura, pelas ruas desertas seguia cauteloso um único vulto, a menos de cinquenta metros de distância... O volto virava numa esquina, ele atrás. Virava noutra, ele firme, a passos lentos para não ser notado seguia no seu encalço sem perdê-la de vista. De repente, ao dobrar mais uma esquina constatou que já eram dois vultos que se entrelaçam indo na mesma direção... Não teve dúvidas. Apressou os passos... Nisto, os dois vultos entraram num terreno abandonado em meio a uma capoeira... A quem afirme que era um mandiocal... Sendo ou não uma capoeira ou mandiocal, não muda o foco do sinistro acontecimento premeditado. Fez o mesmo, entrou atrás com o revólver em punho, a menos de cinco metros de distância, sem vacilar descarregou a arma alvejando os dois vultos... Comenta-se que a esposa teve morte repentina e que o amante gravemente ferido conseguiu fugir deixando um rastro de sangue por onde passou. Sobreviveu, mas custou-lhe uma sequela que o marcou pro resto da vida e que por razões apenas pessoais não convém aqui entrar em detalhes. Melhor deixar acesa a chama da curiosidade. Passaram-se alguns anos. Aí por volta da década de 1950, logo após a inauguração de uma Escola Estadual. O vilarejo já havia se transformado em uma cidade próspera. Veio então à tona, a famosa Lenda da Sala 10. Por coincidência a tenebrosa sala foi construída na parte superior do prédio, bem no local onde a mulher havia sido assassinada. No térreo fica a porta de entrada que dá acesso a dois corredores, o que conduz a parte administrativa: sala dos professores, secretaria e a biblioteca. Na parte superior, subindo por uma escada, ficam quatro salas de aula. O outro corredor passa por uma porta divisória chega-se então as demais salas de aula. Bem no rol de entrada, na parte lateral da parede, abaixo da sala 10, permaneceu por muitos anos, o velho piano. Uma relíquia rara... Uma doação de valor estimativo inquestionável. Diz à lenda que o fantasma da mulher escolheu a sala 10 como morada, enquanto existir a escola. De lá para cá tem espalhado terror em todas as escolas da região. Costuma aparecer nos banheiros femininos. Há quem diga que é uma loira muito bonita, bem vestida, perfumada... Outros afirmam ser ela uma mulher feia, pálida e magra. Segundo relatos dos que a conheceram em vida, concordam plenamente com a sua beleza. Mas há muitas controversas com o que tem sido semeado pela boca do povo. Dando continuidade aos boatos, nas suas constantes aparições há quem afirme que ela aparece com a boca e as narinas cheias de algodão, tal como foi sepultada. Outros já dizem tê-la visto muito bem vestida e perfumada como era de costume em suas andanças noturnas. Os transeuntes que passam pelo local, em frente à escola, em altas horas da noite, quando a cidade dorme e o silêncio é total, dão testemunho de fatos muito estranhos: Barulhos confusos pelos corredores da escola, choro desesperado de uma mulher, vozes estridentes, gargalhadas que ecoam pelo prédio e se repetem cada vez mais alto, de maneira retumbante. Tornou-se comum, na vizinhança, comentários sobre: o alarme que dispara sozinho, o piano que toca em altas horas da madrugada, portas que pernoitam fechadas e amanhecem abertas. Foram notados por um professor e seus alunos, estalos estranhos, tanto no piso como no teto da sinistra sala, em plena hora de aula. Certo tempo atrás, um grupo de jovens, que fazia retiro na escola, num final de semana, tempo da quaresma... Lá pelas tantas da madrugada, alguns dos jovens que pernoitavam na sala seis, próximo ao rol de entrada onde ficava o piano. De repente, quando o silêncio absoluto reinava no local, começaram a ouvir uma música sinistra vindo do velho instrumento. Levantaram-se muito assustados. Mesmo assim a curiosidade em desvendar os segredos do piano misterioso mexeu com os ânimos dos jovens... Foram contagiados por uma espécie de curiosidade coletiva. Nenhum deles dispunha em tomar a iniciativa. Ficaram num jogo de empurra: _ Vai você na frente! ... _ Não! ... Não vou! ... _ Vai! ... Não vou! ... _ Já disse, não vou! ... Até que enfileirados, como se fossem um grupo de caça fantasmas... Todos de cabelos eriçados. Abriram a porta lentamente da sala seis provocando aquele típico rangido de filme de terror, inh ééééé... Pronto, já estavam no corredor, a menos de meio metro da porta que dava acesso ao local onde estava o piano. Novamente ficaram naquele jogo de empurra para ver que abria a última porta. Impulsivamente, um dos mais afoitos criou coragem e a porta foi aberta... Depararam com o aposento mal iluminado pela claridade das lâmpadas da rua, ofuscadas pela distância dos postes e das sombras das árvores estremecida pelo vento. Depararam com algo muito estranho, além do piano solitário, próximo a parede lateral... Sinistramente, nenhum vulto pode ser visto apenas as teclas do piano se movimentavam de maneira sincronizada. Nisto... Uaauuu! ... Ufa! ... Uma lufada de vento forte penetrou pelos buracos dos vidros quebrados... Fez com que as cortinas brancas esvoaçassem e tocassem nos cabelos arrepiados dos jovens... A música funesta preenchia o salão... Até que... O vento amainou... Fez-se um silencio total no recinto... De repente! ... Ao mesmo tempo todos sentiram um forte calafrio dos pés a cabeça. Algo muito estranho, invisível passou pelo grupo... Como se fosse uma pessoa adulta a correr pelo corredor, na direção da cantina. Tudo inexplicável pode ser constatado. Os jovens retornaram a sala, onde pernoitavam... Todos indistintamente aterrorizados com o que ouviram e quase nada viram, a não serem os movimentos das teclas do piano, na penumbra do daquele salão mal assombrado. Verdade ou não a Lenda da Sala 10 continua sendo propagada pelos moradores da região... Existem já centenas de versões.
