quarta-feira, 25 de julho de 2018

MEIA NOITE NO CEMITÉRIO


 Após algumas horas de festa, numa capela da zona rural, na Agua das Sete Ilhas,  três jovens da cidade de Sertanópolis retornavam às casas, um pouco passados na cerveja, mais alegres do que embriagados. Ao chegar à entrada da cidade, um deles fez um convite um tanto inusitado de irem ao cemitério, já em horas avançadas da noite e que foi aceito por unanimidade. É que, naquele dia havia morrido um dos bêbados mais famosos de toda a região, o popular “Bituqueiro”. O pobre homem vivia pelas ruas da cidade, pode se dizer, como um mendigo, ganhou o referido apelido, não por acaso, é que saciava o vício de fumar catando bitucas encontradas nas ruas. Com a morte, foi o seu corpo velado na capela do cemitério... Durante o dia, no velório não faltaram os duvidosos amigos. À noite, bem... Alguns gatos pingados passaram pelo local, apenas nas primeiras horas. É bom que se diga que os jovens não éramos amigos do morto... O convite foi feito no sentido de provocação e aceito não por heroísmo e sim por que tinha algo de mistério, uma aventura nunca antes vivenciada. O motorista estacionou a camioneta diante do portão do cemitério. A Rua de acesso ao campo santo dos mortos estava totalmente deserta... Nas casas ao redor o silêncio era total, nenhuma lâmpada acesa, nem tosse dos moradores se ouvia nos casebres, os cachorros estavam de bocas fechadas, só os grilos cantavam... Desceram do veículo calado como três múmias... Era uma noite de poucas estrelas, sem luar...  Lá nos fundos do Cemitério avistava-se a capela mal iluminada por uma meia dúzia de velas acesas... As sepulturas ao redor eram como se fossem muralhas negras em meio os arvoredos... As corujas deram-lhes as boas vindas de maneira arrepiante, num cantar funestos sobre as catacumbas...  Nisto o relógio da matriz começou a badalar... Foram ao todo doze batidas que ecoaram entre as muralhas do cemitério... Era exatamente meia noite. _  Um deles, o mais medroso pediu para voltar, encerrar por ali aquela aventura fora da realidade. Ficaram confabulando se deveriam ou não voltar dali onde estavam. Diante daquele marasmo, nem ata e nem desata... De repente, como se as pernas tivessem sido destravadas ao mesmo tempo, depararam-se a caminhar pela rua estreito no vale dos mortos, na direção da capela... Passaram ao lado do cruzeiro, onde ainda queimavam alguns tocos de velas... As corujas voltaram a cantar sobre as sepulturas, desta vez, bem próximas de seus ouvidos... Confessam que sentiram um calafrio indescritível dos pés a cabeça... Mesmo assim, seguimos em frente, tudo muito estranho, ao redor. Ao chegar na capelinha não avistaram uma viva alma no seu interior ... Quando adentraram ao recinto deram de cara apenas com o caixão, sem flores e sem adornos, nele, apenas  o “Bituqueiro” que dormia o sono eterno, diferente de quando dormia pelas calçadas ou nos bancos da praça. Desta vez, solitário como sempre, esperando o amanhecer do dia, não para mendigar o último trago de cachaça ou o último prato de comida ou catar a última bituca de cigarro e sim para ser sepultado dignamente como um ser humano.

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