quinta-feira, 26 de julho de 2018


NOTA DO AUTOR

Os causos e lendas que fazem parte deste livro já foram centenas de vezes contadas pelos moradores de Sertanópolis. Muitos chegaram até em minhas mãos através de alunos, em projetos pedagógicos realizados nas Escolas do Município. Afirmam os coadjuvantes serem as narrativas verdadeiras e de terem acontecido na região. Mas, como diz o velho ditado: “Quem conta um conto aumenta um ponto”, não nego que também dei a minha contribuição, tanto na oralidade como na escrita. Qualquer semelhança com histórias acontecidas em outras regiões do Brasil, é mera coincidência... Riquezas do folclore nacional.

A LENDA DA SALA 10


Nos tempos em que ainda era comum encontrar nas ruas de Sertanópolis, pés de melancias e pés de abóboras com frutos abundantes e enormes. Em que os transeuntes aventureiros, nas noites escuras esbarravam as cabeças em roliços cachos de bananas que se debruçaram com o peso sobre as calçadas. Em que as corujas, os morcegos juntamente com milhares de vaga-lumes eram donos absolutos das trevas. No pacato vilarejo sabia-se em detalhes a história de vida de cada morador. Os fatos aconteciam como determinava a era do pioneirismo. Assassinatos raramente eram noticiados. Traições amorosas, bem... É bom que se diga que tudo era muito velado... Quando o caso vinha à luz da verdade, boa coisa não acontecia. Os poucos moradores do vilarejo viviam em plena harmonia, não ostentavam nenhum luxo, tudo muito simples. Havia um perfeito relacionamento entre todos. Nos momentos difíceis, que não eram raros, o que não faltava era apoio. Uma comunidade unida, batalhadora, aventureira... Havia respeito entre os casais, famílias de origem europeia, na maioria de italianos, portugueses e espanhóis. Com o passar do tempo, uma das esposas, dona de uma beleza que se destacava entre as demais, até então dona de um comportamento praticamente semelhante às outras mulheres casadas. Bem relacionada com todas, aparentemente uma esposa exemplar, excelente mãe... De um momento para outro começa adquirir certas atitudes fora dos padrões rotineiros, como ali eram de costume. Passa a se arrumar com esmero, vestir-se melhor, usar perfumes. Contrariando os costumes, das demais mulheres casadas, que viviam enclausuradas em seus casebres, escravas dos afazeres domésticos, a Loira, passa a ser assim denominada por todos, alvo iniciante de comentários maldosos, principalmente por sair quase toda a noite sozinha, sem a companhia do marido, sempre bem arrumada e perfumada. O burburinho de fofocas começa a fervilhar na boca dos moradores, principalmente das mulheres... Lá vai a loira, sabe-se lá, fazer o que? Quase todas as noites, nos mesmos horários as cenas se repetiam e por onde ela passava, ficava um rastro de perfume de indagações... O marido, a princípio, confiava plenamente na esposa, tenha por ela muito carinho e admiração, até se sentia orgulhoso diante de sua beleza. Não demonstrava nenhuma cena de ciúmes, confiava plenamente nos argumentos usados pela esposa antes de sair de casa, enquanto se arrumava. Dizia que ia na casa de uma amiga, quando não, dizia que ia até a capelinha rezar. Antes de sair sempre dava um abraço e um beijo no marido, dizendo que voltaria logo. A boca do povo, cada vez mais comenta as mudanças radicais da loira. Os amigos mais próximos do seu marido já começam a dar-lhe conselho sobre o que de mal poderia estar acontecendo... Ele, de início chega a ser intolerante com os amigos na defesa da esposa, alegando que sabia aonde ela ia quase todas as noites. Mas, ao vê-la, cada vez mais se aprontado melhor, procurando perfumes mais caros para comprar, já começou a ficar com a pulga atrás da orelha. Será mesmo que ela está me traindo? Com quem será que ela está saindo. Essas perguntas e outras ainda mais indesejáveis começam a martelar dia e noite em sua cabeça. Contém os impulsos, domina o ciúme e passa observar melhor as atitudes da esposa... Enquanto isso a esposa segue na sua missão rotineira noturna. Tomado pela ira causada pelo ciúme contido no âmago da alma, já doentia... Não resistiu à tentação. Comprou um revólver sem que a esposa soubesse. Manteve por certo tempo à arma muito bem escondida, embrulhada num pedaço de jornal, em cima do guarda roupa e passou a arquitetar um plano de vingança. Tinha que fingir para esposa que tudo estava bem, ao seu lado procurava manter-se calmo, despreocupado. Mas quando estava só a aparente tranquilidade se transformava em ódio, mágoa, rancor. Não suportando mais a angústia, resolveu colocar um fim no que tanto o atormentava e que já era alvo de chacotas maldosas. Numa dessas noites em que a esposa se pôs ainda mais bela, melhor arrumada, mais perfumada resolveu segui-la pra desvendar o mistério. Passo a passo, na noite escura, pelas ruas desertas seguia cauteloso um único vulto, a menos de cinquenta metros de distância... O volto virava numa esquina, ele atrás. Virava noutra, ele firme, a passos lentos para não ser notado seguia no seu encalço sem perdê-la de vista. De repente, ao dobrar mais uma esquina constatou que já eram dois vultos que se entrelaçam indo na mesma direção... Não teve dúvidas. Apressou os passos... Nisto, os dois vultos entraram num terreno abandonado em meio a uma capoeira... A