O depoimento é de um aluno que fez o relato ao seu professor. Diz ele ser testemunha ocular do sinistro episódio. Ficou até transtornado, pálido, suando frio enquanto narrava o caso. Sete anos, era a sua idade. Morava no sítio, lá para as bandas da Água do Meio. Na companhia do irmão mais novo gostavam de brincar ao lado de um poço que diziam ser mal assombrado. O irmão mais velho não dava crédito aos boatos que circulavam na boca do povo, enquanto que ele, um pirralho banguela morria de medo das histórias contadas. Os dois irmãos passavam parte dos dias se divertindo num balanço que o pai havia amarrado numa das árvores, plantadas a propósito, para tornar sombrio, o poço que tinha muita serventia para os moradores do sítio, quanto ao fornecimento da água que consumiam. Comenta-se ser comum, naquele local, a aparição de um casal de namorados diz a lenda que os familiares da moça não concordaram com o namoro e os dois jovens apaixonados, desgostosos resolveram colocar um trágico fim em suas vidas, com uma dose excessiva de veneno. Foram encontrados mortos naquele local, em meio ao gramado, abraçados como se dormissem um sono profundo. Certo dia, no vai e vem do balanço, sem se preocuparem com os boatos, o irmão mais velho empurrava o mais novo, dando-lhe mais impulso, enquanto que ele se deliciava abraçado na corda... Nisto, para o seu espanto avistou dois vultos, vestido de branco, trocando carícias de amor, sentados na grama, ao lado do poço... Não teve dúvida de que se tratava de uma visão muito estranha, tantas vezes já anunciada e que jamais desejou vê-la em momento algum... Quis gritar a voz não lhe saiu... Pálido como estava o irmão dava-lhe ainda mais impulso na corda. Os seus pés já passavam rente à cobertura do poço. Pior ainda, atravessava pelos vultos, tanto na ida como na volta, sem sentir a presença dos corpos. Era uma sensação muito estranha. Na agonia que se encontrava, sem poder falar, arrepiado da cabeça aos pés sentia que a qualquer momento ia ter uma vertigem... O irmão que empurrava pelo balanço achava que estava apenas com medo de ser arremessado para longe, de tão alto que balançava... Valendo-se do bom senso resolveu diminuir a força até que o balanço parasse de se movimentar... Foi então que ficou sabendo do fato acontecido contado pelo irmão. Saíram os dois correndo como cabritinhos em dia de chuva, na direção da casa, sem olhar para trás, tamanho era o medo que sentiam. Abandonaram para sempre o balanço. Logo em seguida a família veio morar em Sertanópolis. Já se passaram muitos anos, o casal de namorados fantasmas ainda continuam se encontrando misteriosamente ao lado onde existia o famoso poço d`água.
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- A VELHA CIGANA E A BELA MOÇA
- UMA NOITE DE TERROR
- NOITES TENEBROSAS
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- UM VULTO MUITO ESTRANHO
- CERTOS MISTÉRIOS NO CEMITÉRIO
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quarta-feira, 25 de julho de 2018
O POÇO MAL ASSOMBRADO
O depoimento é de um aluno que fez o relato ao seu professor. Diz ele ser testemunha ocular do sinistro episódio. Ficou até transtornado, pálido, suando frio enquanto narrava o caso. Sete anos, era a sua idade. Morava no sítio, lá para as bandas da Água do Meio. Na companhia do irmão mais novo gostavam de brincar ao lado de um poço que diziam ser mal assombrado. O irmão mais velho não dava crédito aos boatos que circulavam na boca do povo, enquanto que ele, um pirralho banguela morria de medo das histórias contadas. Os dois irmãos passavam parte dos dias se divertindo num balanço que o pai havia amarrado numa das árvores, plantadas a propósito, para tornar sombrio, o poço que tinha muita serventia para os moradores do sítio, quanto ao fornecimento da água que consumiam. Comenta-se ser comum, naquele local, a aparição de um casal de namorados diz a lenda que os familiares da moça não concordaram com o namoro e os dois jovens apaixonados, desgostosos resolveram colocar um trágico fim em suas vidas, com uma dose excessiva de veneno. Foram encontrados mortos naquele local, em meio ao gramado, abraçados como se dormissem um sono profundo. Certo dia, no vai e vem do balanço, sem se preocuparem com os boatos, o irmão mais velho empurrava o mais novo, dando-lhe mais impulso, enquanto que ele se deliciava abraçado na corda... Nisto, para o seu espanto avistou dois vultos, vestido de branco, trocando carícias de amor, sentados na grama, ao lado do poço... Não teve dúvida de que se tratava de uma visão muito estranha, tantas vezes já anunciada e que jamais desejou vê-la em momento algum... Quis gritar a voz não lhe saiu... Pálido como estava o irmão dava-lhe ainda mais impulso na corda. Os seus pés já passavam rente à cobertura do poço. Pior ainda, atravessava pelos vultos, tanto na ida como na volta, sem sentir a presença dos corpos. Era uma sensação muito estranha. Na agonia que se encontrava, sem poder falar, arrepiado da cabeça aos pés sentia que a qualquer momento ia ter uma vertigem... O irmão que empurrava pelo balanço achava que estava apenas com medo de ser arremessado para longe, de tão alto que balançava... Valendo-se do bom senso resolveu diminuir a força até que o balanço parasse de se movimentar... Foi então que ficou sabendo do fato acontecido contado pelo irmão. Saíram os dois correndo como cabritinhos em dia de chuva, na direção da casa, sem olhar para trás, tamanho era o medo que sentiam. Abandonaram para sempre o balanço. Logo em seguida a família veio morar em Sertanópolis. Já se passaram muitos anos, o casal de namorados fantasmas ainda continuam se encontrando misteriosamente ao lado onde existia o famoso poço d`água.
UM LOBISOMEM ATRÁS DA MOITA
Já se passaram muitos anos, nos tempos da onça, seu José e um a amigo foram caçar capivara, lá para as bandas do Rio Tibagi. Era uma noite de lua cheia. Já no meio da mata resolveram separar-se, cada um foi para um lado, uma estratégia daqueles dois caçadores, que somente eles sabiam explicar ao certo suas táticas de caçadores noturnos.
Seu José seguiu pelas margens do rio acima ouvindo o barulho sonoro das águas correntes por entre as pedras. Um vento forte sacudiu os galhos das árvores, os sapos coaxavam como se fosse uma orquestra em noite de sinfonia... Com a espingarda engatilhada, pronta para disparar o tiro, mirava até na própria sombra. Tinha fama de nunca errar o alvo... Nisto, ouviu um barulho estranho atrás de uma moita de capim. Com a arma pronta para o disparo, a passos lentos foi ver do que se tratava. Pois até então não tinha medo de nada. Como quem se prepara para uma façanha heroica procurava desvendar o animal que fazia barulho na mata escura. Valia-se de uma lanterna de pouca claridade... O barulho estranho fez estremecer a galhada de pequenos arvoredos, bem próximo de onde se encontrava... Sentiu um forte calafrio que subiu pelas costas, passando pelo pescoço indo parar na cabeça. Deparou-se com um monstro muito estanho: enorme, com os olhos vermelhos, esbugalhados... Ficou pasmo como se fosse uma estátua, sem ter a mínima condição de atirar no suposto fantasma. Quando se recuperou das pernas... Não sabe ao certo por quanto tempo ficou ali parado, cara a cara com a visão sinistra. Deixou o local de cabelos ainda arrepiados. Foi ao encontro do amigo e contou-lhe o fato acontecido, que não acreditou em sua história, pois tinha fama de mentiroso. Mas naquela noite estava falando a verdade.
De uma coisa ele ainda tem absoluta certeza, o tal monstro não era nenhuma capivara... Seria então um lobisomem? ... Isso ele não confirma, mas jura que em toda a sua vida, nunca viu nada semelhante.
O FATASMA NA SALA
Este caso foi contado por um garoto aos seus amigos... Segundo o relato dele, o seu tio dizia que havia um homem muito religioso na cidade de Sertanópolis. Exatamente num dia de domingo, a esposa resolveu passar o dia e a noite na casa dos pais. O marido, alegando estar cansado ficou só em sua casa. A noite foi dormir mais cedo e logo pegou no sono. Lá pelas tantas da madrugada acordou com um barulho muito estranho vindo da sala... A princípio pensou que era o gato de estimação, cujo nome era Tito... O barulho foi aumentando... Aumentando, aumentando e nenhum miado pode ser ouvido. Não, não pode ser o Tito, pensou. O que estava ouvindo, agora mais nítido era o som de uma música muito sinistra... Custou-lhe acreditar, pois tinha absoluta certeza de que havia deixado o rádio desligado antes de se deitar... A música continuou tocando e cada vez mais alto. Temente a Deus como era, levantou-se, a passos lentos e cautelosos foi ver do que se tratava... Quando chegou à sala, acendeu a luz... Santo Deus! ... Deu de cara com um homem muito esquisito, todo de branco, muito pálido. Ainda teve forças para perguntar ao invasor sinistro, quem era e o que estava ali fazendo naquela hora em seus aposentos? ... O suposto fantasma continuou sentado no banco de madeira ao lado do rádio, que ele mesmo jura ter deixado desligado, ouvindo aquela música estranha, alheio ao dono da casa, fumando um cachimbo, soltando baforadas de fumaça. Seria uma alma penada do outro mundo? ... Com certeza! ... Fechou os olhos, apegou-se às orações das quais tinha muita fé... Quando terminou de orar, fez-se um silêncio total no recinto, a música parou de tocar... Abriu os olhos... O homem havia desaparecido, restando apenas um cheiro de fumo forte no ar. Depois daquele dia, antes de dormir, repete sempre as mesmas orações. Nunca mais avistou nenhum fantasma em sua casa.
A LENDA DA GALINHA CHOCA
Dizem que uma mulher, uma antiga moradora da Água do Tigre cuja casa ficava a beira de uma mata e que tinha o terreiro povoado de galinhas foi vítima de um caso inusitado. Desfrutava essa mulher de uma fartura de ovos e aos domingos saboreava com a família um franguinho caipira feito a capricho na panela de ferro, no fogão a lenha. Certo dia, enquanto caminhava a beira da mata, a cata de ninhos das galinhas nas moitas para recolher os ovos, viu uma galinha choca ciscando em meio à terra fofa enchendo o papo de bichinhos. O estranho é que aquela galinha era-lhe desconhecida... Mesmos assim, até ai, nada de anormal. Galinhas chocas eram tantas naquele terreiro que até se perdia a conta... De repente, algo muito estranho lhe aconteceu. A galinha misteriosamente desapareceu... Pior ainda, começou a levar uma surra de chicote nas costas e por todos os lados do corpo. Olhou para todos os lados enquanto apanhava e gritava por socorro, nada viu... Ficaram as marcas da chicotadas. Retornou a casa muito assustada e dolorida. Tomou um banho de salmoura, numa bacia d'água. Contou o fato acontecido aos familiares deixando-os também de cabelos arrepiados. Como as visões as surras de chicotes se repetiram por várias vezes, com a mesma pessoa e com outros membros da família sempre aparecendo misteriosamente antes e sumindo em seguida a tal da galinha choca... Trataram logo de vender a propriedade e se mudaram para a cidade. Ainda, nos dias de hoje, dizem que sinistra galinha choca continua aparecendo no local... As vítimas fogem o mais rápido possível, afim de não levarem nos lombos as dolorosas chicotadas invisíveis. Pergunta-se que ligação poderia ter a galinha choca com as chicotadas invisíveis? Sabe-se que nenhuma comparação pode ser feita... Mas os quem conta esse causo jura ser ele verdadeiro.
