Diziam os pioneiros: Em cobra venenosa não se bate para machucar, é preciso matá-la. A primeira pancada deve ser dada no meio para quebrar-lhe a espinha e em seguida esmagar lhe a cabeça, caso contrário ela vinga-se do agressor. De tanto ouvir esse ditado popular um adolescente da roça acabou por herdar um trauma terrível sobre qualquer espécie de cobras. Estava ele e um colega de infância pescando de peneira, nas águas do ribeirão do Cerne. Eram naquela época dois pirralhos atrevidos, sem terem ainda as mínimas noções dos perigos que rondavam às margens do ribeirão com suas águas ainda um tanto misteriosas e selvagens. Naquela tarde de verão contavam com a sorte, nos primeiros minutos de pescaria. O rio estava de boa lua, a cada peneirada que enfiaram sem medo por debaixo das moitas de capim que se acomodavam sobre as águas, as peneiras saiam cheias de lambaris e cascudos. De quando em quando pintava um bagre ou uma traíra de médio porte. Os picuás de panos que carregavam pendurados sobre os ombros já estavam quase cheios de peixes. Nisto, na outra margem do ribeirão avistaram uma enorme cobra pintada, sabe-se lá o nome da peçonhenta! ... Só sabe que o seu colega não pensou duas vezes, tirou do pescoço o estilingue, enfiou a mão na água e apanhou uma pedra do tamanho de uma jabuticaba. Mirou bem a pontaria e mandou ver a pedrada ... A cobra ferida rodopiou por alguns segundos e sumiu. Logo em seguida reapareceu nas águas erguendo mais da metade do seu corpo, com a língua de fora e veio como um raio na direção dos dois pequenos pescadores. O colega conseguiu fugir... Ele, infelizmente não teve a mesma sorte, tropeçou numa pedra e caiu em meio às águas correntes... Tentou-se levantar o mais rápido possível, mas foi em vão à cobra furiosa já estava a menos de um metro de distância, só teve tempo de colocar a peneira como se ela fosse um escudo em frente do seu corpo, protegendo-se dos pés a cabeça. Sentiu a danada tocar no arame da peneira e em seguida desapareceu nas águas do rio... Foi salvo pela peneira. Manquitolando, aos trancos e barrancos, conseguiu sair do rio... Só sabe dizer que os peixes que estavam no picuá foram por água abaixo. Nunca mais praticou esse tipo de pescaria. Numa outra ocasião, ele foi trabalhar sozinho num talhão de café a beira de um mato. Seu pai e seu irmão mais novo foram à cidade. Fazia muito calor naquela manhã, terra úmida que agarrava-se na enxada, formando uma bola de terra pegajosa, seguidamente tinha que limpá-la com uma pequena pá, feita de casca de peroba. Já havia almoçado, enquanto capinava uma rua de café, perto de uma laranjeira rosa carregada de frutos maduros, uma delícia... Quando de repente, ao desmanchar com a enxada um monte de canas de milho saiu do seu precário esconderijo, uma cobra urutu cruzeiro. Só teve tempo de dar-lhe uma enxadada no lombo. Não viu mais nada, a cobra sumiu por debaixo de um pé de café... Ficou com o corpo todo arrepiado. Mais do que depressa foi capinar do outro lado do talhão de café. O medo era tanta que qualquer graveto que lhe revelasse nas pernas já era o suficiente para sentir um terrível calafrio e pular de um lado para outro, que nem um cabrito novo. Nisto, eis o que ele vê novamente... Exatamente a cobra urutu cruzeiro, com o corpo ensanguentando meio que descadeirada, vindo na sua direção... Largou a enxada no local, pernas para que te queira e fincou o pé na estrada, como diziam os matutos moradores na redondeza. De volta a casa, quando lá chegou, sua mãe, muito curiosa quis saber o motivo do seu regresso antes da hora prevista: _ Não foi nada não, mãe. _ O que foi que te aconteceu, _ Existiu a mãe achando evasiva a sua afirmação. Gaguejou, acabou mentindo. Disse-lhe que tinha sido vítima de uma terrível dor de barriga, acompanhada de diarreia danada. A santa criatura foi logo para o fogão a lenha fazer-lhe o abençoado chazinho de marcelinha. Confessa que estava precisando mesmo era de um chá de erva cidreira.