quem afirme que era um mandiocal... Sendo ou não uma capoeira ou mandiocal, não muda o foco do sinistro acontecimento premeditado. Fez o mesmo, entrou atrás com o revólver em punho, a menos de cinco metros de distância, sem vacilar descarregou a arma alvejando os dois vultos... Comenta-se que a esposa teve morte repentina e que o amante gravemente ferido conseguiu fugir deixando um rastro de sangue por onde passou. Sobreviveu, mas custou-lhe uma sequela que o marcou pro resto da vida e que por razões apenas pessoais não convém aqui entrar em detalhes. Melhor deixar acesa a chama da curiosidade. Passaram-se alguns anos. Aí por volta da década de 1950, logo após a inauguração de uma Escola Estadual. O vilarejo já havia se transformado em uma cidade próspera. Veio então à tona, a famosa Lenda da Sala 10. Por coincidência a tenebrosa sala foi construída na parte superior do prédio, bem no local onde a mulher havia sido assassinada. No térreo fica a porta de entrada que dá acesso a dois corredores, o que conduz a parte administrativa: sala dos professores, secretaria e a biblioteca. Na parte superior, subindo por uma escada, ficam quatro salas de aula. O outro corredor passa por uma porta divisória chega-se então as demais salas de aula. Bem no rol de entrada, na parte lateral da parede, abaixo da sala 10, permaneceu por muitos anos, o velho piano. Uma relíquia rara... Uma doação de valor estimativo inquestionável. Diz à lenda que o fantasma da mulher escolheu a sala 10 como morada, enquanto existir a escola. De lá para cá tem espalhado terror em todas as escolas da região. Costuma aparecer nos banheiros femininos. Há quem diga que é uma loira muito bonita, bem vestida, perfumada... Outros afirmam ser ela uma mulher feia, pálida e magra. Segundo relatos dos que a conheceram em vida, concordam plenamente com a sua beleza. Mas há muitas controversas com o que tem sido semeado pela boca do povo. Dando continuidade aos boatos, nas suas constantes aparições há quem afirme que ela aparece com a boca e as narinas cheias de algodão, tal como foi sepultada. Outros já dizem tê-la visto muito bem vestida e perfumada como era de costume em suas andanças noturnas. Os transeuntes que passam pelo local, em frente à escola, em altas horas da noite, quando a cidade dorme e o silêncio é total, dão testemunho de fatos muito estranhos: Barulhos confusos pelos corredores da escola, choro desesperado de uma mulher, vozes estridentes, gargalhadas que ecoam pelo prédio e se repetem cada vez mais alto, de maneira retumbante. Tornou-se comum, na vizinhança, comentários sobre: o alarme que dispara sozinho, o piano que toca em altas horas da madrugada, portas que pernoitam fechadas e amanhecem abertas. Foram notados por um professor e seus alunos, estalos estranhos, tanto no piso como no teto da sinistra sala, em plena hora de aula. Certo tempo atrás, um grupo de jovens, que fazia retiro na escola, num final de semana, tempo da quaresma... Lá pelas tantas da madrugada, alguns dos jovens que pernoitavam na sala seis, próximo ao rol de entrada onde ficava o piano. De repente, quando o silêncio absoluto reinava no local, começaram a ouvir uma música sinistra vindo do velho instrumento. Levantaram-se muito assustados. Mesmo assim a curiosidade em desvendar os segredos do piano misterioso mexeu com os ânimos dos jovens... Foram contagiados por uma espécie de curiosidade coletiva. Nenhum deles dispunha em tomar a iniciativa. Ficaram num jogo de empurra: _ Vai você na frente! ... _ Não! ... Não vou! ... _ Vai! ... Não vou! ... _ Já disse, não vou! ... Até que enfileirados, como se fossem um grupo de caça fantasmas... Todos de cabelos eriçados. Abriram a porta lentamente da sala seis provocando aquele típico rangido de filme de terror, inh ééééé... Pronto, já estavam no corredor, a menos de meio metro da porta que dava acesso ao local onde estava o piano. Novamente ficaram naquele jogo de empurra para ver que abria a última porta. Impulsivamente, um dos mais afoitos criou coragem e a porta foi aberta... Depararam com o aposento mal iluminado pela claridade das lâmpadas da rua, ofuscadas pela distância dos postes e das sombras das árvores estremecida pelo vento. Depararam com algo muito estranho, além do piano solitário, próximo a parede lateral... Sinistramente, nenhum vulto pode ser visto apenas as teclas do piano se movimentavam de maneira sincronizada. Nisto... Uaauuu! ... Ufa! ... Uma lufada de vento forte penetrou pelos buracos dos vidros quebrados... Fez com que as cortinas brancas esvoaçassem e tocassem nos cabelos arrepiados dos jovens... A música funesta preenchia o salão... Até que... O vento amainou... Fez-se um silencio total no recinto... De repente! ... Ao mesmo tempo todos sentiram um forte calafrio dos pés a cabeça. Algo muito estranho, invisível passou pelo grupo... Como se fosse uma pessoa adulta a correr pelo corredor, na direção da cantina. Tudo inexplicável pode ser constatado. Os jovens retornaram a sala, onde pernoitavam... Todos indistintamente aterrorizados com o que ouviram e quase nada viram, a não serem os movimentos das teclas do piano, na penumbra do daquele salão mal assombrado. Verdade ou não a Lenda da Sala 10 continua sendo propagada pelos moradores da região... Existem já centenas de versões.