A VELHA CIGANA E A BELA MOÇA
Lá por volta das décadas de 1930 e 40 passou por certa cidade da região norte do Paraná. Há que, afirme ter acontecido em Sertanópolis, quando ainda era uma pequena comunidade. Dizem que tudo aconteceu com a chegada de uma caravana com dezenas de ciganos, com todas as suas tradições culturais: Muita dança e previsões sobre o futuro, além de curas milagrosas...
Fazia parte da caravana uma senhora já de idade avançada. Era a mais solicitada de todas as ciganas nas questões de adivinhações. Na sua tenda o que não faltavam eram os curiosos querendo saber sobre o futuro.
Uma jovem muito bonita, julgando-se não levar sorte no amor foi até a famosa cigana tentando desvendar o seu próprio destino. Lá então, foi informada pela vidente de que na sua vida iria ocorrer uma reviravolta completa e que ela iria encontrar o seu verdadeiro príncipe encantado ainda naquele mesmo dia... Mas que ela teria que pagar um preço muito alto, não em dinheiro, em outras coisas de muito mais valor... Mal a jovem havia saído da tenda, deparou-se com um rapaz corpulento, muito bonito... Trocaram um olhar penetrante, indo estremecer no fundo do coração... Foi um amor a primeira vista... Uma paixão avassaladora, uma união de corpo e alma tendo início naquele encontro fatal. Mal sabia que o príncipe era também um cigano. Logo ela também se tornou uma cigana e começou a fazer parte da companhia.
Tal qual como havia sido profetizado, não só as coisas boas aconteceram como também a ruins. Os seus pais ainda desgostosos com as decisões precipitadas da filha, foram vítimas de um terrível acidente de carro morreram todos, até mesmo os seus dois irmãos mais novos.
Inconformada a linda moça retornou a tenda da velha cigana para reclamar da sorte ingrata... Disse-lhe a cigana que a única maneira de reencontrar com os seus entes queridos isso só aconteceria no plano espiritual. Ou seja, ela também teria que morrer... Com o seu consentimento, a velha cigana fez com que a bela moça entrasse em sono profundo e nunca mais acordou... Dada como morta foi o seu corpo sepultado no cemitério local.
Diz à lenda que a sua sepultura é muito visitada até mesmo nos dias de hoje... Não se sabe como e nem de onde, no seu túmulo é comum encontrar objetos ligados às tradições culturais dos ciganos.
UMA NOITE DE TERROR
Tudo aconteceu numa noite de quaresma, num sítio a aproximadamente uns dez quilômetros da cidade da cidade de Sertanópolis, com uma família que morava nas proximidades da capela. Como era tempo de quaresma a família resolveu ir à cerimônia da Via-sacra. Uma parte dos membros da casa resolveu ficar em casa, um filho adolescente e duas filhas ainda criança. Naqueles tempos, energia elétrica na zona rural nem pensar, as noites ainda eram iluminadas pelas famosas lamparinas a querosene. Mal os pais saíram, os irmãos trataram logo de trancar as portas e janelas e juntos foram ouvir o rádio movido à bateria. Como o som estava péssimo devido à bateria está quase descarregada, as meninas foram para o quarto e o garoto continuou na sala tentando sintonizar uma estação que apresentasse menos chiado já que as demais era uma zoeira total. Passara-se certo tempo e o garoto, já com o rádio desligado ainda reinava na sala planejando aprontar uma safadeza mal agourenta com as irmãs que com certeza aquelas horas já dormiam... Matuta daqui, matuta de lá... Nisto foi surpreendido por um barulho muito estranho vindo do interior de uma mata que havia perto da casa... Era um barulho indecifrável, com nada conhecido podia ser comparado... Os cachorros puseram-se a latir como que também persistem algo irreconhecível... O barulho foi aumentando, vindo na direção da casa e os cachorros davam sinais de que estavam também com medo, já não latiam mais, grunhiam... Com certeza estavam com os rabos entre as pernas buscando proteção debaixo do porão da casa... O barulho era confuso e já rondava o terreiro da casa... As meninas acordaram e vieram todas assustadas para a sala. Deram com o irmão de cabelos arrepiados, tremendo que nem vara verde... Ninguém era capaz de falar uma única palavra... Ficaram os três de olhos arregalados paralisados como se fossem estátuas... Lá fora havia um turbilhão de sons e ruídos muito estranhos... Às vezes se parecia com centenas de pessoas falando ao mesmo tempo em línguas desconhecidas... Tinham a nítida impressão do barulho de serrotes cortando madeira, martelos pregando prego... Nessas alturas os cachorros nem davam sinais de vida... Como se não faltasse mais nada começou a ventar e o vento forte zunia na antena do rádio... De repente fez-se um silêncio total... A fumarenta lamparina da sala deu mais claridade ao ambiente... Ouviram a batida da porteira próxima a casa, Já se podia notar os passos e um barulho bastante peculiar... Era o restante da família que já retornavam da capela numa prosa bastante animada... O filho mais velho mal conseguiu abrir a porta, ainda estava pálido e trêmulo, as duas meninas estavam geladas, ainda sem fala, sem saber do que se tratava ninguém foi capaz de dormir naquela noite... Somente no outro dia é que as vítimas contaram aos pais e aos irmãos mais velhos o sinistro acontecimento. Como o mistério nunca mais se repetiu... Ninguém foi capaz de dizer ao certo o que realmente aconteceu naquele sítio, naquela assombrosa noite da quaresma.
NOITES TENEBROSAS
Numa fazenda, distante da cidade, as margens do Rion Tibagi, algo muito estranho acontecia em noites de lua cheia... Era uma fazenda de criação de gado, havia alguns cavalos de sela que eram ousados no trabalho campestre, algumas casas em meio à invernada de capim colonião que eram habitadas pelos peões que cuidavam dos animais... A sede da fazenda, um Casarão de várias décadas estava quase sempre de portas trancadas, pois os fazendeiros moravam na cidade de Londrina... Diziam que nas noites de lua cheia era comum ouvir o assoviar semelhante aos dos boiadeiros enquanto tocavam o gado de um pasto para outro ou de quando eram levados para o curral... Todos ouviam um sinistro assoviar e os cavalos corriam relinchando de um lado para o outro da invernada, o gado aprontava um tropel incontrolável... Os peões mal saiam para os terreiros das casas era como se nada estivesse acontecendo... Tudo ao redor em plena paz, na mais perfeita harmonia, somente a lua prateada no céu dava-lhes as boas-vindas... Mal retornavam aos aposentos, fechavam as portas dos casebres, apagavam as luzes... Pronto! ... Começava tudo outra vez e nada dos mistérios serem desvendados. Para que se confirmasse o mau presságio, no dia seguinte, muitos vestígios eram encontrados... Os rabos e as crinas dos cavalos amanheceram cheios de nós... Galinhas que estavam chocando, os ovos eram quebrados, as porteiras abertas... Os bezerros que estavam apartados amanheceram soltos ao lado das mães... De tudo isso, uma única coisa era certa... Os fatos sinistros se repetiam novamente, com mais intensidades e algumas alternâncias sempre em noite de lua cheia. Certas pessoas dizem que era obra do Saci... Outros afirmam em parte que os animais eram atacados pelos morcegos vampiros. Sendo ou não obra do Saci ou dos morcegos vampiros os acontecimentos sinistros ainda acontecem sem explicação, conforme conta o narrador deste causo.
A LENDA DA MOÇA LOIRA
Alguns Anos atrás uma bela moça loira, de cabelos cumpridos, olhos castanhos, filha de antigos moradores de uma fazenda de café estava prestes a se casar com um rapaz também muito conhecido e respeitado na região. A donzela tinha por hábito passear todas as tardes às margens do rio que dava nome ao lugar, ou seja Couro do Boi. Para os que não sabem o rio ainda tinha, naquela época a magia e o encantamento da era sertaneja. Infelizmente com o advento da mecanização agrícola sofreu toda a malevolência provocada por assoreado criminal. Agora tenta se recuperar tardiamente pela implantação da mata ciliar...,Aquelas paragens deram acolhida a noiva radiante que não cabia em si de tanto contentamento, às vésperas da realização do seu grande sonho. HÁ poucos dias antes do enlace matrimonial, com todos os preparativos prontos para a grande festa, o pior aconteceu. A noiva ficou enferma, cometida de um mal súbito que a levou a óbito quase que repentinamente sem que houvesse tempo para ser hospitalizada. Um fato muito estranho passou acontecer nas margens do rio por onde a moça fazia a suas solitárias caminhadas... Muitos moradores ao redor afirmam já terem visto uma bela mulher vestida de noiva passeando no local. Essa lenda passou a ser contada em toda a região. Se você é daqueles que não tem medo de visões sinistras, sobrenaturais de uma passadinha por lá quem sabe pode ter a sorte de ser contemplado por mais uma das aparições da noiva misteriosa.
UM VULTO MUITO ESTRANHO
Um morador de uma chácara próximo à cidade era do tipo que vivia o tempo todo de mau humor. Sempre xingado a quem estivesse por perto, tratava os parentes e conhecidos com uma ira demoníaca. Tinha por hábito, quase todas as tardes ir até a cidade, pois era chegado numa cerveja. Fazia seu ponto predileto num dos bares, logo na entrada de Sertanópolis... Tomava umas e outras... Quando já estava pra lá de embriagado retornava a casa falando sozinho, com a língua enrolada, uma ladainha incompressível, num linguajar de arrepiar os cabelos. Numa noite de lua cheia, por incrível que pareça não estava tão bêbado como de costume... De repente percebeu que alguém o acompanhava... Supondo ser um dos poucos amigos começou a prosear e a conversa contrariando a sua maneira de ser até que por sinal estava animada... Ao chegar perto de uma porteira, quando foi abri-la... Foi então que percebeu que estava conversando com um vulto que se transformou em uma coisa arrepiante jamais vista em toda a sua vida. Apressou os passos, pela estrada deserta e o monstro vinha atrás fungando em sua nuca, soltando baforadas de fogo, chegando a chamuscar lhe os cabelos mais que arrepiados. Só se livrou por completo do fantasma quando adentrou em sua casa e trancou a porta. Depois do fato acontecido, o tal homem mudou sua rotina, passou a tomar a cervejinha em casa ao lado da esposa e filhos. Dizem até que se transformou numa ótima pessoa.