CORTA GOELA
O êxodo rural mudou por completo o cenário agrícola do Município de Sertanópolis e de todo o Norte Paranaense. Os novos proprietários das terras, oriundos de lugares diferentes, transformaram os costumes do campo. Ignoraram uma rica tradição cultural alicerçada numa prosa animada, dos bravos pioneiros, que cultivaram a fértil terra roxa no cabo das enxadas... Muitos deles não fixaram residência nas propriedades que compraram. Eram apenas ambiciosos e fanáticos exploradores das terras. Erradicaram os cafezais. Acabaram com os pomares. Demoliram as casas dos colonos. Substituíram as enxadas pelos tratores... Mudaram a paisagem com imensas lavouras de soja, milho e trigo, ou então, em terrenos não mecanizados surgiram pastagens para o gado. Os bons tempos dos cafezais ficaram apenas na memória dos heroicos desbravadores do sertão, agora espalhados pelos quatro cantos do Brasil. Um dos novos moradores, cujo nome verdadeiro muito pouco foi pronunciado naquelas paragens do Cerne. De onde veio nunca se teve notícia. Sabe-se apenas que era um homem de pequena estatura, barbudo, cabeludo... Diziam até que era a figura encarnada do Demo... Cruz, credo! ... Deus que me livre! ... Como se não bastasse as credenciais já anunciadas, vivia no mesmo teto com três mulheres, que aparentavam respeito e carinho duvidoso... Talvez fosse pelo medo, ou quem sabe por serem elas da mesma laia do mandrião forasteiro. Por ironia, o tal barbudo veio morar na antiga propriedade de um já falecido pioneiro. Um português um tanto folclórico que por pouco não manchou o nome do lugar, batizando o ribeirão do Cerne de “Lava (…)”. Bem, melhor não pronunciar o resto. Deixa pra lá! ... O fato se deu por ter encontrado num passeio de reconhecimento das terras que por sinal acabou comprando, um homem nu a se banhar nas águas cristalinas do ribeirão. “Lava (…),” assim, então, passou a ser denominado o ribeirão e as adjacências por certo tempo, até que caiu no esquecimento e nome impróprio deixou de ser pronunciado. Mesmo local que antes foi maculado por um palavrão, tornou-se o aconchego preferido do quadrilátero amoroso. Era comum vê-los nus se banhando e trocando carícias despudoradas nas águas já poluídas do ribeirão. Misteriosamente, da noite para o dia, como se fosse um cemitério clandestino, covas de defunto foram encontradas abertas no local... Algumas já aterradas. Tal fato levou a já reduzida população a um clima de terror... A polícia da cidade de Sertanópolis foi avisada e após minuciosa investigação, nenhum defunto foi encontrado. As suspeitas, mesmo sem ter provas concretas, caiam sobre o tal Barbudo. O valentão, como já foi dito, tinha mesmo parte com forças malignas, frequentava assiduamente um venda de beira de estrada... O único ponto de encontro dos moradores da região. Ao entardecer chegava ao recinto, sempre acompanhados pelas três mulheres. Ao adentrar na venda, os já minguados fregueses curvaram-se diante do forasteiro... Lá vinha a famosa rodada de cachaça, alguém era intimada à força a pagar pela conta. O temido homem tinha por hábito andar armado com um punhal e um revólver na cintura... Cantava, dançava e humilhava os presentes com insultos desafiadores, agressivos, humilhantes... Era comum, em meio à algazarra, sacar o revólver e determinar as esposas que abaixassem as peças íntimas e urinarem em meio ao salão... Ai daquele que se atrevesse a dar uma espiada de rabo de olho nas nádegas das mulheres de cócoras e de saias levantadas até a cintura! ... O vendeiro, feito uma vara verde, tremia sem parar, do outro lado do balcão. Numa tarde de domingo, como era de costume, o barbudo chegou à venda, na companhia das esposas. Ao chegar foi logo fazendo arruaça costumeira. Desta feita, ainda mais provocante, estava mesmo tomado por inteiro pelas forças do mal. Nisto entrou em cena o Fraquito, que não fazia jus ao nome, pois nada tinha de fraco, era ele pela sua coragem e valentia, o Inspetor de Quarteirão do Bairro... A sua presença foi o mesmo que jogar álcool na fogueira. A coisa ficou preta num segundo, tanto o homem representante da justiça como o valentão empunharam os revólveres ao mesmo tempo... Foi um pipocar de tiros para tudo quanto era lado, uma correria danada. Um salve-se quem puder! Inacreditável! ... Nenhuma