CORTA GOELA


O êxodo rural mudou por completo o cenário agrícola do Município de Sertanópolis e de todo o Norte Paranaense. Os novos proprietários das terras, oriundos de lugares diferentes, transformaram os costumes do campo. Ignoraram uma rica tradição cultural alicerçada numa prosa animada, dos bravos pioneiros, que cultivaram a fértil terra roxa no cabo das enxadas... Muitos deles não fixaram residência nas propriedades que compraram. Eram apenas ambiciosos e fanáticos exploradores das terras. Erradicaram os cafezais. Acabaram com os pomares. Demoliram as casas dos colonos. Substituíram as enxadas pelos tratores... Mudaram a paisagem com imensas lavouras de soja, milho e trigo, ou então, em terrenos não mecanizados surgiram pastagens para o gado. Os bons tempos dos cafezais ficaram apenas na memória dos heroicos desbravadores do sertão, agora espalhados pelos quatro cantos do Brasil. Um dos novos moradores, cujo nome verdadeiro muito pouco foi pronunciado naquelas paragens do Cerne. De onde veio nunca se teve notícia. Sabe-se apenas que era um homem de pequena estatura, barbudo, cabeludo... Diziam até que era a figura encarnada do Demo... Cruz, credo! ... Deus que me livre! ... Como se não bastasse as credenciais já anunciadas, vivia no mesmo teto com três mulheres, que aparentavam respeito e carinho duvidoso... Talvez fosse pelo medo, ou quem sabe por serem elas da mesma laia do mandrião forasteiro. Por ironia, o tal barbudo veio morar na antiga propriedade de um já falecido pioneiro. Um português um tanto folclórico que por pouco não manchou o nome do lugar, batizando o ribeirão do Cerne de “Lava (…)”. Bem, melhor não pronunciar o resto. Deixa pra lá! ... O fato se deu por ter encontrado num passeio de reconhecimento das terras que por sinal acabou comprando, um homem nu a se banhar nas águas cristalinas do ribeirão. “Lava (…),” assim, então, passou a ser denominado o ribeirão e as adjacências por certo tempo, até que caiu no esquecimento e nome impróprio deixou de ser pronunciado. Mesmo local que antes foi maculado por um palavrão, tornou-se o aconchego preferido do quadrilátero amoroso. Era comum vê-los nus se banhando e trocando carícias despudoradas nas águas já poluídas do ribeirão. Misteriosamente, da noite para o dia, como se fosse um cemitério clandestino, covas de defunto foram encontradas abertas no local... Algumas já aterradas. Tal fato levou a já reduzida população a um clima de terror... A polícia da cidade de Sertanópolis foi avisada e após minuciosa investigação, nenhum defunto foi encontrado. As suspeitas, mesmo sem ter provas concretas, caiam sobre o tal Barbudo. O valentão, como já foi dito, tinha mesmo parte com forças malignas, frequentava assiduamente um venda de beira de estrada... O único ponto de encontro dos moradores da região. Ao entardecer chegava ao recinto, sempre acompanhados pelas três mulheres. Ao adentrar na venda, os já minguados fregueses curvaram-se diante do forasteiro... Lá vinha a famosa rodada de cachaça, alguém era intimada à força a pagar pela conta. O temido homem tinha por hábito andar armado com um punhal e um revólver na cintura... Cantava, dançava e humilhava os presentes com insultos desafiadores, agressivos, humilhantes... Era comum, em meio à algazarra, sacar o revólver e determinar as esposas que abaixassem as peças íntimas e urinarem em meio ao salão... Ai daquele que se atrevesse a dar uma espiada de rabo de olho nas nádegas das mulheres de cócoras e de saias levantadas até a cintura! ... O vendeiro, feito uma vara verde, tremia sem parar, do outro lado do balcão. Numa tarde de domingo, como era de costume, o barbudo chegou à venda, na companhia das esposas. Ao chegar foi logo fazendo arruaça costumeira. Desta feita, ainda mais provocante, estava mesmo tomado por inteiro pelas forças do mal. Nisto entrou em cena o Fraquito, que não fazia jus ao nome, pois nada tinha de fraco, era ele pela sua coragem e valentia, o Inspetor de Quarteirão do Bairro... A sua presença foi o mesmo que jogar álcool na fogueira. A coisa ficou preta num segundo, tanto o homem representante da justiça como o valentão empunharam os revólveres ao mesmo tempo... Foi um pipocar de tiros para tudo quanto era lado, uma correria danada. Um salve-se quem puder! Inacreditável! ... Nenhuma bala atingiu o tal barbudo! ... Diziam que tinha o corpo fechado. Fraquito levou a pior, foi alvejado por vários disparos, um deles atingiu o coração. O Tônico, vendo o pai que agonizava diante do sarcástico assassino, que Ironicamente ainda lambia os dedos da mão direita todo vermelho, com sangue do pai... Como se tudo isso ainda não bastasse ainda dava sonoras gargalhadas, Diante de tamanha humilhação, tendo como agravante o pai já sem vida, bem ali ao seu lado, perdeu totalmente o controle de si. Não era homem nem para matar uma mosca, assim diziam todos que o conhecia... Incorporou-se de uma força sobrenatural. Nem sabe como, de onde lhe veio tamanha valentia e destreza... Deu uma cadeirada na cabeça do barbudo enquanto se distraia zombando do cadáver estendido no chão... Atordoado tombou sobre o assoalho da venda e com extrema agilidade montou em sem corpo, arrancou uma faca da cinta e cortou numa só golpeada, a goela do valentão. Ficaram os dois corpos estendidos no interior da venda... Um cachorro vira-lata pôs-se a lamber o sangue dos cadáveres... Logo a polícia chegou ao local e tomou as providências cabíveis em tais circunstâncias. Corta Goela, Corta Goela! ... Aquele lugar não tinha esse nome não! ... Por incrível que pareça, até nos dias de hoje é normal quando alguém fala do acontecido chamar o local pelo nome de Corta Goela.

