No alto de um morro, o mais imponente de todos de uma vasta região, logo nos primeiros anos em que o sertão do Cerne começava a ser desbravado foi construída ali uma capela, propositadamente na divisa de duas propriedades rurais. Pode se afirmar que essa capela foi sem dúvida uma das pioneiras a ser construída na zona rural do Norte Novo Paranaense, se bem pesquisado for, pode levantar o título de ser a primeira. Eram os proprietários muito devotos de São Sebastião, que por certo tempo tornou-se o padroeiro do bairro. É importante ressaltar que a capela não foi construída por acaso, e nem foi escolhido o alto do morro para que o Santo tivesse uma visão maravilhosa do seu padroado e sim pela graça de uma promessa alcançada. O proprietário da margem esquerda do templo, um dos filhos foi cometido por uma grave doença. Já desenganado pelo único médico da cidade, no leito de morte a espera da hora cruel... Milagrosamente o rapaz foi curado e o templo mais que depressa foi edificado. Orgulhosamente tive a honra de ser batizado nela e dela guardo vagas recordações dos meus tempos de menino. Por duas décadas a capela ali reinou soberana... Uma vez por mês o padre da paróquia local, sempre no segundo domingo de cada mês celebrava a Santa Missa. Nas noites de sábado e domingo, rezava-se o terço e uma vez por ano, no dia de São Sebastião acontecia uma grandiosa festa. Como o local era de difícil acesso, estabeleceu-se um conflito entre os moradores do bairro. Travam uma ferrenha discussão, que se arrastou por alguns anos... Os mais tradicionais defendiam a continuidade da capela de madeira naquele local, precisando apenas de uma reforma urgente... Outros defendiam a construção de um novo templo, à beira da estrada. Uma capela maior de alvenaria, arquitetura moderna. Como a maioria das famílias era de origem portuguesa e moradores da margem direita do Rio Cerne pode-se concluir que era notória a preferência por mudanças, não só do local do templo, estes defendiam Nossa Senhora de Fátima como padroeira do Bairro. Foi uma disputa danada. Venceram os devotos de Nossa Senhora de Fátima. O novo templo foi construído e a velha capela de São Sebastião, com o passar dos anos ficou pode se dizer abandonada. O velho templo foi sendo consumido aos poucos pela umidade das chuvas, corroído pelos cupins... Quando já ameaçava a desabar, foi então demolido e no local construído uma capelinha para proteger do mau tempo, a imagem do santo e também para que a promessa do proprietário não fosse quebrada. Mesmo assim os devotos iam até ao local, acendiam velas, faziam orações, principalmente no dia vinte de janeiro, o dia consagrado pelos católicos a São Sebastião. Alguns anos depois a capelinha ficou esquecida, a capoeira cresceu ao redor... O mais estranho é que os moradores da região, privilegiados pela visão que tinham daquele morro começaram anotar, ao menos uma ou duas vezes por semana, que a capelinha, nas primeiras horas da noite ficava iluminada... Como se nela houvesse centenas de velas acesas. A princípio, nada de anormal. Acreditava-se que moradores ao redor iam até o local fazer suas orações. Mas os boatos começam a ficar desencontrados. Os mais supersticiosos já davam conta de que era vingança do Santo pelo abandono templo... Quase todos os moradores da região, desde os crédulos até os mais incrédulos confessam terem visto o sinistro mistério, quase sempre no mesmo horário da noite, quanto ao dia da semana não havia tanta regularidade. Comentava-se também que ao redor da capelinha haviam sido sepultados, nos primeiros anos de colonização vários cadáveres, principalmente de crianças recém-nascidas e que podia ser também vingança dos mortos. Certa ocasião, alguns destemidos moradores, numa dessas noites de visagens resolveram colocar um fim no falatório que já ultrapassa as fronteiras do bairro... Após o combinado, munidos de lampiões foices e facões, subiram o morro. Venceram com dificuldade a capoeira que tomava conta da abandonada estrada de acesso à capela. Quando lá chegaram encontraram tudo na mais profunda escuridão... Nenhuma vela acesa, somente a imagem solitária de São Sebastião, dentro do seu oratório e nada, em meio às teias de aranha. A visão sinistra da capela iluminada persistiu por muitos anos... Até que no local foi construída outra capela, muito bonita e imponente... A imagem de São Sebastião foi restaurada. O novo templo passou a ser um ponto, não só religioso como também turístico... Agora, claridade à noite, somente quando as lâmpadas elétricas são acesas, em datas especiais, ou quando os devotos vão ao local para fazerem suas orações.