bala atingiu o tal barbudo! ... Diziam que tinha o corpo fechado. Fraquito levou a pior, foi alvejado por vários disparos, um deles atingiu o coração. O Tônico, vendo o pai que agonizava diante do sarcástico assassino, que Ironicamente ainda lambia os dedos da mão direita todo vermelho, com sangue do pai... Como se tudo isso ainda não bastasse ainda dava sonoras gargalhadas, Diante de tamanha humilhação, tendo como agravante o pai já sem vida, bem ali ao seu lado, perdeu totalmente o controle de si. Não era homem nem para matar uma mosca, assim diziam todos que o conhecia... Incorporou-se de uma força sobrenatural. Nem sabe como, de onde lhe veio tamanha valentia e destreza... Deu uma cadeirada na cabeça do barbudo enquanto se distraia zombando do cadáver estendido no chão... Atordoado tombou sobre o assoalho da venda e com extrema agilidade montou em sem corpo, arrancou uma faca da cinta e cortou numa só golpeada, a goela do valentão. Ficaram os dois corpos estendidos no interior da venda... Um cachorro vira-lata pôs-se a lamber o sangue dos cadáveres... Logo a polícia chegou ao local e tomou as providências cabíveis em tais circunstâncias. Corta Goela, Corta Goela! ... Aquele lugar não tinha esse nome não! ... Por incrível que pareça, até nos dias de hoje é normal quando alguém fala do acontecido chamar o local pelo nome de Corta Goela.
A CRUZ MAL ASSOMBRADA
Na estrada que liga a cidade de Sertanópolis a Bela Vista do Paraíso, conhecida pelo nome de Estrada do Cerne, em meio ao caminho, bem nas proximidades de certo local, onde outrora havia uma venda aconteceu um crime bárbaro. O fato se deu numa época em que o lugar era muito povoado. No auge das lavouras de café. O fato aconteceu com um homem, de boa família assassinado, pode-se dizer, sem motivo algum. Logo após o crime, os familiares da vítima plantaram no local, uma pequena cruz de madeira. Nos pés da cruz eram acesas muitas velas e ao redor foram cultivadas várias espécies de flores. Nos dias de finado, o lugar era muito visitado. Até aqui conta-se a história, do ponto de vista da maioria dos moradores. Porém havia outras versões, um tanto macabras, desafiadoras, de arrepiar os cabelos das crianças e principalmente dos mais supersticiosos. Eram causos sinistros, centenas de vezes contadas pelos especialistas da redondeza. Os comentários sobre aparições assombrosas eram propagados pela tradição oral. Eram tantos os fantasmas que rondavam ao redor da cruz, que iam além de um caixão de defunto que saia do meio do capinzal amarrado por grossas correntes arrastados por um cavalo... Gritos desesperado de um homem pedindo socorro... Vultos voadores que passavam flutuando sobre a estrada... O capinzal ao redor que se estremecia fazendo um barulho esquisito, mesmo não estando ventando... Um suposto automóvel invisível que passava ao lado da cruz fazendo muito barulho de motor, levantando nuvem de poeira... Um cavaleiro estranho, que ao passar pela cruz descia do cavalo com uma faca na mão, jurava matar quem o desafiasse... Muitos são os que juram serem testemunhas oculares de algumas dessas aparições citadas... Outros preferem afirmar que tudo isso não passava de lorotas inventadas, para atiçar a crença das pessoas supersticiosas. Certa ocasião, um garoto com doze anos de idade, morador nas adjacências, estudava na cidade de Bela vista do Paraíso. Cursava na época a quarta série do ensino primário. Durante a semana ficava na cidade, na casa de uma tia. As sextas-feiras à tarde após as aulas, quando saia do Grupo Escolar Basílio de Araújo, não tinha mais horário de ônibus. Ninguém o fazia ficar na cidade nos finais de semana. Mesmo assim, com muito medo fazia todo o percurso a pé. Quase sempre sozinho. Raramente encontrava uma alma generosa que lhe oferecia uma carona. Caminhava muito mais pelo meio do cafezal do que pelo leito da estrada. Passava, a princípio por uma região de grandes fazendas de cafés, onde não havia nenhuma casa próximo à estrada. Sempre que passava perto da cruz, mesmo em plena luz do dia sentia calafrios por todo o corpo. Os cabelos ficam ouriçados... Apertava os passos, nem se quer olhava para a cruz de tanto medo que sentia. Numa dessas solitárias caminhadas, por ironia do destino, era uma sexta-feira do mês de agosto... Tarde