CERTOS MISTÉRIOS NO CEMITÉRIO
Conta uma neta as amigas que a sua avó enquanto dormia teve um pesadelo. Uma voz misteriosa disse-lhe que devia ir ao cemitério no dia seguinte e que queimasse no cruzeiro uma vela para cada uma de suas costelas. Quando acordou do pesadelo ficou muito apavorada... Sentiu um cheiro terrível que exalava por todos os aposentos da casa. Levantou-se e nada visível foi constatado, somente o odor insuportável teimava em desfiá-la... Retornou ao leito. Não pegou mais no sono durante aquela noite. Rolou na cama sem parar de um lado para o outro até o amanhecer do dia. Assim que tomou o café, mal o dia havia raiado na companhia de uma filha foi ao cemitério queimar as velas conforme as recomendações do pesadelo sinistro. Quando lá chegaram depararam-se com uma menina toda suja e maltrapilha, descalça, cabelos mal tratados perambulando na terra santa dos mortos... A menina solitária andava por entre os túmulos chamando-lhes atenção... Assim que começaram acender as velas ao pé do cruzeiro a menina desapareceu sem deixar vestígio. Passados certo tempo a avó retornou ao cemitério, desta vez acompanhada pela empregada... Quando lá chegaram, ao invés de queimar logo as velas no cruzeiro foram visitar túmulos aleatoriamente de conhecidos e de estranhos... Desta vez a menina maltrapilha não foi avistada... Pior ainda, levou uma bofetada no rosto e outra nas costas... Em plena luz do dia olhou para todos os lados e nada viu... Contou a empregada o fato acontecido que ficou muito assustada, trêmula dos pés à cabeça, trataram o mais rápido possível em acender as velas e retornaram em profundo silêncio a casa... Até hoje a avó não sabe explicar aos netos exatamente como tudo aconteceu. Mas afirma serem os dois episódios acontecidos no cemitério verdadeiros. Visitas ao cemitério, só no enterro de parentes ou de pessoas muito conhecidas... Aos mortos, afirma convicta a avó, que todos tenham o descanso eterno em paz.
A LUZ DO MORRO
O Muito já se falou sobre a luz que aparecia em certo morro de uma região rural intensamente povoada. Já foi contada em livros: em prosa e versos. O mais intrigante é que ela aparecia sempre fazendo o mesmo percurso, no sentido oeste-leste. Assemelhava-se a luz de um lampião sendo carregado por alguma pessoa e não se podia estranhar o fato dela aparecer exatamente em um lugar bastante visível e que havia ali um caminho. Não tinha nem dia e nem hora certa para aparecer, mas o fato acontecia em torno das 20 horas, quando as famílias da região já haviam jantado, e como costume da roça, nesse horário, ficavam os moradores reunidos ao lado de fora, tomando uma fresca, contando causos. Anos após anos, décadas após décadas, a tal luz, uma ou duas vezes por semana fazia o trajeto de rotina... Seria a mesma pessoa carregando um lampião? ... Impossível, mesmo porque o caminho, com o tempo ficou abandonado e intransitável. Tal mistério foi comentado ao padre da cidade: _ Gostaria de ver, só que não acredito em nada de sobrenatural. – Disse o padre. Passados certo tempo, numa noite de sábado o padre foi até a zona rural, onde iria rezar a missa mensal na capelinha do Bairro, no dia seguinte pela manhã. Como de costume pernoitava na casa de uma senhora muito conhecida e respeitada em toda a redondeza. Naquela noite a família hospedeira e o padre estavam reunidos na varanda, enquanto conversavam: _ Padre! ... Padre! ... Olha lá a luz do morro. Falou a senhora anfitriã. O padre olhou na direção e pensou por alguns segundos para ter certeza no que iria falar: _ Meu Deus! ... Quanta ingenuidade! ... Aquilo é um lampião. É gente que vai lá, não sei pra onde... Mas a luz é de um lampião. Mal o padre havia acabado de falar, a luz provou o contrário: tornou-se mais intensa, subiu acima do nível do espigão, rodopiou várias vezes no ar, desceu sobre a mata como se viesse na direção da varanda do casarão numa velocidade espantosa e em seguida, desapareceu misteriosamente antes de atravessar o ribeirão... Logo em seguida retornou reaparecer serenamente ao seu costumeiro caminho, como se nada de extraordinário tivesse acontecido. O silêncio tomou conta da varanda: _ Seja lá o que for não sei do que se trata. Falou o padre. A misteriosa luz continuou aparecendo, ainda por muitos anos... O mais estranho é que as famílias que povoavam o local, com o fim das lavouras cafeeiras mudaram-se para outros lugares do Brasil. A região ficou quase desabitada e a luz desapareceu para sempre.
OS FANTASMAS DO RIBEIRÃO
Conta-se que o fato aconteceu com um garoto, filho de uma família renomada de pioneiros da Água do Cerne. Escreve ele através de memórias literárias, publicada em livro, de sua autoria, já em fase adulta que aos doze anos de idade, traumatizado com a morte do pai e de duas irmãs, ocorridos num curto espaço de tempo. Numa tarde de verão foi até o Ribeirão pescar, seu lazer predileto. Com cuidado desceu o barranco, havia ali um velho tronco de árvore encalhado desde a última enchente, estendia-se no sentido água abaixo, com a parte mais grossa ancorada no barranco, como se fosse uma plataforma. Bem acomodado no tronco da árvore o garoto iniciou a pescaria, como fazia uma ou duas vezes por semana. Isca o anzol, estendeu o caniço ao longo do tronco, deixou-o preso em um dos galhos secos, com a ponta da vara pendendo uns três palmos adiante do fim do tronco, suspensa sobre as águas do rio, sempre na mesma direção, com a mesma quantidade de linha. Era infalível, quase que de imediato começavam os puxões e o pequeno pescador ia colocando peixes e mais peixes sobre o picuá que deixava pendurado num outro galho seco ao alcance das mãos. De repente tudo aconteceu. O garoto sentiu uma sensação de que não estava sozinho, de que alguém se aproxima dele e o espreitava a uma curta distância. Um forte calafrio tomou conta de seu corpo... Um receio pavoroso... Um medo indefinido o impediu de olhar ao redor na tentativa de desvendar o mistério. No outro lado do rio, uma forte lufada de vento agitou estranhamente as moitas de capim colonião, isso ele pode ver, pois estava com olhar fixo na direção. Entretanto, até então, a tarde era mormacenta, sem nenhuma aragem. No mesmo instante, em verdadeira superposição de fatos, parece que vinda da margem oposta, ouviu a mais estranha e irreal das vozes: choro ou canto? Grito ou gemido? Lamento ou acalanto? Seu coração se descompassou. Sentiu as pernas pesadas e imóveis sobre o tronco da árvore, com o olhar embaçado, um zumbido nos ouvidos e a sensação de que algo muito estranho se aproximava dele para um contato incrivelmente doloroso, talvez mortal... Uma brisa fria passou pelo seu rosto como se fosse uma estranha carícia... Sentiu tremor no corpo e ficou com os cabelos ainda mais arrepiados. Não sabe por quanto tempo ali permaneceu... Num esforço supremo conseguiu levantar-se... Subiu o barranco do ribeirão... Atravessou a cerca de arame e saiu correndo na direção da casa e ainda ouvia vozes desesperadas e distantes. Quando chegou a certa distância do ribeirão é que sentiu o alívio de não ter ninguém o seguindo... Embaixo de uma árvore do pasto, jogou-se no chão exausto. Transpirava exageradamente e arquejava em gemidos profundos... Uma forte náusea evolveu-lhe o estômago... Vomitou não sabe quantas vezes. Mais tarde na companhia do irmão, já adulto, desceram até o ribeirão a procura de um bezerro... No local onde pescava o silêncio só não era absoluto devido o barulho das águas batendo nas pedras. No caniço que tinha deixado para trás havia um belo mandi fisgado no anzol, o maior até então pescado, naquele dia sinistro.
O CHORO DA SOGRA MORTA
Em certa rua de Sertanópolis, fora do centro, quando ainda não havia asfalto, em uma casa bem modesta moravam quatro pessoas: marido, esposa, sogra e uma filha, ainda criança. Com a morte inesperada da sogra, a família em pleno luto, algo muito estranho aconteceu naquela residência.
Era uma noite fria de inverno, a mãe e a filha foram dormir mais cedo que o horário de costume, sem a companhia do marido que trabalhava na portaria do hospital. Pois era a noite do seu plantão.
Lá pela madrugada aconteceu o inesperado... Um choro muito sofrido começou a rondar a casa, insistindo em incomodar a mãe, enquanto a filha dormia... O choro sinistro assemelhava-se com o da falecida sogra.
O tal choro não dava trégua e passou a ficar ainda mais alto e arrepiante... Em certo momento a mãe teve a nítida impressão de que alguém havia entrado no seu quarto, acendeu a lâmpada e nada pode ser visto... De repente ela sentiu um movimento na cama como se uma pessoa adulta havia se deitado ao seu lado... Apavorada pôs-se a rezar. Foi então, que o choro voltou a se repetir do lado de fora da casa, lá continuou por mais de meia hora.
A mulher jura que o choro era realmente o de sua sogra... O mais estranho é que os vizinhos mais próximos da casa nada ouviram.
UM ESTRANHO NO VELÓRIO
Alguns anos atrás, numa das igrejas da cidade aconteceu um velório de um homem, morador nas proximidades. Lá pelas tantas da madrugada, em volta do caixão havia apenas três homens e duas mulheres conhecidos do defunto. Nisto chegou um homem, totalmente desconhecido, com cara de poucos amigos, nem sequer cumprimentou os participantes do funeral. O mais estranho é que começou a falar palavrões em altos brados, em seguida arrancou uma faca da cinta e começou a riscar o chão e as paredes do templo fazendo sair faísca de fogo e dava sonoras gargalhadas enquanto insultava a pequena plateia. Um dos amigos do defunto, tremendo que nem vara verde, perguntou-lhe: _ O que o senhor deseja? ... Quer um cafezinho? ... Uma dose de cachaça? ... _ Não vim aqui, nem para comer e nem para beber. _ Respondeu o homem. As cinco pessoas ficaram sem saber o que fazer e nem como pedir socorro. Uma delas ainda perguntou ao forasteiro onde morava: _ Onde moro não é da conta de ninguém. Qual o problema? ... Vim aqui para matar ou morrer! ... Pelo jeito ninguém aqui está a fim de me encarar... Vamos! ... Cadê os machões desta cidade? Todos tremiam da cabeça aos pés, esqueceram-se até do defunto dentro do caixão, próximo ao altar, ladeado de velas acesas. Passados certo tempo, esbravejando, com a faca na mão saiu porta afora da igreja e num segundo desapareceu misteriosamente. A polícia foi avisada, mas ninguém mais viu o tal homem. Depois deste acontecimento, dizem que os defuntos deixaram de ser velados naquela igreja.