quinta-feira, 26 de julho de 2018
LUIZES NA CAPELA ABANDONADA
No alto de um morro, o mais imponente de todos de uma vasta região, logo nos primeiros anos em que o sertão do Cerne começava a ser desbravado foi construída ali uma capela, propositadamente na divisa de duas propriedades rurais. Pode se afirmar que essa capela foi sem dúvida uma das pioneiras a ser construída na zona rural do Norte Novo Paranaense, se bem pesquisado for, pode levantar o título de ser a primeira. Eram os proprietários muito devotos de São Sebastião, que por certo tempo tornou-se o padroeiro do bairro. É importante ressaltar que a capela não foi construída por acaso, e nem foi escolhido o alto do morro para que o Santo tivesse uma visão maravilhosa do seu padroado e sim pela graça de uma promessa alcançada. O proprietário da margem esquerda do templo, um dos filhos foi cometido por uma grave doença. Já desenganado pelo único médico da cidade, no leito de morte a espera da hora cruel... Milagrosamente o rapaz foi curado e o templo mais que depressa foi edificado. Orgulhosamente tive a honra de ser batizado nela e dela guardo vagas recordações dos meus tempos de menino. Por duas décadas a capela ali reinou soberana... Uma vez por mês o padre da paróquia local, sempre no segundo domingo de cada mês celebrava a Santa Missa. Nas noites de sábado e domingo, rezava-se o terço e uma vez por ano, no dia de São Sebastião acontecia uma grandiosa festa. Como o local era de difícil acesso, estabeleceu-se um conflito entre os moradores do bairro. Travam uma ferrenha discussão, que se arrastou por alguns anos... Os mais tradicionais defendiam a continuidade da capela de madeira naquele local, precisando apenas de uma reforma urgente... Outros defendiam a construção de um novo templo, à beira da estrada. Uma capela maior de alvenaria, arquitetura moderna. Como a maioria das famílias era de origem portuguesa e moradores da margem direita do Rio Cerne pode-se concluir que era notória a preferência por mudanças, não só do local do templo, estes defendiam Nossa Senhora de Fátima como padroeira do Bairro. Foi uma disputa danada. Venceram os devotos de Nossa Senhora de Fátima. O novo templo foi construído e a velha capela de São Sebastião, com o passar dos anos ficou pode se dizer abandonada. O velho templo foi sendo consumido aos poucos pela umidade das chuvas, corroído pelos cupins... Quando já ameaçava a desabar, foi então demolido e no local construído uma capelinha para proteger do mau tempo, a imagem do santo e também para que a promessa do proprietário não fosse quebrada. Mesmo assim os devotos iam até ao local, acendiam velas, faziam orações, principalmente no dia vinte de janeiro, o dia consagrado pelos católicos a São Sebastião. Alguns anos depois a capelinha ficou esquecida, a capoeira cresceu ao redor... O mais estranho é que os moradores da região, privilegiados pela visão que tinham daquele morro começaram anotar, ao menos uma ou duas vezes por semana, que a capelinha, nas primeiras horas da noite ficava iluminada... Como se nela houvesse centenas de velas acesas. A princípio, nada de anormal. Acreditava-se que moradores ao redor iam até o local fazer suas orações. Mas os boatos começam a ficar desencontrados. Os mais supersticiosos já davam conta de que era vingança do Santo pelo abandono templo... Quase todos os moradores da região, desde os crédulos até os mais incrédulos confessam terem visto o sinistro mistério, quase sempre no mesmo horário da noite, quanto ao dia da semana não havia tanta regularidade. Comentava-se também que ao redor da capelinha haviam sido sepultados, nos primeiros anos de colonização vários cadáveres, principalmente de crianças recém-nascidas e que podia ser também vingança dos mortos. Certa ocasião, alguns destemidos moradores, numa dessas noites de visagens resolveram colocar um fim no falatório que já ultrapassa as fronteiras do bairro... Após o combinado, munidos de lampiões foices e facões, subiram o morro. Venceram com dificuldade a capoeira que tomava conta da abandonada estrada de acesso à capela. Quando lá chegaram encontraram tudo na mais profunda escuridão... Nenhuma vela acesa, somente a imagem solitária de São Sebastião, dentro do seu oratório e nada, em meio às teias de aranha. A visão sinistra da capela iluminada persistiu por muitos anos... Até que no local foi construída outra capela, muito bonita e imponente... A imagem de São Sebastião foi restaurada. O novo templo passou a ser um ponto, não só religioso como também turístico... Agora, claridade à noite, somente quando as lâmpadas elétricas são acesas, em datas especiais, ou quando os devotos vão ao local para fazerem suas orações.
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