de muito calor, céu esfumaçado, sol vermelho quase rente à linha do horizonte, parecendo uma bola de fogo. As fumaças das chaminés das casas já anunciavam que se aproximava o horário da janta. Quando foi se aproximando da cruz, deparou-se com o que mais temia em todas as suas caminhadas. Ao seu encontro vinha um cavaleiro muito estranho, de capa preta, um chapéu grande na cabeça, tal qual como o que era descrito nos boatos que fervilhavam na boca do povo. O encontro fatal e inevitável prometia acontecer exatamente em frente à cruz misteriosa. Tamanho foi o medo que o seu corpo ficou paralisado, trêmulo da cabeça aos pés... Quis gritar por socorro, a voz não lhe saia. Correr... Impossível. As pernas estavam plantadas no chão... Nisto, para aumentar ainda mais o seu temor, o homem enfiou a mão direita atrás da cintura e arrancou, querem saber o quê? Arrancou uma enorme faca !...Santo Deus! ... Já tinha como certo de que seria a próxima vítima... Momentaneamente passou-lhe um filme na cabeça sobre o seu trágico fim... O suposto criminoso foi se aproximando com a arma na mão... Como se não bastasse o homem, até então mal encarado, enfiou a mão direita no bolso da calça e tirou... Tirou... Valha-me Deus! ... Tirou uma laranja... Uma laranja, sim senhor! ... E começou a descascá-la com a maior tranquilidade, enquanto assobiava uma canção da época. Ao passar pelo garoto em frente à cruz disse-lhe: _ Boa tarde, menino! É servido chupar uma laranja? ... Tá doce que nem mel e foi passando montado em seu cavalo, trotando lentamente, até desaparecer na curva da estrada. O garoto ficou ali plantado alguns segundos, até se refazer do susto. Foi então que pode perceber, que no alto do barranco, centenas de abelhas e borboletas disputavam o néctar das flores silvestres e um toco de vela queimava lentamente ao pé da cruz.
A LENDA DO FORNO À LENHA
Conta-se que há muitos anos atrás, numa das fazendas de café no Município de Sertanópolis moravam várias famílias de colonos que davam conta de todo o trabalho realizado na propriedade.
Era uma época em que não havia fogão a gás, usava-se o fogão a lenha. Quase nada era comprado na cidade. Grande parte do que se consumiam eram produzidos na roça. Havia fartura de frangos no terreiro, ovos de galinha, leite de vaca... Nunca faltava a carne de porco que era armazenada em latas de banha.
Bem... “A Lenda do Forno a Lenha” aconteceu num dia qualquer da semana... Uma das mulheres da fazenda preparava, a moda da roça, uma fornada de pão. Com certeza, uma delícia de fazer crescer água na boca. Enquanto acendia o fogo no forno... Lenha seca de primeira, ajuntada a capricho no mato... Estava à mãe acompanhada de sua filha, a mais nova. Era uma menina muito bonita de apenas quatro anos de idade.
Assim que a lenha pegou fogo, a mulher teve que ir a casa a fim de resolver um problema de rotina. Enquanto ainda estava dentro de sua casa começou a ouvir os gritos desesperados de sua filha... Saiu porta afora correndo na direção do forno... Infelizmente, mesmo assistida por outras mulheres da colônia nada puderam fazer... De mãos atadas diante das labaredas assassinas que saiam da boca do forno. Assistiram aterrorizadas vendo a menina arder em chamas. Era um fogo muito estranho incontrolável, como se saíssem da boca de um dragão.
A pobre menina ficou parecendo um toco de carvão.
Foi o seu corpinho velado e sepultado com muito choro e lamentos, principalmente da pobre mãe que não se conformava com a perda da filha, daquela maneira tão trágica e tão sinistra.
A partir daquele dia o forno ficou abandonado... Nunca mais alguém se atreveu em fazer nele as guloseimas tão apreciadas pelos moradores da colônia. Quase todas as noites, algo sinistro passou acontecer... Muitos dos moradores abandonaram o trabalho na fazenda, o mais rápido possível... Má sorte teve os que ficaram. Não tiveram durante os primeiros anos, após o sinistro acontecimento uma só noite tranquila de sono... No silêncio da noite, as chamas se repetiam no velho forno, provocando um clarão imenso... Como se não bastasse o choro e os gritos da menina morta ecoavam por todos os lados, implorando por socorro. Labaredas de fogo que clareava a dezenas de metros como se fosse dia
A paz só voltou a reinar no local, quando o forno foi demolido.