OS FANTASMAS DA PEDREIRA
Conta o avó a sua neta, que quando ela veio morar na cidade as ruas não eram asfaltadas e durante a noite eram mal iluminadas. Principalmente as mulheres tinham muito medo de andar sozinho, somente saiam acompanhadas pelos maridos. Onde o avô morava, perto de sua casa, havia um terreno abandonado, no local, antigamente existia uma antiga pedreira já desativada. Com o passar dos anos o capim tomou conta do lugar. Durante o dia era comum encontrar no local um bode preto, muito velho, chifres retorcidos e enormes. Para alguns o velho bode pertencia a um morador ao redor, para outros o bode não tinha dono. Falavam coisas horrorosas do velho animal. Mas os fatos mais sinistros não estavam relacionados com o pobre animal. Em altas horas da noite, quase ninguém se arriscava passar por aquele recanto... Diziam ser comuns aparições sinistras, como a de um caixão de defunto voador, gargalhadas e choros vindos do meio do capinzal e de pessoas que eram seguidas por vultos inexplicáveis. Um jovem estudante jura ser testemunha de um fato muito estranho. Certa noite, quando retornava da escola, ao passar pelo local, vários postes nas imediações da sinistra pedreira encontrava-se com as luzes apagadas. Graças a uma bela lua cheia havia certa claridade. Naquela noite constatou um barulho estranho vindo do capinzal. A princípio achou que fosse o bode ou algum cavalo solto pastando a farta comida. O barulho misterioso foi saindo do capinzal vindo ao seu encontro. Pensou em correr, pois faltavam aproximadamente umas cinco quadras para chegar a casa onde morava. Sem que houvesse tempo começou a ouvir o choro de mulher a poucos metros de distância. Olhou para trás, qual foi a sua surpresa, a rua estava completamente deserta, somente ele e o clarão da lua. Apertou os passos e o choro da mulher invisível o seguia cada vez mais alto e mais próximo aos seus ouvidos Aquele choro desesperado e incontrolável o acompanhou até o portão da casa. Confessa que nenhum vulto pode ser avistado. Com o passar do tempo, a cidade cresceu, onde era a pedreira, a cratera foi aterrada, e construída várias casas de alvenaria no local... Somente restaram as histórias que ainda hoje são contadas.
ALENDA DA MULHER ESFAQUEDA
Certa fazenda, distante da cidade de Sertanópolis, conta os antigos moradores daquela região de que lá vivia um casal, aparentemente muito feliz. Em outra casa, na mesma colônia havia uma família, da qual pertencia um rapaz muito bonito. Quase todas as tardes a mulher, saia a passeios duvidosos, desaparecia propositadamente em meio ao milharal. Na verdade ela mantinha encontros secretos amorosos com o rapaz já citado. Era um caso antigo, muito sigiloso, até que o marido passou a suspeitar da esposa que no mínimo duas ou três vezes por semana, na boca da noite dava as suas escapadas rotineiras. Tudo premeditado, bem arquitetado... Certo dia o marido seguiu-a de maneira muito sutil. Levou na cinta uma faca bem afiada e pontuda. Chegando ao milharal... Qual foi a surpresa? ... Encontrou-a nos braços do amante, aos beijos ardentes. Naquele momento, sentindo-se traído, alucinando avançou para cima da mulher e do rapaz dando-lhes diversas facadas... O rapaz teve mais sorte, foi atingido apenas de raspão, nos braços e na barriga. Todo ensanguentado conseguiu fugir mesmo com dores terríveis provocadas pelos ferimentos e nunca mais retornou retornou a casa onde morava... Tomou rumo ignorado, somente os familiares ficaram mais tarde sabendo do seu paradeiro. A mulher, com o corpo todo alvejado, teve morte repentina no local. Depois do fato acontecido o lugar passou a ser mal assombrado. Afirma-se que muitas pessoas já ouviram, enquanto passam pelo local do crime, a voz misteriosa de uma mulher gritando por socorro.
A ESTRADA MAL ASSOMBRADA
Certa noite escura, um rapaz morador em um sítio perto da cidade, depois de um amoroso encontro com a noiva em sua casa... Enquanto retornava, já depois da meia noite ao passar por uma baixada, onde a estrada era estreita, ladeada por uma reserva de eucaliptos... Mesmo sendo corajoso, naquela noite começou a sentir algo estranho dentro de si enquanto pedalava apressadamente a bicicleta, cujos faróis eram de pouca luminosidade. Lá ia o rapaz sentindo fortes calafrios constantes por todo o corpo, já com as pernas bambas, quase sem força para pedalar o veículo... Até que, vindo do meio do bosque, começou a ouvir um barulho não identificado, quebrando galhos, fungando seguidamente. Pensou ser algo sobrenatural... Diziam coisas tenebrosas acontecidas naquela baixada sombria, histórias de arrepiar os cabelos. Era o rapaz muito religioso, pôs-se a rezar... Criou coragem, tirou do bolso uma lanterna que carregava como prevenção... Focou a luz na direção de onde vinha o barulho, seja lá o que for, pensou... Fortalecido pelas rezas de uma coisa ele tinha certeza: não arredaram os pés do local sem desvendar o mistério... Tudo em volta ficou calmo, nem mesmo o vento sacudia as folhas dos eucaliptos... Não! ... Não pode ser! ... Surdo ele não estava... Tinha absoluta certeza de que não estava ali parado por acaso, inventando fantasmas do além... Procura daqui, procura de lá... Qual foi a sua surpresa... Não era lobisomem, nem mula sem cabeça... O suposto fantasma era um boi que havia fugido do pasto.
COBRA FERIDA PERIGO DOBRADO
Diziam os pioneiros: Em cobra venenosa não se bate para machucar, é preciso matá-la. A primeira pancada deve ser dada no meio para quebrar-lhe a espinha e em seguida esmagar lhe a cabeça, caso contrário ela vinga-se do agressor. De tanto ouvir esse ditado popular um adolescente da roça acabou por herdar um trauma terrível sobre qualquer espécie de cobras. Estava ele e um colega de infância pescando de peneira, nas águas do ribeirão do Cerne. Eram naquela época dois pirralhos atrevidos, sem terem ainda as mínimas noções dos perigos que rondavam às margens do ribeirão com suas águas ainda um tanto misteriosas e selvagens. Naquela tarde de verão contavam com a sorte, nos primeiros minutos de pescaria. O rio estava de boa lua, a cada peneirada que enfiaram sem medo por debaixo das moitas de capim que se acomodavam sobre as águas, as peneiras saiam cheias de lambaris e cascudos. De quando em quando pintava um bagre ou uma traíra de médio porte. Os picuás de panos que carregavam pendurados sobre os ombros já estavam quase cheios de peixes. Nisto, na outra margem do ribeirão avistaram uma enorme cobra pintada, sabe-se lá o nome da peçonhenta! ... Só sabe que o seu colega não pensou duas vezes, tirou do pescoço o estilingue, enfiou a mão na água e apanhou uma pedra do tamanho de uma jabuticaba. Mirou bem a pontaria e mandou ver a pedrada ... A cobra ferida rodopiou por alguns segundos e sumiu. Logo em seguida reapareceu nas águas erguendo mais da metade do seu corpo, com a língua de fora e veio como um raio na direção dos dois pequenos pescadores. O colega conseguiu fugir... Ele, infelizmente não teve a mesma sorte, tropeçou numa pedra e caiu em meio às águas correntes... Tentou-se levantar o mais rápido possível, mas foi em vão à cobra furiosa já estava a menos de um metro de distância, só teve tempo de colocar a peneira como se ela fosse um escudo em frente do seu corpo, protegendo-se dos pés a cabeça. Sentiu a danada tocar no arame da peneira e em seguida desapareceu nas águas do rio... Foi salvo pela peneira. Manquitolando, aos trancos e barrancos, conseguiu sair do rio... Só sabe dizer que os peixes que estavam no picuá foram por água abaixo. Nunca mais praticou esse tipo de pescaria. Numa outra ocasião, ele foi trabalhar sozinho num talhão de café a beira de um mato. Seu pai e seu irmão mais novo foram à cidade. Fazia muito calor naquela manhã, terra úmida que agarrava-se na enxada, formando uma bola de terra pegajosa, seguidamente tinha que limpá-la com uma pequena pá, feita de casca de peroba. Já havia almoçado, enquanto capinava uma rua de café, perto de uma laranjeira rosa carregada de frutos maduros, uma delícia... Quando de repente, ao desmanchar com a enxada um monte de canas de milho saiu do seu precário esconderijo, uma cobra urutu cruzeiro. Só teve tempo de dar-lhe uma enxadada no lombo. Não viu mais nada, a cobra sumiu por debaixo de um pé de café... Ficou com o corpo todo arrepiado. Mais do que depressa foi capinar do outro lado do talhão de café. O medo era tanta que qualquer graveto que lhe revelasse nas pernas já era o suficiente para sentir um terrível calafrio e pular de um lado para outro, que nem um cabrito novo. Nisto, eis o que ele vê novamente... Exatamente a cobra urutu cruzeiro, com o corpo ensanguentando meio que descadeirada, vindo na sua direção... Largou a enxada no local, pernas para que te queira e fincou o pé na estrada, como diziam os matutos moradores na redondeza. De volta a casa, quando lá chegou, sua mãe, muito curiosa quis saber o motivo do seu regresso antes da hora prevista: _ Não foi nada não, mãe. _ O que foi que te aconteceu, _ Existiu a mãe achando evasiva a sua afirmação. Gaguejou, acabou mentindo. Disse-lhe que tinha sido vítima de uma terrível dor de barriga, acompanhada de diarreia danada. A santa criatura foi logo para o fogão a lenha fazer-lhe o abençoado chazinho de marcelinha. Confessa que estava precisando mesmo era de um chá de erva cidreira.
MEIA NOITE NO CEMITÉRIO
Após algumas horas de festa, numa capela da zona rural, na Agua das Sete Ilhas, três jovens da cidade de Sertanópolis retornavam às casas, um pouco passados na cerveja, mais alegres do que embriagados. Ao chegar à entrada da cidade, um deles fez um convite um tanto inusitado de irem ao cemitério, já em horas avançadas da noite e que foi aceito por unanimidade. É que, naquele dia havia morrido um dos bêbados mais famosos de toda a região, o popular “Bituqueiro”. O pobre homem vivia pelas ruas da cidade, pode se dizer, como um mendigo, ganhou o referido apelido, não por acaso, é que saciava o vício de fumar catando bitucas encontradas nas ruas. Com a morte, foi o seu corpo velado na capela do cemitério... Durante o dia, no velório não faltaram os duvidosos amigos. À noite, bem... Alguns gatos pingados passaram pelo local, apenas nas primeiras horas. É bom que se diga que os jovens não éramos amigos do morto... O convite foi feito no sentido de provocação e aceito não por heroísmo e sim por que tinha algo de mistério, uma aventura nunca antes vivenciada. O motorista estacionou a camioneta diante do portão do cemitério. A Rua de acesso ao campo santo dos mortos estava totalmente deserta... Nas casas ao redor o silêncio era total, nenhuma lâmpada acesa, nem tosse dos moradores se ouvia nos casebres, os cachorros estavam de bocas fechadas, só os grilos cantavam... Desceram do veículo calado como três múmias... Era uma noite de poucas estrelas, sem luar... Lá nos fundos do Cemitério avistava-se a capela mal iluminada por uma meia dúzia de velas acesas... As sepulturas ao redor eram como se fossem muralhas negras em meio os arvoredos... As corujas deram-lhes as boas vindas de maneira arrepiante, num cantar funestos sobre as catacumbas... Nisto o relógio da matriz começou a badalar... Foram ao todo doze batidas que ecoaram entre as muralhas do cemitério... Era exatamente meia noite. _ Um deles, o mais medroso pediu para voltar, encerrar por ali aquela aventura fora da realidade. Ficaram confabulando se deveriam ou não voltar dali onde estavam. Diante daquele marasmo, nem ata e nem desata... De repente, como se as pernas tivessem sido destravadas ao mesmo tempo, depararam-se a caminhar pela rua estreito no vale dos mortos, na direção da capela... Passaram ao lado do cruzeiro, onde ainda queimavam alguns tocos de velas... As corujas voltaram a cantar sobre as sepulturas, desta vez, bem próximas de seus ouvidos... Confessam que sentiram um calafrio indescritível dos pés a cabeça... Mesmo assim, seguimos em frente, tudo muito estranho, ao redor. Ao chegar na capelinha não avistaram uma viva alma no seu interior ... Quando adentraram ao recinto deram de cara apenas com o caixão, sem flores e sem adornos, nele, apenas o “Bituqueiro” que dormia o sono eterno, diferente de quando dormia pelas calçadas ou nos bancos da praça. Desta vez, solitário como sempre, esperando o amanhecer do dia, não para mendigar o último trago de cachaça ou o último prato de comida ou catar a última bituca de cigarro e sim para ser sepultado dignamente como um ser humano.