A CRUZ MAL ASSOMBRADA


Na estrada que liga a cidade de Sertanópolis a Bela Vista do Paraíso, conhecida pelo nome de Estrada do Cerne, em meio ao caminho, bem nas proximidades de certo local, onde outrora havia uma venda aconteceu um crime bárbaro. O fato se deu numa época em que o lugar era muito povoado. No auge das lavouras de café. O fato aconteceu com  um homem, de boa família assassinado, pode-se dizer, sem motivo algum. Logo após o crime, os familiares da vítima plantaram no local, uma pequena cruz de madeira. Nos pés da cruz eram acesas muitas velas e ao redor foram cultivadas várias espécies de flores. Nos dias de finado, o lugar era muito visitado. Até aqui conta-se a história, do ponto de vista da maioria dos moradores. Porém havia outras versões, um tanto macabras, desafiadoras, de arrepiar os cabelos das crianças e principalmente dos mais supersticiosos. Eram  causos sinistros, centenas de vezes contadas pelos especialistas da redondeza. Os comentários sobre aparições  assombrosas eram propagados pela tradição oral. Eram tantos os fantasmas que rondavam ao redor da cruz, que iam além de um caixão de defunto que saia do meio do capinzal amarrado por grossas correntes arrastados por um cavalo... Gritos desesperado de um homem pedindo socorro... Vultos voadores que passavam flutuando sobre a estrada... O capinzal ao redor que se estremecia fazendo um barulho esquisito, mesmo não estando ventando... Um suposto automóvel invisível que passava ao lado da cruz fazendo muito barulho de motor, levantando nuvem de poeira... Um cavaleiro estranho, que ao passar pela cruz descia do cavalo com uma faca na mão, jurava matar quem o desafiasse... Muitos são os que juram serem testemunhas oculares de algumas dessas aparições citadas... Outros preferem afirmar que tudo isso não passava de lorotas inventadas, para atiçar a crença das pessoas supersticiosas. Certa ocasião, um garoto com doze anos de idade, morador nas adjacências, estudava na cidade de Bela vista do Paraíso. Cursava na época a quarta série do ensino primário. Durante a semana ficava na cidade, na casa de uma tia. As sextas-feiras à tarde após as aulas, quando saia do Grupo Escolar Basílio de Araújo, não tinha mais horário de ônibus. Ninguém o fazia ficar na cidade nos finais de semana. Mesmo assim, com muito medo fazia todo o percurso a pé. Quase sempre sozinho. Raramente encontrava uma alma generosa que lhe oferecia uma carona. Caminhava muito mais pelo meio do cafezal do que pelo leito da estrada. Passava, a princípio por uma região de grandes fazendas de cafés, onde não havia nenhuma casa próximo à estrada. Sempre que passava perto da cruz, mesmo em plena luz do dia sentia calafrios por todo o corpo. Os cabelos ficam ouriçados... Apertava os passos, nem se quer olhava para a cruz de tanto medo que sentia. Numa dessas solitárias caminhadas, por ironia do destino, era uma sexta-feira do mês de agosto... Tarde de muito calor, céu esfumaçado, sol vermelho quase rente à linha do horizonte, parecendo uma bola de fogo. As fumaças das chaminés das casas já anunciavam que se aproximava o horário da janta. Quando foi se aproximando da cruz, deparou-se com o que mais temia em todas as suas caminhadas. Ao seu encontro vinha um cavaleiro muito estranho, de capa preta, um chapéu grande na cabeça, tal qual como o que era descrito nos boatos que fervilhavam na boca do povo. O encontro fatal e inevitável prometia acontecer exatamente em frente à cruz misteriosa. Tamanho foi o medo que o seu corpo ficou paralisado, trêmulo da cabeça aos pés... Quis gritar por socorro, a voz não lhe saia. Correr... Impossível. As pernas estavam plantadas no chão... Nisto, para aumentar ainda mais o seu temor, o homem enfiou a mão direita atrás da cintura e arrancou, querem saber o quê? Arrancou uma enorme faca !...Santo Deus! ... Já tinha como certo de que seria a próxima vítima... Momentaneamente passou-lhe um filme na cabeça sobre o seu trágico fim... O suposto criminoso foi se aproximando com a arma na mão... Como se não bastasse o homem, até então mal encarado, enfiou a mão direita no bolso da calça e tirou... Tirou... Valha-me Deus! ... Tirou uma laranja... Uma laranja, sim senhor! ... E começou a descascá-la com a maior tranquilidade, enquanto assobiava uma canção da época. Ao passar pelo garoto em frente à cruz disse-lhe: _ Boa tarde, menino! É servido chupar uma laranja? ... Tá doce que nem mel e foi passando montado em seu cavalo, trotando lentamente, até desaparecer na curva da estrada. O garoto ficou ali plantado alguns segundos, até se refazer do susto.  Foi então que pode perceber,  que no alto do barranco, centenas de abelhas e borboletas disputavam o néctar das flores silvestres e um toco de vela queimava lentamente ao pé da cruz.

