quarta-feira, 25 de julho de 2018

UM CAUSO DE BALCONISTA


Conta um antigo comerciante, sócio de uma venda de Secos & Molhados situada, no centro da cidade de Sertanópolis, quanto ao nome da loja não vem ao caso. Tempo bom aquele, dizia o narrador, em que a cidade desfrutava das benesses cafeeiras... Aos sábados as vendas ficavam repletas com tanta freguesia, principalmente à tarde... Das carrocerias de caminhões, camionetas e tratores desciam centenas de trabalhadores rurais, cada um com os famosos sacos alvejados debaixo do braço e já adentravam nos recintos comerciais a fim de fazerem as compras semanais... Era uma correria danada, um pula, pula; um pesa, pesa; um tromba, tromba... Os balconistas e os proprietários das vendas se viam loucos para darem conta do atendimento ao público. A venda da qual era sócio tinha um ótimo movimento... Enquanto os empregados das fazendas faziam as compras, a vista paga com cheques. Os proprietários por comodismo compravam a prazo. A maioria era mensalista, outros pagavam somente após a colheita, tudo anotado nas famosas cadernetas. Um dos fregueses mensalista pode se dizer, o que mais gastava e o mais pontual quanto ao pagamento, no primeiro dia útil de cada mês, mal as portas da venda eram abertas, lá estava ele encostado o umbigo no balcão, tirando o talão de cheque do bolso, para acertar a conta... Era sem dúvida, um homem cumpridor de suas obrigações, aparentemente um bom esposo e bom pai. Considerado um dos fazendeiros mais próspero de toda a região. Falava-se muito desse homem, coisas de arrepiar os cabelos... Diziam que havia vendido a alma ao diabo para ficar rico... Um fato muito estranho deixou o comerciante com a pulga atrás da orelha, um tanto cismado... Nem precisa dizer que era início de mês e que o tal fazendeiro, como sempre foi o primeiro a entrar na venda... O mais sinistro é que naquele dia não cumprimentou a ninguém, aparentava um olhar um tanto preocupado... Pediu a conta, que já estava somada... O comerciante foi até o escritório apanhá-la... Ao retornar ao salão da venda, no balcão ao fundo, onde era acostumado a entrar na grana, tentando ocultar o sorriso, pois aquele dinheiro vinha em boa hora... Qual foi a sua surpresa? ... A fisionomia do homem estava completamente mudada, já havia guardado o talão de cheque no bolso... Disse-lhe com uma voz mudada que só acertaria a conta depois que o "negão” fosse embora com o olhar fixo no canto da venda e já em seguida saiu porta afora sem se despedir... O comerciante ficou abobalhado com o que acabara de ouvir... Olhou na direção do local onde deveria estar o suposto "negão" , não havia nada além das mercadorias sobre as prateleiras... Mais tarde, como se nada tivesse acontecido, retornou a venda e acertou a conta.

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