A TAL DA MULA SEM CABEÇA
Era uma noite qualquer da quaresma. Pelos cálculos de um senhor que conta este causo, o fato aconteceu no final dos anos sessenta, quando ainda era estudante ginasial, um verdadeiro caipira dos tempos da brilhantina. Morava numa chácara nas imediações da última rua da cidade... Era aquele recanto da cidade, ainda pouco povoado e com uma iluminação elétrica de péssima qualidade... Quaisquer relâmpagos no horizonte já se apagavam as luzes... Afinal eram tantas as noites sem aulas, que se perdiam as contas. Naquela noite, contrariando todas as previsões, o tempo não estava para chuva, havia um luar encantador, ótimo para se fazer serenata... O jovem retornou a casa mais cedo. Para variar, houve um apagão e as aulas foram dispensadas. Enquanto descia pela rua, a menos de duas quadras, de onde morava. Ao clarão da lua cheia que lhe fazia lembrar com saudades dos tempos da roça. Ouviu o que já era acostumado a ouvir todas as noites, o latir dos cachorros. A matilha estava afinada, com a goela solta, na captura de um animal de grande porte, pelo menos era o que aparentava... Um boi? ... Um cavalo? ... A corrida vinha em disparada, na sua direção. Em pouco segundos o tropel passou por ele... Olhou para todos os lados e nada viu. Logo em seguida os cachorros já latiam a centenas de metros distantes, ouviu se ainda o trotar semelhante ao de um cavalo. No outro dia contou o fato acontecido a um senhor de idade, amigo da família. Afirmou-lhe com convicção de que se tratava de uma mula sem cabeça que rondava a cidade por aquelas paragens.. Depois a sós, pôs-se a meditar sobre o ocorrido... Sendo então, o suposto animal perseguido pelos cachorros uma mula sem cabeça, pelo menos os cachorros e resto do corpo da mula, com certeza teriam sido visto... Só sabe dizer que naquela noite ele estava lúcido. Não estava com febre, muito menos embriagado.
UM CAUSO DE BALCONISTA
Conta um antigo comerciante, sócio de uma venda de Secos & Molhados situada, no centro da cidade de Sertanópolis, quanto ao nome da loja não vem ao caso. Tempo bom aquele, dizia o narrador, em que a cidade desfrutava das benesses cafeeiras... Aos sábados as vendas ficavam repletas com tanta freguesia, principalmente à tarde... Das carrocerias de caminhões, camionetas e tratores desciam centenas de trabalhadores rurais, cada um com os famosos sacos alvejados debaixo do braço e já adentravam nos recintos comerciais a fim de fazerem as compras semanais... Era uma correria danada, um pula, pula; um pesa, pesa; um tromba, tromba... Os balconistas e os proprietários das vendas se viam loucos para darem conta do atendimento ao público. A venda da qual era sócio tinha um ótimo movimento... Enquanto os empregados das fazendas faziam as compras, a vista paga com cheques. Os proprietários por comodismo compravam a prazo. A maioria era mensalista, outros pagavam somente após a colheita, tudo anotado nas famosas cadernetas. Um dos fregueses mensalista pode se dizer, o que mais gastava e o mais pontual quanto ao pagamento, no primeiro dia útil de cada mês, mal as portas da venda eram abertas, lá estava ele encostado o umbigo no balcão, tirando o talão de cheque do bolso, para acertar a conta... Era sem dúvida, um homem cumpridor de suas obrigações, aparentemente um bom esposo e bom pai. Considerado um dos fazendeiros mais próspero de toda a região. Falava-se muito desse homem, coisas de arrepiar os cabelos... Diziam que havia vendido a alma ao diabo para ficar rico... Um fato muito estranho deixou o comerciante com a pulga atrás da orelha, um tanto cismado... Nem precisa dizer que era início de mês e que o tal fazendeiro, como sempre foi o primeiro a entrar na venda... O mais sinistro é que naquele dia não cumprimentou a ninguém, aparentava um olhar um tanto preocupado... Pediu a conta, que já estava somada... O comerciante foi até o escritório apanhá-la... Ao retornar ao salão da venda, no balcão ao fundo, onde era acostumado a entrar na grana, tentando ocultar o sorriso, pois aquele dinheiro vinha em boa hora... Qual foi a sua surpresa? ... A fisionomia do homem estava completamente mudada, já havia guardado o talão de cheque no bolso... Disse-lhe com uma voz mudada que só acertaria a conta depois que o "negão” fosse embora com o olhar fixo no canto da venda e já em seguida saiu porta afora sem se despedir... O comerciante ficou abobalhado com o que acabara de ouvir... Olhou na direção do local onde deveria estar o suposto "negão" , não havia nada além das mercadorias sobre as prateleiras... Mais tarde, como se nada tivesse acontecido, retornou a venda e acertou a conta.
A ÁRVORE MAL ASSOMBRADA
Nas ruas centrais da cidade de Sertanópolis, em épocas passadas havia muito mais árvores nas calçadas do que nos dias de hoje. Uma delas se destacava entre todas, não por ser a mais frondosa, muito menos por ser a mais alta, nem a mais bela... Então o que havia de extraordinário nessa árvore? ... Diziam que a tal árvore era mal assombrada. Falavam coisas tenebrosas. Então, aproveitando os boatos sinistros que circulavam na boca do povo, um grupo de amigos acostumados a aprontar traquinagens resolveu pregar um susto nas pessoas que costumeiramente retornavam da igreja, nos finais de semana, lá pelas nove horas da noite. Enquanto isso, os malfeitores, subiram com muita dificuldade na tenebrosa árvore carregando o couro curtido de uma vaca preta, ajeitaram-se nas forquilhas dos galhos a certa altura do chão e lá permaneceram mal acomodados alguns minutos em pleno silêncio. O desconforto era total, mesmo assim não desistiram, até que, pela rua deserta, iluminada apenas pelo clarão da lua, lá vinham os religiosos, numa prosa animada, sem se darem conta do que estava para acontecer... Quando já se encontravam embaixo da árvore foram surpreendidos por um vulto enorme preto que nem carvão despencando-se do alto, batendo de galho em galho, fazendo um barulho danado... As vítimas, muito assustadas aprontaram uma gritaria confusa e incontrolável, colocaram em pânico até mesmo os moradores vizinhos. Os donos da arte premeditada, com medo de serem surpreendidos desceram da árvore o mais rápido possível e saíram correndo carregando o couro nas costas pelas ruas escuras e desertas... Os cachorros, não acostumados com esse tipo de visão puseram-se a latir de maneira muito estranha, os mais afoitos saíram dos quintais e perseguiram o vulto negro em disparada, agora mais rápido ainda para se livrarem das presas caninas que vinham fungando atrás dos calcanhares. Foi uma noite um tanto cômica e tenebrosa que entrou para a história dos moradores do pacato vilarejo. Conta-se até nos dias de hoje este causo engraçado e a árvore carregou sobre o peso de seus galhos a triste sina de mal assombrada, até que veio tombar por terra numa noite de tempestade.
A LENDA DO SAPOCÓ
Todos sabem que antes da formação artificial do Lago Tabocó, antes de se transformar numa bela paisagem turística, no local havia apenas um pequeno riacho, denominado de Taboca, em meio a um pantanal coberto de taboa, cheio de cobras e de milhares de sapos. Em Tempos de chuva os sapos aumentavam de maneira incontrolável, invadiam as casas mais próximas ao criatório. Era sapo de todas as espécies e tamanho para tudo quanto era lado. Quando os moradores das proximidade, alguém ia ao banheiro tinha que olhar bem no vaso sanitário, pois lá era o principal esconderijo dos indigestos animais. Os mais descontraídos eram surpreendidos constantemente com eles pulando por entre as pernas. Quando tal fato acontecia com uma mulher... Valha-me Nossa Senhora! ... Era uma gritaria de botar os bofes para fora. Certa ocasião, após uma longa temporada de chuva, dia e noite sem parar, em que até parecia o prenúncio de um novo dilúvio... Nas noites escuras, enquanto a chuva caia sobre a terra, milhares de sapos entoavam à famosa orquestra ao redor do riacho.desta feita já represado em fase de formação do lago. Em uma das casas, nas imediações, quase já tomada pelas águas que não parava m de aumentar, os moradores passaram a sentir um gosto estranho na água que bebiam. Havia uma reclamação generalizada, até que o filho mais velho resolveu subir na parte superior do forro da casa... Ao abrir a caixa d’água... Cruz credo! ... Encontrou para seu espanto, vinte sete sapos mortos... Mesmo com náusea teve o capricho de contá-los. A notícia provocou nos moradores da casa uma epidemia incontrolável de vômitos. A partir de então os sapos passaram a ser considerados uma praga... Não se sabe ao certo, mas há quem afirme vir daí um outro nome dado ao lago que não vigou, ou seja Lago Sapocó.
A LENDA DAS MULHERES FOFOQUEIRAS
Num sítio, um tanto distante da cidade, moravam três famílias. Enquanto os homens trabalhavam na roça as mulheres passavam o dia fazendo fofocas, pior ainda colocavam os maridos, uns contra os outros. A fofoca era tanta e cada vez mais maldosa, até que numa tarde a coisa esquentou de fato no terreiro de café e começou uma discussão danada. A briga ficou feia. Quatro corpos ficaram mortos estendidos no chão. Dois irmãos e dois cunhados perderam a vida a golpes de faca e de foice. Essa briga aconteceu na década de 1950, quando a lavoura de café entrava em declínio na região. Os assassinos se apresentaram ao inspetor de quarteirão do bairro que os encaminhou até a delegacia. Foram julgados e condenados a pagar pelo crime que cometeram. Passaram longos anos na cadeia. Foi uma triste intriga de famílias que acabou em tragédia, abalando os moradores da redondeza e o local passou a ter fama de mal assombrado. Dizem que os fantasmas dos mortos habitam no local do crime e que suas almas penadas se apresentam de várias maneiras sinistras causando pânico nos transeuntes que passam por lá em altas horas da noite.