A LENDA DO FORNO À LENHA

Conta-se que há muitos anos atrás, numa das fazendas de café no Município de Sertanópolis moravam várias famílias de colonos que davam conta de todo o trabalho realizado na propriedade. Era uma época em que não havia fogão a gás, usava-se o fogão a lenha. Quase nada era comprado na cidade. Grande parte do que se consumiam eram produzidos na roça. Havia fartura de frangos no terreiro, ovos de galinha, leite de vaca... Nunca faltava a carne de porco que era armazenada em latas de banha. Bem... “A Lenda do Forno a Lenha” aconteceu num dia qualquer da semana... Uma das mulheres da fazenda preparava, a moda da roça, uma fornada de pão. Com certeza, uma delícia de fazer crescer água na boca. Enquanto acendia o fogo no forno... Lenha seca de primeira, ajuntada a capricho no mato... Estava à mãe acompanhada de sua filha, a mais nova. Era uma menina muito bonita de apenas quatro anos de idade. Assim que a lenha pegou fogo, a mulher teve que ir a casa a fim de resolver um problema de rotina. Enquanto ainda estava dentro de sua casa começou a ouvir os gritos desesperados de sua filha... Saiu porta afora correndo na direção do forno... Infelizmente, mesmo assistida por outras mulheres da colônia nada puderam fazer... De mãos atadas diante das labaredas assassinas que saiam da boca do forno. Assistiram aterrorizadas vendo a menina arder em chamas. Era um fogo muito estranho incontrolável, como se saíssem da boca de um dragão. A pobre menina ficou parecendo um toco de carvão. Foi o seu corpinho velado e sepultado com muito choro e lamentos, principalmente da pobre mãe que não se conformava com a perda da filha, daquela maneira tão trágica e tão sinistra. A partir daquele dia o forno ficou abandonado... Nunca mais alguém se atreveu em fazer nele as guloseimas tão apreciadas pelos moradores da colônia. Quase todas as noites, algo sinistro passou acontecer... Muitos dos moradores abandonaram o trabalho na fazenda, o mais rápido possível... Má sorte teve os que ficaram. Não tiveram durante os primeiros anos, após o sinistro acontecimento uma só noite tranquila de sono... No silêncio da noite, as chamas se repetiam no velho forno, provocando um clarão imenso... Como se não bastasse o choro e os gritos da menina morta ecoavam por todos os lados, implorando por socorro. Labaredas de fogo que clareava a dezenas de metros como se fosse dia A paz só voltou a reinar no local, quando o forno foi demolido.

LUIZES NA CAPELA ABANDONADA


No alto de um morro, o mais imponente de todos de uma vasta região, logo nos primeiros anos em que o sertão do Cerne começava a ser desbravado foi construída ali uma capela, propositadamente na divisa de duas propriedades rurais. Pode se afirmar que essa capela foi sem dúvida uma das pioneiras a ser construída na zona rural do Norte Novo Paranaense, se bem pesquisado for, pode levantar o título de ser a primeira. Eram os proprietários muito devotos de São Sebastião, que por certo tempo tornou-se o padroeiro do bairro. É importante ressaltar que a capela não foi construída por acaso, e nem foi escolhido o alto do morro para que o Santo tivesse uma visão maravilhosa do seu padroado e sim pela graça de uma promessa alcançada. O proprietário da margem esquerda do templo, um dos filhos foi cometido por uma grave doença. Já desenganado pelo único médico da cidade, no leito de morte a espera da hora cruel... Milagrosamente o rapaz foi curado e o templo mais que depressa foi edificado. Orgulhosamente tive a honra de ser batizado nela e dela guardo vagas recordações dos meus tempos de menino. Por duas décadas a capela ali reinou soberana... Uma vez por mês o padre da paróquia local, sempre no segundo domingo de cada mês celebrava a Santa Missa. Nas noites de sábado e domingo, rezava-se o terço e uma vez por ano, no dia de São Sebastião acontecia uma grandiosa festa. Como o local era de difícil acesso, estabeleceu-se um conflito entre os moradores do bairro. Travam uma ferrenha discussão, que se arrastou por alguns anos... Os mais tradicionais defendiam a continuidade da capela de madeira naquele local, precisando apenas de uma reforma urgente... Outros defendiam a construção de um novo templo, à beira da estrada. Uma capela maior de alvenaria, arquitetura moderna. Como a maioria das famílias era de origem portuguesa e moradores da margem direita do Rio Cerne pode-se concluir que era notória a preferência por mudanças, não só do local do templo, estes defendiam Nossa Senhora de Fátima como padroeira do Bairro. Foi uma disputa danada. Venceram os devotos de Nossa Senhora de Fátima. O novo templo foi construído e a velha capela de São Sebastião, com o passar dos anos ficou pode se dizer abandonada. O velho templo foi sendo consumido aos poucos pela umidade das chuvas, corroído pelos cupins... Quando já ameaçava a desabar, foi então demolido e no local construído uma capelinha para proteger do mau tempo, a imagem do santo e também para que a promessa do proprietário não fosse quebrada. Mesmo assim os devotos iam até ao local, acendiam velas, faziam orações, principalmente no dia vinte de janeiro, o dia consagrado pelos católicos a São Sebastião. Alguns anos depois a capelinha ficou esquecida, a capoeira cresceu ao redor... O mais estranho é que os moradores da região, privilegiados pela visão que tinham daquele morro começaram anotar, ao menos uma ou duas vezes por semana, que a capelinha, nas primeiras horas da noite ficava iluminada... Como se nela houvesse centenas de velas acesas. A princípio, nada de anormal. Acreditava-se que moradores ao redor iam até o local fazer suas orações. Mas os boatos começam a ficar desencontrados. Os mais supersticiosos já davam conta de que era vingança do Santo pelo abandono templo... Quase todos os moradores da região, desde os crédulos até os mais incrédulos confessam terem visto o sinistro mistério, quase sempre no mesmo horário da noite, quanto ao dia da semana não havia tanta regularidade. Comentava-se também que ao redor da capelinha haviam sido sepultados, nos primeiros anos de colonização vários cadáveres, principalmente de crianças recém-nascidas e que podia ser também vingança dos mortos. Certa ocasião, alguns destemidos moradores, numa dessas noites de visagens resolveram colocar um fim no falatório que já ultrapassa as fronteiras do bairro... Após o combinado, munidos de lampiões foices e facões, subiram o morro. Venceram com dificuldade a capoeira que tomava conta da abandonada estrada de acesso à capela. Quando lá chegaram encontraram tudo na mais profunda escuridão... Nenhuma vela acesa, somente a imagem solitária de São Sebastião, dentro do seu oratório e nada, em meio às teias de aranha. A visão sinistra da capela iluminada persistiu por muitos anos... Até que no local foi construída outra capela, muito bonita e imponente... A imagem de São Sebastião foi restaurada. O novo templo passou a ser um ponto, não só religioso como também turístico... Agora, claridade à noite, somente quando as lâmpadas elétricas são acesas, em datas especiais, ou quando os devotos vão ao local para fazerem suas orações.

