Contam que numa das famílias de pioneiros da região, havia um homem muito mal humorado, de pouca conversa, sempre às turras com a esposa e com os filhos. Seu nome, bem... Prefere-se mantê-lo em segredo. Como era de costume, saia de casa quase todas as noites. Cumprido a rotina, naquela tarde deixou o serviço da roça, no horário de sempre, chegou a casa, tomou banho, trocou de roupa, jantou e saiu porta afora sem se despedir da esposa e dos filhos. A pobre mulher, desconsolada, cansada da vida que levava ao lado daquele traste marido jogou-lhe um rosário de pragas que não convém repeti-las... O marido já ia distante da casa, ainda ouvia as rezas malditas da esposa mal amada... Já acostumado, não dava ouvido ao falatório que deixava para trás e foi até a venda, o lugar preferido de suas andanças noturnas e lá, a luz de um lampião começou a jogar baralho com os companheiros de todas as noites... Nisto entrou na venda um homem completamente estranho com um chapéu preto na cabeça... Não cumprimentou a ninguém e foi logo desafiado a turma a jogar uma partida de truco valendo uma quantia em dinheiro muito acima da qual eram acostumados a jogar... O único a aceitar o desafio foi o homem mal humorado... Jogaram várias partidas, O homem estranho do chapéu ganhou todas... Os espectadores começaram a notar que o ganhador era uma figura muito esquisita. Do seu corpo, mesmo aparentando estar limpo exalava um odor muito forte... Alguém chegou a compará-lo com enxofre... Os mais fofoqueiros que assistiam ao jogo começaram a cochichar pelos cantos venda, de que o amigo havia encontrado alguém, muito mais estranho que ele e que aquela jogatina prometia um desfecho inesperado. Mais tarde, quando todos já haviam retornado as casas, os últimos a deixar o local foram os dois jogadores... Um com certa quantia em dinheiro no bolso e o outro ficou liso, sem um tostão. Nem sequer se despediram, tomaram rumos diferentes. O homem mal humorado, de volta a casa, lastimando-se da má sorte, em pensamentos malignos, por ter perdido tanto dinheiro para um desconhecido, que nem sequer ficou sabendo de onde veio, qual era o seu nome... Ao passar pelo milharal, que ladeava a estrada, numa baixada percebeu um barulho estranho correndo atrás dele, vindo ao seu encontro... Não era homem de fraquejar e nem tinha medo de ninguém, muito menos do sobrenatural. Mas naquela noite enluarada começou a sentir fortes calafrios, dos pés a cabeça... Apertou os passos. O barulho estranho foi ficando cada vez mais próximo, uma voz começou a gritar-lhe, aos ouvidos: _ Corre, Corre! ... Já tomei o seu dinheiro e agora vou beber o seu sangue... E para aumentar-lhe o espanto soltava sinistra gargalhada que se espalhava no milharal, aparentando que vinham ao mesmo tempo de diversos lugares. Olhou para trás... Custou-lhe acreditar no que viu... A menos de cinco metros de distância só avistou o chapéu que flutuava no ar e as gargalhadas se repetiam cada vez mais assombrosas... _ Corre, Corre! ... Vou lhe pegar! ... Quero beber o seu sangue! ... As gargalhadas agora vinham de todos os lados do milharal, como se fosse de centenas de pessoas rindo dele ao mesmo tempo de maneira sarcástica. A coisa foi ficando muito estranha para o seu lado... Não era homem de fraquejar diante do inimigo, mas naquela noite pôs-se a correr pela estrada afora desesperadamente... O chapéu fantasma, flutuando no ar e as gargalhadas o acompanharam até a entrada de sua casa. Esse fato fez nascer um outro homem, nunca mais saiu de casa sozinha à noite e passou a tratar a esposa e os filhos com muito amor e carinho.
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quarta-feira, 25 de julho de 2018
O FATASMO DO CHAPEU
Contam que numa das famílias de pioneiros da região, havia um homem muito mal humorado, de pouca conversa, sempre às turras com a esposa e com os filhos. Seu nome, bem... Prefere-se mantê-lo em segredo. Como era de costume, saia de casa quase todas as noites. Cumprido a rotina, naquela tarde deixou o serviço da roça, no horário de sempre, chegou a casa, tomou banho, trocou de roupa, jantou e saiu porta afora sem se despedir da esposa e dos filhos. A pobre mulher, desconsolada, cansada da vida que levava ao lado daquele traste marido jogou-lhe um rosário de pragas que não convém repeti-las... O marido já ia distante da casa, ainda ouvia as rezas malditas da esposa mal amada... Já acostumado, não dava ouvido ao falatório que deixava para trás e foi até a venda, o lugar preferido de suas andanças noturnas e lá, a luz de um lampião começou a jogar baralho com os companheiros de todas as noites... Nisto entrou na venda um homem completamente estranho com um chapéu preto na cabeça... Não cumprimentou a ninguém e foi logo desafiado a turma a jogar uma partida de truco valendo uma quantia em dinheiro muito acima da qual eram acostumados a jogar... O único a aceitar o desafio foi o homem mal humorado... Jogaram várias partidas, O homem estranho do chapéu ganhou todas... Os espectadores começaram a notar que o ganhador era uma figura muito esquisita. Do seu corpo, mesmo aparentando estar limpo exalava um odor muito forte... Alguém chegou a compará-lo com enxofre... Os mais fofoqueiros que assistiam ao jogo começaram a cochichar pelos cantos venda, de que o amigo havia encontrado alguém, muito mais estranho que ele e que aquela jogatina prometia um desfecho inesperado. Mais tarde, quando todos já haviam retornado as casas, os últimos a deixar o local foram os dois jogadores... Um com certa quantia em dinheiro no bolso e o outro ficou liso, sem um tostão. Nem sequer se despediram, tomaram rumos diferentes. O homem mal humorado, de volta a casa, lastimando-se da má sorte, em pensamentos malignos, por ter perdido tanto dinheiro para um desconhecido, que nem sequer ficou sabendo de onde veio, qual era o seu nome... Ao passar pelo milharal, que ladeava a estrada, numa baixada percebeu um barulho estranho correndo atrás dele, vindo ao seu encontro... Não era homem de fraquejar e nem tinha medo de ninguém, muito menos do sobrenatural. Mas naquela noite enluarada começou a sentir fortes calafrios, dos pés a cabeça... Apertou os passos. O barulho estranho foi ficando cada vez mais próximo, uma voz começou a gritar-lhe, aos ouvidos: _ Corre, Corre! ... Já tomei o seu dinheiro e agora vou beber o seu sangue... E para aumentar-lhe o espanto soltava sinistra gargalhada que se espalhava no milharal, aparentando que vinham ao mesmo tempo de diversos lugares. Olhou para trás... Custou-lhe acreditar no que viu... A menos de cinco metros de distância só avistou o chapéu que flutuava no ar e as gargalhadas se repetiam cada vez mais assombrosas... _ Corre, Corre! ... Vou lhe pegar! ... Quero beber o seu sangue! ... As gargalhadas agora vinham de todos os lados do milharal, como se fosse de centenas de pessoas rindo dele ao mesmo tempo de maneira sarcástica. A coisa foi ficando muito estranha para o seu lado... Não era homem de fraquejar diante do inimigo, mas naquela noite pôs-se a correr pela estrada afora desesperadamente... O chapéu fantasma, flutuando no ar e as gargalhadas o acompanharam até a entrada de sua casa. Esse fato fez nascer um outro homem, nunca mais saiu de casa sozinha à noite e passou a tratar a esposa e os filhos com muito amor e carinho.
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