A FOSSA MAL ASSOMBRADA
No dia 20 de abril de 1988, na parte da tarde, um garoto sem os cuidados da mãe caiu numa fossa, um tanto profunda, escancaradamente aberta e morreu afogado em poucos minutos sem que lhe fosse prestado socorro. Foi um pânico total na vizinhança. Os familiares aflitos, desatinados, diante da tragédia não sabiam o que fazer. Durante o velório muita gente compareceu. A pobre mãe, desconsolada e se sentido culpada pela morte do filho chorou por muito tempo. Nos dia de hoje, muito ainda se fala sobre fato acontecido. Há quem afirma que o lugar ficou mal assombrado. Comenta-se que em altas horas da madrugada, ecoando do fundo da fossa, ouvem-se os gritos desesperados de uma criança pedindo socorro. Infelizmente a lição não foi aprendida. Sendo ou não a fossa mal assombrada, isso não chega a ser relevante; o pior é que ela continua aberta, exposta ao perigo. A qualquer hora poderá acontecer no local uma nova tragédia,
A LENDA DO PADEIRO FANTASMA
Há muitos anos atrás havia certo padeiro que passava pelas ruas de sua cidade, nas primeiras horas da madrugada entregando os pães, principalmente para os fregueses mensalistas... Era o homem um tanto estranho, magro, muito pálido, de pouca conversa. Dizem que tinha uma das orelhas cortadas. Raramente era visto durante o dia. Era dono de uma carroça que era puxada por um cavalo pangaré, de pelos arrepiados e de cor branca, com uma pisadura no lombo. De repente, o misterioso padeiro sumiu, sem dar notícia do seu novo paradeiro, nem mesmo às contas que tinha para receber foram acertadas... Começaram então a surgir os boatos desencontrados. Algumas pessoas passaram afirmar que ele havia se mudado para uma outra cidade. Outros mais trágicos comentavam que havia sido assassinado por motivo de roubo. Há quem afirmasse que o seu desaparecimento foi provocado por uma terrível maldição imposta pela própria mãe. A verdade é que o homem noctívago sumiu assim como desapareceu também a carroça e o cavalo. Passados certo tempo, numa madrugada, lá pelas 4h., pelas mesmas ruas da cidade, como era de costume os moradores foram despertados novamente pelo barulho da carroça e pelo sininho que o cavalo carregava pendurada no pescoço... Os boatos começaram a fervilhar na boca miúda. Para alguns, tratava-se de um outro padeiro tentando ocupar o espaço deixado pelo anterior, para outros, mais ligados a crendices tratava-se do fantasma do padeiro que havia retornado para vingar-se do preconceito e das calúnias, das quais sempre fora vítima. Nas madrugadas seguintes, sempre no mesmo horário, nas mesmas ruas, o barulho da carroça e do cavalo com seu sininho voltou à rotina... Até que, um dos antigos fregueses resolveu levantar-se de madrugada para comprar os pães para o café daquela manhã... Até aí, nada de anormal. Foi até a rua, esperou pelo padeiro que vinha em sua direção. Fez parar a carroça que era puxada pelo mesmo cavalo pangaré e pediu ao padeiro a quantia de pães, que era acostumado a comprar. O padeiro ao entregar-lhe a mercadoria, quando se virou de frente... Cruz, credo! ... O freguês deparou-se com a mais sinistra visão... Ali, a menos de meio metro de distância viu apenas a capa e o chapéu do padeiro flutuando no ar. Apavorado retornou a casa sem os pães, que foram involuntariamente atirados na calçada. Ao passar pelo portão, virou-se novamente para o lado da rua a fim de confirmar se realmente não estava tendo uma alucinação. Nada mais pode ver. Nem carroça! ... Nem cavalo! ... Nem os pães! ... Tudo sumiu num piscar de olho. Somente o sininho seguiu tocando pela rua deserta. O mais estranho, é que muitos anos já se passaram, ainda nos dias de hoje, há quem afirma que o tal padeiro fantasma ainda circula pelas ruas da cidade.
O FATASMO DO CHAPEU
Contam que numa das famílias de pioneiros da região, havia um homem muito mal humorado, de pouca conversa, sempre às turras com a esposa e com os filhos. Seu nome, bem... Prefere-se mantê-lo em segredo. Como era de costume, saia de casa quase todas as noites. Cumprido a rotina, naquela tarde deixou o serviço da roça, no horário de sempre, chegou a casa, tomou banho, trocou de roupa, jantou e saiu porta afora sem se despedir da esposa e dos filhos. A pobre mulher, desconsolada, cansada da vida que levava ao lado daquele traste marido jogou-lhe um rosário de pragas que não convém repeti-las... O marido já ia distante da casa, ainda ouvia as rezas malditas da esposa mal amada... Já acostumado, não dava ouvido ao falatório que deixava para trás e foi até a venda, o lugar preferido de suas andanças noturnas e lá, a luz de um lampião começou a jogar baralho com os companheiros de todas as noites... Nisto entrou na venda um homem completamente estranho com um chapéu preto na cabeça... Não cumprimentou a ninguém e foi logo desafiado a turma a jogar uma partida de truco valendo uma quantia em dinheiro muito acima da qual eram acostumados a jogar... O único a aceitar o desafio foi o homem mal humorado... Jogaram várias partidas, O homem estranho do chapéu ganhou todas... Os espectadores começaram a notar que o ganhador era uma figura muito esquisita. Do seu corpo, mesmo aparentando estar limpo exalava um odor muito forte... Alguém chegou a compará-lo com enxofre... Os mais fofoqueiros que assistiam ao jogo começaram a cochichar pelos cantos venda, de que o amigo havia encontrado alguém, muito mais estranho que ele e que aquela jogatina prometia um desfecho inesperado. Mais tarde, quando todos já haviam retornado as casas, os últimos a deixar o local foram os dois jogadores... Um com certa quantia em dinheiro no bolso e o outro ficou liso, sem um tostão. Nem sequer se despediram, tomaram rumos diferentes. O homem mal humorado, de volta a casa, lastimando-se da má sorte, em pensamentos malignos, por ter perdido tanto dinheiro para um desconhecido, que nem sequer ficou sabendo de onde veio, qual era o seu nome... Ao passar pelo milharal, que ladeava a estrada, numa baixada percebeu um barulho estranho correndo atrás dele, vindo ao seu encontro... Não era homem de fraquejar e nem tinha medo de ninguém, muito menos do sobrenatural. Mas naquela noite enluarada começou a sentir fortes calafrios, dos pés a cabeça... Apertou os passos. O barulho estranho foi ficando cada vez mais próximo, uma voz começou a gritar-lhe, aos ouvidos: _ Corre, Corre! ... Já tomei o seu dinheiro e agora vou beber o seu sangue... E para aumentar-lhe o espanto soltava sinistra gargalhada que se espalhava no milharal, aparentando que vinham ao mesmo tempo de diversos lugares. Olhou para trás... Custou-lhe acreditar no que viu... A menos de cinco metros de distância só avistou o chapéu que flutuava no ar e as gargalhadas se repetiam cada vez mais assombrosas... _ Corre, Corre! ... Vou lhe pegar! ... Quero beber o seu sangue! ... As gargalhadas agora vinham de todos os lados do milharal, como se fosse de centenas de pessoas rindo dele ao mesmo tempo de maneira sarcástica. A coisa foi ficando muito estranha para o seu lado... Não era homem de fraquejar diante do inimigo, mas naquela noite pôs-se a correr pela estrada afora desesperadamente... O chapéu fantasma, flutuando no ar e as gargalhadas o acompanharam até a entrada de sua casa. Esse fato fez nascer um outro homem, nunca mais saiu de casa sozinha à noite e passou a tratar a esposa e os filhos com muito amor e carinho.
O TOCO MAL ASSOMBRADO
Nos tempos em que os cafezais cobriam morros, havia um caminho de acesso a uma estrada principal, onde os moradores dos sítios ao redor eram obrigados a passar. Havia gente sempre transitando, principalmente durante o dia, muito raramente à noite. A beira do caminho podia se ver um toco de uma árvore remanescente da antiga floresta. Em volta a lavoura de café reinava absoluta. Os pés de cafés chegavam a atingir de três a quatro metros de altura e até mais. Era como se fosse um bosque cerrado de arbustos frondosos. Quando alguém passava ao redor do toco, principalmente nas noites de sexta-feira da quaresma ouvia choro e gritos desesperados, vindos do chão, exatamente de onde estava o toco. Por que razão um velho toco de árvore punha-se a chorar e a gritar quando alguém passava por perto? ... Qual seria o mistério? ... Os boatos circulavam na região, atiçando a crença popular... O local era realmente temido, pelo menos pela maioria dos moradores da vizinhança. Um dos homens da redondeza, o mais corajoso resolveu desvendar os mistérios, até então inexplicáveis. Começou a cavar em volta do toco, numa tarde de um dia qualquer, com um enxadão e uma pá... A menos de meio metro de profundidade encontrou uma caveira e o resto de um esqueleto humano bastante desgastado pelo tempo e pela umidade das chuvas... Corajoso como era, resolveu tocar a mão na caveira, antes não tivesse feito! ... Uma voz estranha ecoou do fundo do buraco, repetindo várias vezes à mesma frase: _ Não... Não toque no que não lhe pertence! ... _ Não... Não toque no que não lhe pertence! ... Fechou os olhos, tampou os ouvidos com as mãos, mesmo assim continuava ouvindo os gritos. Era um homem até então destemido, naquele momento pela primeira vez fraquejou, quase borrou nas calças e saiu correndo do local, largando para trás o enxadão e a pá. Contou o ocorrido aos vizinhos que não duvidaram de suas palavras. Acharam melhor levar o acontecido ao conhecimento da polícia local. Esta, uma vez informada do fato sinistro foi imediatamente ao local. Após minuciosa perícia, nada foi desvendado... A ossada humana mesmo sem ser identificada foi enterrada no cemitério. Dizem que o defunto descansou em paz e no local nunca mais ninguém ouviu nem choro e nem gritos misteriosos. Ficaram para sempre as dúvidas: Quem seria o defunto? ... Quem o matou? ... E por que foi ali enterrado? ...