O HOMEM DA ÁRVORE

Não fugindo à regra, os causos mais cotados estão quase sempre relacionados com época do sertão de Sertanópolis . Com o “Homem da Árvore” não foi diferente... Filho de renomado pioneiro da Água do Couro do Boi. Enquanto fazia a derrubada de mais uma parte da floresta aconteceu um trágico acidente de trabalho. Uma árvore que cortava a golpe de machado, ao tombar por terra, um dos galhos se quebrou, mudou sua trajetória e caiu-lhe sobre cabeça. O pobre rapaz veio a falecer no local, sem que ninguém pudesse lhe prestar socorro. Pois estava só naquele nefasto dia. No local, logo em seguida ao trágico acontecimento, ainda com o sangue maculando a terra roxa plantaram uma cruz de madeira. Nos primeiros anos, ao lado da cruz havia muitas flores... Era comum os parente e amigos do falecido visitar o lugar, acendiam velas e faziam-lhe fervorosas orações. Tudo normal como mandava os costumes da roça e a fé daquele povo sem estudo, mas de uma religiosidade inquestionável. Com o passar do tempo à cruz de madeira apodreceu e não foi substituída por outra. Não cabe aqui buscar explicações para o descaso, mesmo assim o local permaneceu vivo nas lembranças dos entes queridos do falecido. Logo não tardaram a circular os boatos que o local passou a ser mal assombrado. Contam os vizinhos, que até nos dias de hoje, quase todas as noites, uma luz misteriosa atravessa o rio e vai até onde havia a tal cruz. Lá permanece por um bom tempo parado a poucos metros de altura... Em seguida, ouve-se batidas compassadas de machado, como se alguém tivesse derrubando uma árvore. Nem precisa dizer o quanto esse local de beira de rio tornou-se tenebroso e respeitado. Somente os mais ousados se aventuram a passar por aquelas paragens as sombras da noite. Mesmo assim, dão testemunho de sinistras aparições muitos estranhas e assustadoras. O melhor mesmo a fazer é nunca abusar dos mistérios sobrenaturais... Confiar em Deus, nos anjos do bem e nos seus santos.

UMA BOLA DE FOGO MAIOR QUE UMA LUA CHEIA

Era quando muito dezenove horas, certo professor estava a caminho da escola onde lecionava, Naquele tempo morava no centro da cidade, nos fundos de uma casa comercial da qual também era proprietário. Nas proximidades da Rodoviária por acaso olhou para o céu e viu algo luminoso, como se fosse uma pequena estrela, o estranho e que se movimentava no sentido oeste leste. Deve ser um satélite artificial, pensou ele e seguiu em frente. Desde os anos sessenta os americanos e os russos começaram a poluir o espaço infinito com esses instrumentos de pesquisa científicas. Nessa década eram os satélites artificiais um tanto misteriosos. Hoje se sabe a fundo as múltiplas finalidades que eles têm. O suposto satélite daquela noite também poderia ser um avião... Satélite ou avião, tanto faz, o certo é que enquanto caminhava pela calçada, a cada segundo olhava para o céu, seguindo o seu percurso, ou seja, iam à mesma direção, o professor pela calçada e objeto luminoso no céu. Quando estava diante do campo de futebol olhou novamente para o alto, a prumo, sobre sua cabeça... Santo Deus! ... O objeto luminoso que cruzava o firmamento, que era menor que uma laranja... De repente havia se transformado numa bola enorme, maior que uma lua cheia, vermelha como fogo, como se fosse um imenso asteroide caindo em alta velocidade sobre a terra... Naquele instante quase teve uma vertigem... Abaixou a cabeça, certo de que em poucos segundos aconteceria uma terrível catástrofe sobre o Planeta Terra. Jura que pensou nas profecias do fim do mundo, com as estrelas caindo do céu... Só já faltava os anjos celestiais tocarem as trombetas, como está escrito na bíblia. Dentro do tempo previsto, como nenhuma explosão aconteceu... Olhou novamente para o céu, qual foi a sua surpresa? ... A imensa bola de fogo havia desaparecido repentinamente... Graças a Deus! Seguiu a caminha na direção da escola. Mesmo assim, continuou olhando sem parar para o céu. Os fanáticos religiosos profetizam tais mistérios que rondam o nosso infinito universo. Muito se fala e muito do que  ainda vai se ver.