LUIZES NA CAPELA ABANDONADA
No alto de um morro, o mais imponente de todos de uma vasta região, logo nos primeiros anos em que o sertão do Cerne começava a ser desbravado foi construída ali uma capela, propositadamente na divisa de duas propriedades rurais. Pode se afirmar que essa capela foi sem dúvida uma das pioneiras a ser construída na zona rural do Norte Novo Paranaense, se bem pesquisado for, pode levantar o título de ser a primeira. Eram os proprietários muito devotos de São Sebastião, que por certo tempo tornou-se o padroeiro do bairro. É importante ressaltar que a capela não foi construída por acaso, e nem foi escolhido o alto do morro para que o Santo tivesse uma visão maravilhosa do seu padroado e sim pela graça de uma promessa alcançada. O proprietário da margem esquerda do templo, um dos filhos foi cometido por uma grave doença. Já desenganado pelo único médico da cidade, no leito de morte a espera da hora cruel... Milagrosamente o rapaz foi curado e o templo mais que depressa foi edificado. Orgulhosamente tive a honra de ser batizado nela e dela guardo vagas recordações dos meus tempos de menino. Por duas décadas a capela ali reinou soberana... Uma vez por mês o padre da paróquia local, sempre no segundo domingo de cada mês celebrava a Santa Missa. Nas noites de sábado e domingo, rezava-se o terço e uma vez por ano, no dia de São Sebastião acontecia uma grandiosa festa. Como o local era de difícil acesso, estabeleceu-se um conflito entre os moradores do bairro. Travam uma ferrenha discussão, que se arrastou por alguns anos... Os mais tradicionais defendiam a continuidade da capela de madeira naquele local, precisando apenas de uma reforma urgente... Outros defendiam a construção de um novo templo, à beira da estrada. Uma capela maior de alvenaria, arquitetura moderna. Como a maioria das famílias era de origem portuguesa e moradores da margem direita do Rio Cerne pode-se concluir que era notória a preferência por mudanças, não só do local do templo, estes defendiam Nossa Senhora de Fátima como padroeira do Bairro. Foi uma disputa danada. Venceram os devotos de Nossa Senhora de Fátima. O novo templo foi construído e a velha capela de São Sebastião, com o passar dos anos ficou pode se dizer abandonada. O velho templo foi sendo consumido aos poucos pela umidade das chuvas, corroído pelos cupins... Quando já ameaçava a desabar, foi então demolido e no local construído uma capelinha para proteger do mau tempo, a imagem do santo e também para que a promessa do proprietário não fosse quebrada. Mesmo assim os devotos iam até ao local, acendiam velas, faziam orações, principalmente no dia vinte de janeiro, o dia consagrado pelos católicos a São Sebastião. Alguns anos depois a capelinha ficou esquecida, a capoeira cresceu ao redor... O mais estranho é que os moradores da região, privilegiados pela visão que tinham daquele morro começaram anotar, ao menos uma ou duas vezes por semana, que a capelinha, nas primeiras horas da noite ficava iluminada... Como se nela houvesse centenas de velas acesas. A princípio, nada de anormal. Acreditava-se que moradores ao redor iam até o local fazer suas orações. Mas os boatos começam a ficar desencontrados. Os mais supersticiosos já davam conta de que era vingança do Santo pelo abandono templo... Quase todos os moradores da região, desde os crédulos até os mais incrédulos confessam terem visto o sinistro mistério, quase sempre no mesmo horário da noite, quanto ao dia da semana não havia tanta regularidade. Comentava-se também que ao redor da capelinha haviam sido sepultados, nos primeiros anos de colonização vários cadáveres, principalmente de crianças recém-nascidas e que podia ser também vingança dos mortos. Certa ocasião, alguns destemidos moradores, numa dessas noites de visagens resolveram colocar um fim no falatório que já ultrapassa as fronteiras do bairro... Após o combinado, munidos de lampiões foices e facões, subiram o morro. Venceram com dificuldade a capoeira que tomava conta da abandonada estrada de acesso à capela. Quando lá chegaram encontraram tudo na mais profunda escuridão... Nenhuma vela acesa, somente a imagem solitária de São Sebastião, dentro do seu oratório e nada, em meio às teias de aranha. A visão sinistra da capela iluminada persistiu por muitos anos... Até que no local foi construída outra capela, muito bonita e imponente... A imagem de São Sebastião foi restaurada. O novo templo passou a ser um ponto, não só religioso como também turístico... Agora, claridade à noite, somente quando as lâmpadas elétricas são acesas, em datas especiais, ou quando os devotos vão ao local para fazerem suas orações.
O HOMEM DA ÁRVORE
Não fugindo à regra, os causos mais cotados estão quase sempre relacionados com época do sertão de Sertanópolis . Com o “Homem da Árvore” não foi diferente... Filho de renomado pioneiro da Água do Couro do Boi. Enquanto fazia a derrubada de mais uma parte da floresta aconteceu um trágico acidente de trabalho. Uma árvore que cortava a golpe de machado, ao tombar por terra, um dos galhos se quebrou, mudou sua trajetória e caiu-lhe sobre cabeça. O pobre rapaz veio a falecer no local, sem que ninguém pudesse lhe prestar socorro. Pois estava só naquele nefasto dia.