OS FANTASMAS DA MEXERIQUEIRA
Rumo a Represa Capivara, ainda existe nos dias atuais uma estrada de acesso as propriedades as margens do riacho Taboca. Era naquela época uma estrada estreita que ainda passa ao lado do Campo de Aviação. Nas proximidades existiam várias olarias. A travessia do Rio Tibagi era feita numa precária balsa. Logo após o Campo de Aviação, antes de chegar às olarias havia um pé de mexeriqueira... Fora ali plantada ao lado de um toco de árvore pelo já falecido morador do sítio. Cresceu. Tornou-se uma árvore de porte médio, frondosa. Eram famosos os seus frutos. Os transeuntes não resistiam à tentação, enchiam os bolsos e iam pela estrada afora saboreando os suculentos gomos adocicados... Com tamanha freguesia, ainda sobrava frutos para os pássaros... Com o passar do tempo o local que era até então parada obrigatória para os caminhantes, ganhou fama de mal-assombrado... É que ali, ao lado da mexeriqueira foi sepultado um morador também do sítio que havia falecido de uma doença ruim, como diziam na época... Tão estranha era a doença que os vizinhos nem velaram o corpo, logo após os seus últimos suspiro, afoitos escolheram as sombras da mexeriqueira para fazerem o sepultamento... Cavaram uma cova profunda e enterraram o corpo o mais rápido possível com medo de serem contagiados. Como se não bastasse, logo em seguida, um outro morador da redondeza, bem nas proximidades da mexeriqueira, enquanto conduzia uma carroça carregada de mercadorias, às turras com os animais que se negavam a puxar a carga pesada, aos gritos e chicotadas nos muares de pelos arrepiados, com o suor correndo-lhes em bica, descendo-lhes pelas patas, molhando a poeira da estrada... Os animais empacados não cediam à teimosia do carroceiro. Por ironia do destino, num relance do acaso, foi nocauteado por um coice certeiro de uma besta. Seu corpo estrebuchou no chão, em poucos segundos dava os últimos suspiros, sem que ninguém lhe prestasse socorro... Não faltou quem atribuísse a esse episódio como a maldição da mexeriqueira. Ficou o local marcado por duas cruzes, uma bem próxima da outra, enquanto a mexeriqueira alheia aos trágicos acontecimentos, continuava frondosa, mais verde ainda, e a cada outono ficava carregada de frutos saborosos... Pelo receio dos moradores ao redor e dos transeuntes ninguém se atrevia apanhar seus frutos, os pássaros não davam conta de tanta fartura. O chão ficava forrado de frutos apodrecidos que exalavam um cheiro acre que se sentia ao longe. Não tardaram a circular na redondeza boatos sinistros de visagens assustadoras e misteriosas... O local que antes era parada obrigatória na época das mexericas maduras, agora se torna respeitado, tenebroso, até mesmo durante o dia, quanto mais à noite. Certa ocasião, numa tarde, de um dia qualquer, com certeza de outono, um senhor morador nas proximidades, desafiou o dito popular que afirmava que o defunto enterrado as sombras da mexeriqueira atacava as pessoas que tentasse colher os frutos... O homem incrédulo tomou alguns goles de cachaça e na companhia de alguns moleques ingênuos foram até a árvore frutífera misteriosa... Nada de mal aconteceu aos moleques enquanto saboreavam os primeiros frutos descascados... A não ser que, repentinamente... O homem pôs-se a rolar no chão, gemendo, estrebuchando, como se estivesse a morte, cometido de um mal súbito... Os moleques, não acostumados com esse tipo visão começaram a correr e a gritar por socorro... Foi então o homem socorrido... Passado algumas horas, voltou ao seu estado natural e narrou o fato acontecido. Para o espanto de todos, afirmou que havia sido atacado pelo espírito do morto que saiu da cova e se agarrou em seu pescoço tentando enforcá-lo, assim que levou o primeiro gomo de mexerica em sua boca. Essa história afirma-se ser verídica. Outros fatos tenebrosos continuaram a marcar aquelas paragens, até que o pé da mexeriqueira, na soma dos janeiros deixou de existir... Desapareceram também as duas cruzes de madeira plantadas à beira da estrada... Ficaram somente dezenas de histórias que cada um conta a sua maneira.
FOLHAS RELUZENTES
Certa ocasião, nos tempos da onça em que a caça era farta e ainda havia muita floresta, alguns moradores da região, já quase pendurados nas barrancas do Rio Tibagi tinham como hábito, em noites de lua cheia, caçar tatu. Já passado da meia noite, os cachorros da colônia puseram-se a latir e tomaram rumo na direção da floresta. Os caçadores, como de costume levantaram-se de suas camas, deixaram seus casebres, cada um com sua espingarda no ombro, supridas de munição e seguiram na direção da matilha que já latiam a centenas de metros distantes. Era noite enluarada, num céu sem nuvens e de estrelas cintilantes... Os cachorros já iam longe. Os caçadores apertaram os passos, atravessaram pelo pasto, depois pela palhada de milho, logo já estavam diante da exuberante floresta... Chegaram à conclusão, que pelo latido dos cachorros, o animal perseguido não podia ser um tatu... Experientes em caçadas, não foram capazes de desvendar o suposto animal que tinham pela frente. O latir dos cachorros era completamente diferente de todas as outras caçadas... Mesmo assim, não vacilaram, entraram na floresta, na direção da aventura que prometia uma grande surpresa. Mesmo sendo noite conheciam a floresta, até mesmo de olhos fechados...Andaram, andaram pelas trilhas costumeiras mesmo com pouca claridade do luar. O latido dos cachorros foi ficando cada vez mais distante e até que por fim, se fez silêncio total na floresta. E agora? ... Fazer o quê? ... O inquietante silêncio foi quebrado pelo canto funesto de uma coruja. Na sombria mata reinava as copas das árvores entrelaçadas que ocultava a lua e nada de se ouvir o latido dos cachorros, somente a coruja repetia seguidamente seu canto sinistro, um tanto desafiador... Os caçadores então resolveram retornar às casas. Num instante mágico foram surpreendidos por uma visão jamais imaginada... Incrível! ... Era uma visão encantadora... Naquela madrugada, os caçadores deparam-se diante de pequenas arbustos, cujas folhas brilhavam como se fossem banhadas a ouro... Nunca antes haviam ouvido falar em semelhante coisa... Ficaram abobalhados. Apanharam várias folhas dos arbustos que brilhavam nas mãos e que fazia clarear o corpo inteiro... Qual seria o mistério das folhas reluzentes? ... Esqueceram-se do tempo. Ficaram ali encantados com tanto deslumbre. Encheram os bolsos daquelas folhas reluzentes e retornaram as casas iluminados dos pés à cabeça. Ao adentrarem nos aposentos, quando foram narrar o fato acontecido aos familiares... Cadê o brilho das folhas? Estavam com os bolsos cheios de folhas comuns apanhadas na floresta... De uma coisa eles tinham a certeza, a de que não estavam loucos... Mesmo assim, passaram por mentirosos... Foram então confortados, no dia seguinte, por um senhor de idade que lhes afirmou de que eles haviam estado diante de um imenso tesouro escondido e não souberam aproveitar... Indignados pelo azar, a luz do dia e até mesmo em noites de lua cheia vasculharam centenas de vezes a floresta por todos os cantos a fim de reencontrar os arbustos das folhas reluzentes e tomar posse do tesouro... Todas as tentativas foram em vão. Hoje o local é coberto por lavouras, ora de soja, ora de milho e o suposto tesouro escondido ainda não foi encontrado... Será que ele realmente existe? ...
O CAVALEIRO MISTERIOSO
Há muitos anos atrás, nos tempos em que a maioria da população brasileira ainda morava na zona rural, época em que o café fazia a riqueza de muita gente no Norte do Paraná, nesse tempo de muita fartura, por uma estrada deserta, numa noite sem luar, um grupo de jovens retornava de um baile. De repente os jovens, começaram a ouvir o trotar de um cavalo vindo ao encontro. O cavalo e cavaleiro foram se aproximando da malta, que na presença do desconhecido calou-se por completo. Mesmo estando à noite muito escura, de poucas estrelas num céu de nevoeiro esparso, o cavaleiro usava um escuro e estava montado num cavalo da mesma pardo. Percebendo que os jovens, principalmente as moças estavam com muito medo, o cavaleiro misterioso se ofereceu para acompanhá-los. Ninguém disse que sim e nem que não... Enquanto em silêncio todos caminhavam na mesma direção, as árvores ao redor da estrada começaram a pegar fogo e o cavaleiro sinistro a soltar sonoras gargalhadas. Todos se puseram a correr e o cavaleiro atrás incendiando tudo quanto era vegetação e repetindo cada vez mais alto as gargalhadas amedrontadoras... Foi uma noite de terror, jamais esquecida por aqueles jovens. Para confundir-lhes ainda mais as cabeças, as árvores da beira da estrada, no outro dia amanheceram todas verdes e floridas, sem nenhum sinal de fogo. Quem conta esta história confirma que o fato aconteceu exatamente como está narrado.
A LENDA DO CAIXÃO DE DEFUNTO
Há muitos anos atrás, quando por estas bandas, começaram a surgir os primeiros veículos motorizados, _ diziam um matuto ao seu compadre português, num tom de ironia, _ os caixões de defuntos começaram a ser fabricados nos fundos de quintais por exímios carpinteiros. Eram feitos de madeira rústica, revestidos de tecido. De acordo com o falecido a cor variava entre o preto, rosa, azul e o branco.
O defunto era velado deitado sobre uma mesa no centro da sala, ladeado de flores e de velas acesas, com a boca e as narinas entupidas de algodão... Pode-se dizer que era uma cena um tanto desaconselhável para crianças.
Ao findar de uma tarde de verão, de morte súbita, o vilarejo inteiro ficou abalado com a perda de um valoroso pioneiro. Foi então o caixão encomendado a um carpinteiro, morador na zona rural. Foi velado naquela noite dentro dos conformes da época: regado de muita cachaça, café e pão.
No amanhecer do dia, antes do sol raiar, dois portugueses, amigos do falecido ficaram encarregados de buscar o caixão, numa camioneta, cedido por um comerciante, compadre do morto. Fermino era o motorista e Anastácio, o ajudante. Ao adentrar no veículo, quem diz de fazer o motor pegar na chave?... Teve então, o Anastácio fazer o motor dar sinal de vida pelo esforço de seus braços cabeludos e musculosos, pelo uso da manivela. O motor da chambeca pôs-se a dar seguidos estouros como se fosse uma bateria de bombas, meio que engasgado, até atingir o ronco natural... Ai então, Anastácio, suando em bica, entrou na cabine do veículo e seguiram viagem.
_ Catanos!... Acho que bai chubere. Não sei não, se bai dare pra buscare o ralho do caixão do nosso falecido patrício. Falou Fermino, firme no volante, parecendo uma estátua.
_ Pois, pois... Bota-te a correrer com esta geringonça estropiada, com um pé lá e outro cá, num piscar de olho estamos de volta. _ Respondeu Anastácio.
Os dois portugueses iam pela estrada afora, a chambeca resfolegava soltando fumaça... Passado uma boa meia hora, chegaram ao local. Carregaram o caixão em cima da carroceria com o auxílio do carpinteiro e deram inicio ao percurso de volta a cidade... Logo nos primeiros quilômetros, numa baixada, ofereceram carona a um japonês, que ia pela estrada afora, no mesmo sentido. O motorista estacionou o veículo e ofereceu lhe uma carona.
_ I, garantido non!... Tem defunto no caixon!...
_ Não, japonês. O baita ainda está vazio. Falou Fermino.
_ Se chubere podes até entrares nele, para não te molhares, _ Insistiu Anastácio.
Diante da insistência o japonês acabou aceitando a carona. E não é que começou a chover e o japonês mais do que depressa se ajeitou dentro do caixão.
Passado mais alguns quilômetros... Nisto, eis que surge a beira da estrada, um casal acompanhado de uma filha de aproximadamente quatro anos de idade. O homem carregava um cacho de bananas ainda verde às costas. A mulher, um cesto com verduras na mão direita e a menina, com cara de manhosa carregava pendurado no peito, amarrado numa tira vermelha, uma chupeta bastante surrada, já com alguns furos.
Fermino estacionou novamente o veículo e ofereceu-lhes gentilmente a carona que viria em boa hora para os estradeiros, não fosse a aparente visão sinistra que se podia notar sobre a carroceria da camionete:
_ Não vou não, paiê!... Não vou não, maiê!... Tem um defunto nesse caixão! ... Tô com medo! ...
_ Ó ralho de moleca cagona! ... Anda que tem ai nesse caixão um japonês certamente a dormire e que não faz mal a ninguém! ... _ Falou o motorista.