OS CABRITINHOS DO TIO NERSO

Certo dia, próximo ao Natal. O tio Nerso, antigo morador da zona rural da Água do Biguá, embarcou vários cabritinhos que faziam parte do seu criatório, num caminhão Ford velho que possuía e tomou  rumo em direção a cidade de Sertanópolis, a fim de vendê-los para um velho amigo comerciante de animais. No caminho, pela estrada esburacada, aos solavancos da carroceria do caminhão, os cabritinhos aparentavam estar muito felizes... Bééé´, bééé bééé!... Como se festejassem pelo passeio em curso. Mal sabiam que estavam com as horas de vida contadas, pulavam de um lado para o outro, bééé, bééé, bééé!... Faziam uma festa danada na carroceria do caminhão. Ao chegar ao lado de Rio Biguá, com as chuvas torrenciais que haviam caído durante toda a noite passada, encontrava-se o rio com suas águas barrentas em plena cheia, quase saindo do leito... Não havia uma segunda alternativa, a não ser passar pela velha ponte. O tio Nerso, teimoso como era foi em frente, pisando fundo no acelerador, com as rodas do caminhão acorrentadas, espalhando lama para tudo quanto era lado... Não deu outra, a ponte velha não suportou o peso do  caminhão, caiu. O veículo tombou ficando entalado de ponta cabeça no estreito barranco, atirando os pobres cabritinhos por água abaixo, sendo arrastados pela correnteza do rio. Todos morreram afogados. O tio Nerso conseguiu se salvar. Comentam as pessoas que passam pelo local, em altas horas da noite ouvirem os desesperados berros dos cabritinhos, na agonia da morte, como que a pedir socorro, bééé, bééé, bééé!... São histórias que o povo contam e afirma serem elas verdadeiras.

OS MONSTROS DA OLARIA



 Em outra época havia na redondeza dezenas de olarias as margens do majestoso Rio Tibagi. Com a construção da famosa Represa Capivara foram todas demolidas e os barreiros de argila foram engolidos pelas águas lago. Hoje só restam as histórias contadas, dos tempos em que os barracões  tinham múltiplas finalidades, além da fabricação das telhas e dos tijolos eram palcos de festas de casamentos, festas juninas, batizados, carnavais, cantorias dançantes... Registram-se também desses eventos marcantes além dos momentos de confraternizações: Brigas inesquecíveis, quase sempre provocadas pela maldita cachaça, ou ciumeira danada entre casais envolvendo terceiros para atiçar as intrigas. O trabalho nas olarias era diurno, exceto o de queimar o forno que varava a noite. É bom que se diga que é entre uma fornalha e outra havia um intervalo, para o resfriamento dos fornos. Em seguida a tarefa era retirar do forno os tijolos ou telhas  prontos para serem comercializados. Era solitário o trabalho noturno de queimar os forno. Exigia do operário uma atenção redobrada, pois a caloria do forno tinha que estar no ponto certo para se obter um produto de qualidade. Contam os remanescentes desse árduo trabalho muitas histórias noturnas, principalmente de aparições; ora eram as famosas luzes que apareciam e desapareciam repentinamente; ora eram pedras atiradas sobre os telhados dos barracões; ora eram vultos estranhos que transitavam pela estrada de acesso... Poucas pessoas se aventuravam a realizar essa tarefa noturna... Certa ocasião um desses trabalhadores foi surpreendida pelos latidos dos cachorros que vinham pela estrada afora na direção do barracão onde se ocupava com os seus afazeres... Os cachorros latiam como se estivessem perseguindo um bicho selvagem de grande porte. Quando a matilha, em disparada passou pelo barracão, qual foi o seu espanto... Inacreditável! ... Além dos cachorros, ia à frente a correr em passadas largas um vulto como se fosse de um homem, o mais estranho é que só se via as duas penas, bastante altas, o restante do corpo era totalmente invisível... O mesmo homem conta que em outra ocasião, lá pelas tantas da madrugada, de uma noite de lua cheia, também os cachorros puseram-se a latir no terreiro... Eis que, na estrada surgem dois vultos como se fosse um homem e uma mulher com as cabeças cobertas por um pano branco. Fixou bem o olhar, sem desvendar do que se tratava, era uma visão  um tanto sinistra... Pensou: deve ser um casal de namorados em fuga dos pais... Antes mesmo de concluir o pensamento os dois vulto se agigantaram de maneira assustadora, fincando no mínimo três vezes maiores e se foram pela estrada afora causando espanto até mesmo nos cachorros que pararam de latir e retornaram ao barracão grunhindo com os rabos entre as penas... Ficou abobalhado, sem saber o que fazer. Voltou à boca do forno para colocar mais lenha, tremendo que nem vara verde e com os cabelos arrepiados... Dizem que depois daquela noite tenebrosa, não pensou duas vezes, no outro dia pediu as contas ao dono da olaria e procurou outro emprego distante daquela paragem. Hoje, ao redor onde era a antiga olaria, restam algumas casas de madeira, quase sempre desabitadas... Os que tentam ali morar fazem do seu paradeiro, como se fossem cometas errantes. Tratam logo de se mudar para outras localidades, pois as aparições de vultos completamente estranhos são ainda constantes nos dias de hoje.