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quarta-feira, 25 de julho de 2018
COBRA FERIDA PERIGO DOBRADO
Diziam os pioneiros: Em cobra venenosa não se bate para machucar, é preciso matá-la. A primeira pancada deve ser dada no meio para quebrar-lhe a espinha e em seguida esmagar lhe a cabeça, caso contrário ela vinga-se do agressor. De tanto ouvir esse ditado popular um adolescente da roça acabou por herdar um trauma terrível sobre qualquer espécie de cobras. Estava ele e um colega de infância pescando de peneira, nas águas do ribeirão do Cerne. Eram naquela época dois pirralhos atrevidos, sem terem ainda as mínimas noções dos perigos que rondavam às margens do ribeirão com suas águas ainda um tanto misteriosas e selvagens. Naquela tarde de verão contavam com a sorte, nos primeiros minutos de pescaria. O rio estava de boa lua, a cada peneirada que enfiaram sem medo por debaixo das moitas de capim que se acomodavam sobre as águas, as peneiras saiam cheias de lambaris e cascudos. De quando em quando pintava um bagre ou uma traíra de médio porte. Os picuás de panos que carregavam pendurados sobre os ombros já estavam quase cheios de peixes. Nisto, na outra margem do ribeirão avistaram uma enorme cobra pintada, sabe-se lá o nome da peçonhenta! ... Só sabe que o seu colega não pensou duas vezes, tirou do pescoço o estilingue, enfiou a mão na água e apanhou uma pedra do tamanho de uma jabuticaba. Mirou bem a pontaria e mandou ver a pedrada ... A cobra ferida rodopiou por alguns segundos e sumiu. Logo em seguida reapareceu nas águas erguendo mais da metade do seu corpo, com a língua de fora e veio como um raio na direção dos dois pequenos pescadores. O colega conseguiu fugir... Ele, infelizmente não teve a mesma sorte, tropeçou numa pedra e caiu em meio às águas correntes... Tentou-se levantar o mais rápido possível, mas foi em vão à cobra furiosa já estava a menos de um metro de distância, só teve tempo de colocar a peneira como se ela fosse um escudo em frente do seu corpo, protegendo-se dos pés a cabeça. Sentiu a danada tocar no arame da peneira e em seguida desapareceu nas águas do rio... Foi salvo pela peneira. Manquitolando, aos trancos e barrancos, conseguiu sair do rio... Só sabe dizer que os peixes que estavam no picuá foram por água abaixo. Nunca mais praticou esse tipo de pescaria. Numa outra ocasião, ele foi trabalhar sozinho num talhão de café a beira de um mato. Seu pai e seu irmão mais novo foram à cidade. Fazia muito calor naquela manhã, terra úmida que agarrava-se na enxada, formando uma bola de terra pegajosa, seguidamente tinha que limpá-la com uma pequena pá, feita de casca de peroba. Já havia almoçado, enquanto capinava uma rua de café, perto de uma laranjeira rosa carregada de frutos maduros, uma delícia... Quando de repente, ao desmanchar com a enxada um monte de canas de milho saiu do seu precário esconderijo, uma cobra urutu cruzeiro. Só teve tempo de dar-lhe uma enxadada no lombo. Não viu mais nada, a cobra sumiu por debaixo de um pé de café... Ficou com o corpo todo arrepiado. Mais do que depressa foi capinar do outro lado do talhão de café. O medo era tanta que qualquer graveto que lhe revelasse nas pernas já era o suficiente para sentir um terrível calafrio e pular de um lado para outro, que nem um cabrito novo. Nisto, eis o que ele vê novamente... Exatamente a cobra urutu cruzeiro, com o corpo ensanguentando meio que descadeirada, vindo na sua direção... Largou a enxada no local, pernas para que te queira e fincou o pé na estrada, como diziam os matutos moradores na redondeza. De volta a casa, quando lá chegou, sua mãe, muito curiosa quis saber o motivo do seu regresso antes da hora prevista: _ Não foi nada não, mãe. _ O que foi que te aconteceu, _ Existiu a mãe achando evasiva a sua afirmação. Gaguejou, acabou mentindo. Disse-lhe que tinha sido vítima de uma terrível dor de barriga, acompanhada de diarreia danada. A santa criatura foi logo para o fogão a lenha fazer-lhe o abençoado chazinho de marcelinha. Confessa que estava precisando mesmo era de um chá de erva cidreira.
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