Com muito custo acabaram cedendo ao convite, mesmo porque, a chuva dava sinais de que ia aumentar.
Aos solavancos, pela estrada esburacada, já começando a ficar lamacenta, a moleca ia atarracada aos pais, tremendo dos pés à cabeça com os olhos esbugalhados e com a chupeta atolada na boca, soluçando sem parar.
A esposa e o marido, durante o percurso não trocaram uma só palavra e a chuva fina e teimosa não dava trégua.
Ao chegarem à entrada da cidade:
_ Ó, Firmino. Acho bom parares a geringonça para os nossos amigos descerem
_ Pois, pois! ... Já estava a pensare nisso e que já vou à fazere.
Assim que o veículo parou, com a freada brusca, o japonês acordou e levantou todo assustado a tampa do caixão:
_ I, garantido parô de chove, non!...
Foi um Deus nos acuda em cima da carroceria da camioneta, uma gritaria danada, pularam todos ao mesmo tempo, largaram para trás o cacho de bananas e a cesta com as verduras e pernas para que te queira, desapareceram num segundo. O japonês, sem entender nada, sentado ainda dentro do caixão ficou olhando para a cara dos dois portugueses que riam sem parar da desgraça, não premeditada... Assim que o japonês desceu da camionete:
_ Ai Jesuse!... Vamos logo com o caixão que o nosso amigo defunto já deve ter morrido outra vez de tanto esperar. _ Falou Firmino, já com a camioneta em movimento.
CAMINHANDO AO LADO DO DEFUNTO
Logo nos primeiros anos, quando o café principiava a fazer a riqueza de muita gente. Em que a jardineira do tio Felizardo andava lotada, morro abaixo, morro acima. Em que os porcos, as galinhas e as mercadorias disputavam o acanhado espaço do veículo com os passageiros... Pois é, nesse tempo das vacas já quase gordas, um sitiante resolveu estudar o filho na cidade. O moleque foi desses que deu certo na vida. Alguns anos depois, virou gente importante na região onde sempre morou. Mas isso não vem ao causo agora. O que realmente aconteceu quando ele ainda tinha doze anos de idades. Como já foi dito estudava na cidade e era usuário da jardineira, tanto na ida, na parte da manhã, quanto na volta na, parte da tarde. Nessa época, chovia muito por aquelas bandas, às vezes a jardineira ficava até um mês sem transitar, dado ao estado precário que ficava a estrada, então, o estudante não tinha outra opção, senão fazer o percurso de ida e o de volta a pé, com as pernas atoladas na lama. Numa dessas caminhadas solitárias, em uma manhã chuvosa, o estudante ia pela estrada afora... Quando já havia percorrido um terço do percurso, por um caminho estreito que dava acesso a estrada principal vinha uma procissão um tanto estranha e macabra. Dezenas de homens conduziam de mão em mão um caixão de defunto, todo esborrifado de lama e os condutores vinham molhados das cabeças aos pés. Naquele momento sinistro aflorou-lhe na memória um trauma antigo... Lembrou-se das noites angustiantes em que passava sem dormir, nos primeiros dias após a morte de parentes ou pessoas conhecidas... Era como se o defunto estivesse presente dentro do quarto. Tamanho era o trauma que só se sentia aliviado quando passava o resto da noite no quarto dos pais. Quando a crise dava sinais de que já estava sendo superada... Pronto, lá vinha uma outra notícia de morte e os pesadelos voltaram tona, com forças redobradas. No primeiro momento em que se deparou com aquela procissão indesejável, quase teve uma vertigem, as pernas ficaram bambas, o coração disparou, ficou plantado no meio da estrada como se fosse uma estátua. A chuva aumentava de intensidade, pelas laterais da estrada a enxurrada formavam dois pequenos riachos, que com suas águas barrentas e cantantes avolumavam-se ainda mais na medida em que se aproximavam do ribeirão... A procissão macabra vinha ao seu encontro, não tinha como evitar... Quando se deu por conta já era mais um a caminhar ao lado do defunto. Dava-se para perceber que a carga estava pesada, tanto pelo semblante dos que carregavam o caixão como pelos gritos de socorro: _ Vamos gente! ... Podem botar a mão no caixão que o defunto tá pesado, mas não morde! ... _ Ô, Clodoaldo. Pinga pra turma! ... Tamo molhado da cabeça aos pés, mas a goela tá seca! ... _ Gritava um dos sedentos, viciado na maldita cachaça. O falecido era um senhor na casa dos sessentas anos de idade, empregado de um dos sitiantes da região. Gozava até então de muita saúde, nunca antes havia ido ao médico, de mal súbito veio a falecer sem perder um só quilo de sua farta banha. O estudante estradeiro, já se sentia à vontade. Perdera o medo de defunto. Aquela caminhada deixou-lhe de ser sinistra para ser cômica. _ Não sei o que deu na cabeça do seu Clodoaldo achar de morrer, logo num dia chuvosos como este... Tá um tempo bom para plantar repolho e não para enterrar defunto. _ Falou um dos homens, já cambaleando de tão embriagado que estava. _ Vamos, pessoal. Só já faltam cinco subidas para despacharmos à mercadoria no cemitério. _ Gritou alguém lá do meio do cortejo. _ Vem pra frente, gente. Que o defunto tá pesado e tem que ser carregado. _ Respondeu um dos que estava com a mão na alça do caixão. Até que enfim o cortejo chegou à cidade. Todos molhados e cobertos de lama seguiram pelas ruas principais até o Cemitério Municipal. O estudante, logo na entrada da cidade tomou um outro rumo para mais uma semana de estudos.
A LENDA DA FIGUEIRA MAL ASSOMBRADA
Em plena quaresma, encontravam-se alguns lavradores reunidos num ranchinho de sapé, durante o descanso sagrado, na hora do almoço. Naquele dia o grupo demonstrava-se apático, até que um matuto puxou uma conversa desafiadora, bem ao seu feitio. _ Uai, gente. Até parece que nem perceberam que eu dei uma saída de alguns minutos... Então, sabe? Fui desapertar os intestinos atrás de um pé de café. Naquela luta danada, enquanto o barro não saia, comecei a olhar na direção da estrada e não é que dava para ver direitinho a tal da figueira mal-assombrada, toda imponente e majestosa. Pensei com os meus botões enquanto limpava o rego com um punhado de folha de café: será que são mesmo verdadeiras as histórias que o povo conta? ... _ Se são verdadeiras eu não sei, _ Respondeu o patrão. _ Falam por ai, cada causo de arrepiar os cabelos. Essa figueira reina a beira da estrada desde os tempos do sertão escapou ilesa dos golpes dos machados e das chamas devastadoras das queimadas. É sem dúvida, uma relíquia, uma prova autêntica do quanto era pujante a floresta primitiva e que pelas mãos dos pioneiros fora devastadas... Talvez, quem sabe, por vingança da natureza, o local passou a ter fama de mal assombrado. Durante o dia, _ continuou patrão _ ali tudo é belo, os pássaros cantam divinamente, sobre a vasta ramagem. Os estradeiros descansam no aconchego de suas sombras refrescantes... Mas, quando a negridão da noite acoberta o horizonte e as estrelas salpicam o céu... Quando as corujas e os morcegos tomam posse da árvore e ao redor... Aí então, o local que durante o dia forma um belo cartão postal, torna-se tenebroso e desafiador aos homens de coragem. Certa ocasião, um casal bastante jovem, por motivo de doença do primeiro filho, ainda de colo, saiu depois da meia noite a pé com a criança queimando de febre nos braços em busca de socorro na cidade... Quando passaram por debaixo da figueira... Primeiro ouviram um barulho estranho no ar, era uma mistura de choro com gargalhadas esquizofrênicas... O sinistro barulho se repetiu por várias vezes, cada vez mais próximo e mais arrepiante... De repente, sobre suas cabeças de cabelos eriçados, a poucos metros de altura viram dois vultos flutuando como se fossem dois lençóis voando serenamente, até desaparecer na escuridão da noite atrás da figueira. Em seguida tudo ficou em silêncio, nem mesmo as água agitadas do riacho murmuravam entre as pedras. O casal com a criança enferma no colo, extremamente amedrontados, um agarrado no outro, seguiram em frente, mas confessam que nas trevas da noite nunca mais passaram por aquele local. Em outra ocasião, durante também no período da quaresma, um jovem bastante corajoso, já noivo, preste a se casar foi até a casa da amada numa noite de sexta-feira. Filho de sitiante, como era de costume foi dirigindo a caminhonete do pai, que lhe dava status de mocinho rico. Ao lado da noiva dividindo a sala com a sogra e cunhadas, lá permaneceu até quase meia noite. Ao despedir-se, querendo provar a sua coragem, depois de beijar a mão da noiva falou com ironia: _ Hoje eu quero ver se a tal da figueira é mesmo mal assombrada! ... Foi duramente repreendido pelos familiares da amada, de que com forças sobrenaturais não se deve brincar. _ Que nada! Só tenho medo de gente viva. _ respondeu todo zombeteiro e folgazão. Montou na camioneta, colocou-a em movimento, ligou os faróis disse adeus à noiva e saiu em velocidade levantando uma nuvem de poeira. Ao se aproximar da figueira, pela primeira vez na vida sentiu um forte calafrio que subiu dos pés ao alto da cabeça... Diante daquela sensação esquisita, fechou bem os vidros das portas do veículo e pisou fundo no acelerador... Não sabe como, enquanto dirigia levou uma tremenda surra de pau dentro da cabine toda trancada... Por pouco não foi vítima de um grave acidente. O mais estranho é que ele não viu nada enquanto apanhava. Aprendeu a lição, nunca mais desafiou as forças do além. Conta-se também, um outro causo ainda mais sinistro acontecido com um sitiante da redondeza que tinha por mania, contra o gosto dos familiares, de pelos menos uma vez por semana ir jogar baralho na cidade, principalmente nas noites de sextas-feiras. Também duvidava de que a tal figueira fosse mal assombrada e numa dessas noites de jogatina, retornou ao sítio lá pelas tantas da madrugada. Ao se aproximar da figueira, por onde já havia passado milhares de vezes, a luz do sol, ou na escuridão da noite, a pé, a cavalo, ou dirigindo a sua camioneta, nunca antes havia notado nada de estranho... Mas naquela noite a coisa ficou feia pro seu lado... Bem ao lado da figueira deu de cara com uma enorme procissão de vultos brancos sem cabeça, cada um carregando uma tocha de fogo nas mãos... A princípio achou que eram seres humanos com as cabeças cobertas por toalhas, enganou-se profundamente... Tentou frear a camioneta, o efeito foi ao contrário, em vez de frear, acelerou ainda mais, indo desgovernado em alta velocidade ao encontro dos supostos homens... O mais estranho é que o veículo foi invadindo a procissão adentro sem que nenhum corpo fosse atropelado, todos flutuavam sobre a camioneta... Quanto mais o veículo corria, mais a procissão aumentava... Não se ouvia gritos e nem ruídos... Tudo imaterial, apenas visível. Jogar baralho na cidade à noite, nunca mais. Com o passar dos anos já sem os cafezais em volta e sem seus contadores de causos, com o alargamento da estrada a figueira tombou por terra... Mas, o lugar ainda não perdeu a fama de mal assombrado.
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