No local, logo em seguida ao trágico acontecimento, ainda com o sangue maculando a terra roxa plantaram uma cruz de madeira.
Nos primeiros anos, ao lado da cruz havia muitas flores... Era comum os parente e amigos do falecido visitar o lugar, acendiam velas e faziam-lhe fervorosas orações. Tudo normal como mandava os costumes da roça e a fé daquele povo sem estudo, mas de uma religiosidade inquestionável.
Com o passar do tempo à cruz de madeira apodreceu e não foi substituída por outra. Não cabe aqui buscar explicações para o descaso, mesmo assim o local permaneceu vivo nas lembranças dos entes queridos do falecido.
Logo não tardaram a circular os boatos que o local passou a ser mal assombrado.
Contam os vizinhos, que até nos dias de hoje, quase todas as noites, uma luz misteriosa atravessa o rio e vai até onde havia a tal cruz. Lá permanece por um bom tempo parado a poucos metros de altura... Em seguida, ouve-se batidas compassadas de machado, como se alguém tivesse derrubando uma árvore.
Nem precisa dizer o quanto esse local de beira de rio tornou-se tenebroso e respeitado. Somente os mais ousados se aventuram a passar por aquelas paragens as sombras da noite. Mesmo assim, dão testemunho de sinistras aparições muitos estranhas e assustadoras.
O melhor mesmo a fazer é nunca abusar dos mistérios sobrenaturais... Confiar em Deus, nos anjos do bem e nos seus santos.
UMA BOLA DE FOGO MAIOR QUE UMA LUA CHEIA
Era quando muito dezenove horas, certo professor estava a caminho da escola onde lecionava, Naquele tempo morava no centro da cidade, nos fundos de uma casa comercial da qual também era proprietário.
Nas proximidades da Rodoviária por acaso olhou para o céu e viu algo luminoso, como se fosse uma pequena estrela, o estranho e que se movimentava no sentido oeste leste. Deve ser um satélite artificial, pensou ele e seguiu em frente.
Desde os anos sessenta os americanos e os russos começaram a poluir o espaço infinito com esses instrumentos de pesquisa científicas. Nessa década eram os satélites artificiais um tanto misteriosos. Hoje se sabe a fundo as múltiplas finalidades que eles têm.
O suposto satélite daquela noite também poderia ser um avião... Satélite ou avião, tanto faz, o certo é que enquanto caminhava pela calçada, a cada segundo olhava para o céu, seguindo o seu percurso, ou seja, iam à mesma direção, o professor pela calçada e objeto luminoso no céu.
Quando estava diante do campo de futebol olhou novamente para o alto, a prumo, sobre sua cabeça... Santo Deus! ... O objeto luminoso que cruzava o firmamento, que era menor que uma laranja... De repente havia se transformado numa bola enorme, maior que uma lua cheia, vermelha como fogo, como se fosse um imenso asteroide caindo em alta velocidade sobre a terra... Naquele instante quase teve uma vertigem... Abaixou a cabeça, certo de que em poucos segundos aconteceria uma terrível catástrofe sobre o Planeta Terra.
Jura que pensou nas profecias do fim do mundo, com as estrelas caindo do céu... Só já faltava os anjos celestiais tocarem as trombetas, como está escrito na bíblia.
Dentro do tempo previsto, como nenhuma explosão aconteceu... Olhou novamente para o céu, qual foi a sua surpresa? ... A imensa bola de fogo havia desaparecido repentinamente... Graças a Deus!
Seguiu a caminha na direção da escola. Mesmo assim, continuou olhando sem parar para o céu. Os fanáticos religiosos profetizam tais mistérios que rondam o nosso infinito universo. Muito se fala e muito do que ainda vai se ver.
OS CABRITINHOS DO TIO NERSO
Certo dia, próximo ao Natal. O tio Nerso, antigo morador da zona rural da Água do Biguá, embarcou vários cabritinhos que faziam parte do seu criatório, num caminhão Ford velho que possuía e tomou rumo em direção a cidade de Sertanópolis, a fim de vendê-los para um velho amigo comerciante de animais.
No caminho, pela estrada esburacada, aos solavancos da carroceria do caminhão, os cabritinhos aparentavam estar muito felizes... Bééé´, bééé bééé!... Como se festejassem pelo passeio em curso. Mal sabiam que estavam com as horas de vida contadas, pulavam de um lado para o outro, bééé, bééé, bééé!... Faziam uma festa danada na carroceria do caminhão.
Ao chegar ao lado de Rio Biguá, com as chuvas torrenciais que haviam caído durante toda a noite passada, encontrava-se o rio com suas águas barrentas em plena cheia, quase saindo do leito... Não havia uma segunda alternativa, a não ser passar pela velha ponte.
O tio Nerso, teimoso como era foi em frente, pisando fundo no acelerador, com as rodas do caminhão acorrentadas, espalhando lama para tudo quanto era lado... Não deu outra, a ponte velha não suportou o peso do caminhão, caiu. O veículo tombou ficando entalado de ponta cabeça no estreito barranco, atirando os pobres cabritinhos por água abaixo, sendo arrastados pela correnteza do rio. Todos morreram afogados. O tio Nerso conseguiu se salvar.
Comentam as pessoas que passam pelo local, em altas horas da noite ouvirem os desesperados berros dos cabritinhos, na agonia da morte, como que a pedir socorro, bééé, bééé, bééé!... São histórias que o povo contam e afirma serem elas verdadeiras.
OS MONSTROS DA OLARIA
Em outra época havia na redondeza dezenas de olarias as margens do majestoso Rio Tibagi. Com a construção da famosa Represa Capivara foram todas demolidas e os barreiros de argila foram engolidos pelas águas lago. Hoje só restam as histórias contadas, dos tempos em que os barracões tinham múltiplas finalidades, além da fabricação das telhas e dos tijolos eram palcos de festas de casamentos, festas juninas, batizados, carnavais, cantorias dançantes... Registram-se também desses eventos marcantes além dos momentos de confraternizações: Brigas inesquecíveis, quase sempre provocadas pela maldita cachaça, ou ciumeira danada entre casais envolvendo terceiros para atiçar as intrigas. O trabalho nas olarias era diurno, exceto o de queimar o forno que varava a noite. É bom que se diga que é entre uma fornalha e outra havia um intervalo, para o resfriamento dos fornos. Em seguida a tarefa era retirar do forno os tijolos ou telhas prontos para serem comercializados. Era solitário o trabalho noturno de queimar os forno. Exigia do operário uma atenção redobrada, pois a caloria do forno tinha que estar no ponto certo para se obter um produto de qualidade. Contam os remanescentes desse árduo trabalho muitas histórias noturnas, principalmente de aparições; ora eram as famosas luzes que apareciam e desapareciam repentinamente; ora eram pedras atiradas sobre os telhados dos barracões; ora eram vultos estranhos que transitavam pela estrada de acesso... Poucas pessoas se aventuravam a realizar essa tarefa noturna... Certa ocasião um desses trabalhadores foi surpreendida pelos latidos dos cachorros que vinham pela estrada afora na direção do barracão onde se ocupava com os seus afazeres... Os cachorros latiam como se estivessem perseguindo um bicho selvagem de grande porte. Quando a matilha, em disparada passou pelo barracão, qual foi o seu espanto... Inacreditável! ... Além dos cachorros, ia à frente a correr em passadas largas um vulto como se fosse de um homem, o mais estranho é que só se via as duas penas, bastante altas, o restante do corpo era totalmente invisível... O mesmo homem conta que em outra ocasião, lá pelas tantas da madrugada, de uma noite de lua cheia, também os cachorros puseram-se a latir no terreiro... Eis que, na estrada surgem dois vultos como se fosse um homem e uma mulher com as cabeças cobertas por um pano branco. Fixou bem o olhar, sem desvendar do que se tratava, era uma visão um tanto sinistra... Pensou: deve ser um casal de namorados em fuga dos pais... Antes mesmo de concluir o pensamento os dois vulto se agigantaram de maneira assustadora, fincando no mínimo três vezes maiores e se foram pela estrada afora causando espanto até mesmo nos cachorros que pararam de latir e retornaram ao barracão grunhindo com os rabos entre as penas... Ficou abobalhado, sem saber o que fazer. Voltou à boca do forno para colocar mais lenha, tremendo que nem vara verde e com os cabelos arrepiados... Dizem que depois daquela noite tenebrosa, não pensou duas vezes, no outro dia pediu as contas ao dono da olaria e procurou outro emprego distante daquela paragem. Hoje, ao redor onde era a antiga olaria, restam algumas casas de madeira, quase sempre desabitadas... Os que tentam ali morar fazem do seu paradeiro, como se fossem cometas errantes. Tratam logo de se mudar para outras localidades, pois as aparições de vultos completamente estranhos são ainda constantes nos dias de hoje.
O LENHADOR FANTASMA
Contam que no sítio da família de um dos pioneiros da região, havia uma mata remanescente da antiga floresta que cobria todas as terras do Norte do Paraná. A referida mata encontrava-se localizada a beira de um caminho na Água do Tigre.
Um Senhor, muito conhecido nas adjacências ao passar por aquelas paragens em altas horas da noite, retornando a casa em que morava vindo de uma venda que ficava a beira de uma das rodovias que liga o Estado do Paraná com o Estado de São Paulo. Ainda hoje sente-se confuso ao tentar explicar exatamente o que aconteceu naquela noite sinistra. Só sabe que foi surpreendido por um barulho muito estranho, como se fosse de um animal de grande porte que o acompanhou por toda e extensão da mata. Vinha a poucos metros de distância, quebrando galhos das árvores e pisando forte nas folhas secas amontoadas no chão. Nada pode ver, o negrume na mata era total... Acelerou os passos, quase que a correr e o fantasma fez o mesmo. Sentia o coração em descompasso, batendo acelerado, com as pernas bambas e os cabelos arrepiados... Já totalmente fora da mata em meio ao cafezal, sob a luz da lua e o brilho das estrelas, correndo sem olhar para trás, a sensação que sentia era a de que o tal monstro ainda o perseguia pela estrada deserta.
Também nessa mesma mata os moradores ao redor afirmam já terem ouvido o mesmo barulho. Há quem diga ter visto um monstro assustador que costuma aparecer nas primeiras horas da madrugada, principalmente nas noites de lua cheia. Outros dizem que nessa mesma mata, para completar os mistérios ouve-se quase que seguidamente, sempre após a meia noite, golpes de machado, como se fosse de um lenhador... Até chegam afirmar, que em tempos passados, um homem que cortava lenha no meio da mata morreu misteriosamente abraçado com o machado ao lado de um monte de lenha. A partir de então começaram os boatos sobre o lenhador fantasma O mais sinistro é que os moradores ao redor, por várias vezes, a luz do dia vasculharam, palmo a palmo o local, a procura de algum vestígio... Nada encontraram. Continua até nos dia de hoje os mistérios sobre a mata mal assombrada.
Quem se habilita a desvendá-los? ...
O LOBISOMEM DA PORTEIRA
Certa avó, antes de dormir contava a sua neta um fato tenebroso acontecido no lugar onde moravam. Uma das histórias muito estranha e assustadora, Afirmava ela ter acontecido exatamente num sítio, um tanto distante da cidade. A avó, um tanto idosa não foi precisa em explicar ao certo, exatamente em que lugar da zona rural de Sertanópolis deva ter ocorrido. Dizia avó que naquele ano durante o período da quaresma os cachorros passaram a latir de uma forma muito estranha e os demais animais se comportavam completamente diferente. O mais estranho é que os moradores da região, quando passavam por certa porteira na estrada, que dava acesso a várias propriedade de terra, quando alguém, na calada da noite se aproximava da porteira ela abria sozinha fazendo aquele rangido arrepiante inhééé e na capoeira ao lado ouviam-se gemidos e gritos sinistros. Diziam ser de pessoas que haviam sido atacadas e assassinadas por um lobisomem que rondava no local a procura de fazer novas vítimas. A notícia se espalhou por toda a redondeza, causando pânico geral, principalmente nas crianças. A avó contava também a sua neta que na fazenda vizinha, uma moça muito bonita havia se casado com um rapaz desconhecido. Logo nos primeiros anos de casados, a jovem mãe deu a luz a uma linda menina. Nem bem havia acabado a sua dieta, numa noite de quaresma convidou o marido para fazer uma visita aos seus pais que moravam numa outra fazenda ao redor. O convite não foi aceito pelo marido. Ele não desfrutava de boa convivência com o sogro e nem com a sogra. Tinham lá a suas rusgas mal resolvidas, desde os tempos de namoro... Então a mulher resolveu ir sozinha, levando a criança no colo, Já era noite, pela estrada afora, na companhia das estrelas, seguia em frente. Ao passar pela sinistra porteira foi atacada por um monstro muito estranho peludo de olhos vermelhos como brasa... O monstro pôs-se a a agarrar convulsivamente a manta do bebe, como que querendo tomá-la de seus braços. A mãe, toda aflita começou a gritar desesperadamente por socorro... No clamor do desespero, um único nome que era citado, era nome do seu marido... O mais estranho é que ele misteriosamente, sem explicação apareceu ao mesmo tempo em que o monstro desapareceu. Naquela noite sinistra o casal seguiu em frente, ela ainda tentava se recompor do susto que havia levado com a criança no colo que chorava sem parar. Ele, estranhamente não trocou uma só palavra com a esposa. Foram ter a casa do sogro.Ela tentou dormir ao lado do marido e da criança, num dos aposentos do casebre. Logo cedo, a esposa foi a primeira a se levantar... Antes mesmo de abrir janela do quarto, pela pouca claridade que entrava pelas frestas da janela, notou algo muito estranho, o marido não estava mais ao seu lado e no local que antes ele havia se deitado sentiu um cheiro muito estranho. Ficou pela segunda vez toda arrepiada sem explicação, sobre o que estava acontecendo... De uma coisa ela tinha certeza, a de que não estava louca. Mesmo assim ficou a se questionar será mesmo que o meu marido, pai da minha filha era o tal lobisomem que todos comentavam? De volta a casa onde moravam, passou a primeira semana, sem saber que decisão deveria tomar... Pensou, pensou e finalmente tratou de colocar um fim no casamento, mesmo porque já há muito não viviam em harmonia. Ao lado da filha, voltou a morar com os pais, que já haviam se mudado pra cidade. As aparições do lobisomem da porteira ainda continuaram por muitos anos a amedrontar os moradores da região.
Assinar:
Postagens (Atom)