O LENHADOR FANTASMA

Contam que no sítio da família de um dos pioneiros da região, havia uma mata remanescente da antiga floresta que cobria todas as terras do Norte do Paraná. A referida mata encontrava-se localizada a beira de um caminho na Água do Tigre. Um Senhor, muito conhecido nas adjacências ao passar por aquelas paragens em altas horas da noite, retornando a casa em que morava vindo de uma venda que ficava a beira de uma das rodovias que liga o Estado do Paraná com o Estado de São Paulo. Ainda hoje sente-se confuso ao tentar explicar exatamente o que aconteceu naquela noite sinistra. Só sabe que foi surpreendido por um barulho muito estranho, como se fosse de um animal de grande porte que o acompanhou por toda e extensão da mata. Vinha a poucos metros de distância, quebrando galhos das árvores e pisando forte nas folhas secas amontoadas no chão. Nada pode ver, o negrume na mata era total... Acelerou os passos, quase que a correr e o fantasma fez o mesmo. Sentia o coração em descompasso, batendo acelerado, com as pernas bambas e os cabelos arrepiados... Já totalmente fora da mata em meio ao cafezal, sob a luz da lua e o brilho das estrelas, correndo sem olhar para trás, a sensação que sentia era a de que o tal monstro ainda o perseguia pela estrada deserta. Também nessa mesma mata os moradores ao redor afirmam já terem ouvido o mesmo barulho. Há quem diga ter visto um monstro assustador que costuma aparecer nas primeiras horas da madrugada, principalmente nas noites de lua cheia. Outros dizem que nessa mesma mata, para completar os mistérios ouve-se quase que seguidamente, sempre após a meia noite, golpes de machado, como se fosse de um lenhador... Até chegam afirmar, que em tempos passados, um homem que cortava lenha no meio da mata morreu misteriosamente abraçado com o machado ao lado de um monte de lenha. A partir de então começaram os boatos sobre o lenhador fantasma O mais sinistro é que os moradores ao redor, por várias vezes, a luz do dia vasculharam, palmo a palmo o local, a procura de algum vestígio... Nada encontraram. Continua até nos dia de hoje os mistérios sobre a mata mal assombrada. Quem se habilita a desvendá-los? ...

O LOBISOMEM DA PORTEIRA


 Certa avó, antes de dormir contava a sua neta um fato tenebroso acontecido no lugar onde moravam. Uma das histórias muito estranha e assustadora, Afirmava ela ter acontecido exatamente num sítio, um tanto distante da cidade. A avó, um tanto idosa não foi precisa em  explicar ao certo, exatamente em que lugar da zona rural de Sertanópolis deva ter ocorrido. Dizia avó que naquele ano durante o período da quaresma os cachorros passaram a latir de uma forma muito estranha e os demais animais se comportavam completamente diferente. O mais estranho é que os moradores da região, quando passavam por certa porteira na estrada, que dava acesso a várias propriedade de terra, quando alguém,  na calada da noite se aproximava  da porteira ela  abria sozinha fazendo aquele rangido arrepiante inhééé e na capoeira ao lado ouviam-se gemidos e gritos sinistros. Diziam ser de pessoas que haviam sido atacadas e assassinadas por um lobisomem que rondava no local a procura de fazer novas vítimas. A notícia se espalhou por toda a redondeza, causando pânico geral, principalmente nas crianças. A avó contava também a sua neta que na fazenda vizinha, uma moça muito bonita havia se casado com um rapaz desconhecido. Logo nos primeiros anos de casados, a jovem mãe deu a luz a uma linda menina. Nem bem havia acabado a sua dieta, numa noite de quaresma convidou o marido para fazer uma visita aos seus pais que moravam numa outra fazenda ao redor. O convite não foi aceito pelo marido. Ele não desfrutava de boa convivência com o sogro e nem com a sogra. Tinham lá a suas rusgas mal resolvidas, desde os tempos de namoro... Então a mulher resolveu ir sozinha, levando a criança no colo, Já era noite, pela estrada afora, na companhia das estrelas, seguia em frente. Ao passar pela sinistra porteira foi atacada por um monstro muito estranho peludo de olhos vermelhos como brasa... O monstro pôs-se a a agarrar convulsivamente a manta do bebe, como que querendo tomá-la de seus braços. A mãe, toda aflita começou a gritar desesperadamente por socorro... No clamor do desespero, um único nome que era citado, era nome do seu marido... O mais estranho é que ele misteriosamente, sem explicação apareceu ao mesmo tempo em que o monstro desapareceu. Naquela noite sinistra o casal seguiu em frente, ela ainda tentava se recompor do susto que havia levado com a criança no colo que chorava sem parar.  Ele, estranhamente não trocou uma só palavra com a esposa. Foram ter a casa do sogro.Ela tentou dormir ao lado do marido e da criança, num dos aposentos do casebre. Logo cedo, a esposa foi a primeira a se levantar... Antes mesmo de abrir janela do quarto, pela pouca claridade que entrava  pelas frestas da janela, notou algo muito estranho, o marido  não estava mais ao seu lado e no local  que antes ele havia se deitado sentiu um cheiro muito estranho. Ficou pela segunda vez toda arrepiada sem explicação, sobre o que estava acontecendo...  De uma coisa ela tinha certeza, a de que não estava louca. Mesmo assim ficou a se questionar será mesmo que o meu marido, pai da minha filha era o tal lobisomem que todos comentavam? De volta a casa onde moravam, passou a primeira semana, sem saber que decisão deveria tomar... Pensou, pensou e finalmente tratou de colocar um fim no casamento, mesmo porque já há muito não viviam em harmonia. Ao lado da filha, voltou a morar com os pais, que já haviam se mudado pra cidade. As aparições do lobisomem da porteira ainda continuaram por muitos anos a amedrontar os moradores da região.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

O POÇO MAL ASSOMBRADO


 O depoimento é de um aluno que fez o relato ao seu professor. Diz ele ser testemunha ocular do sinistro episódio. Ficou até transtornado, pálido, suando frio enquanto narrava o caso. Sete anos, era a sua idade. Morava no sítio, lá para as bandas da Água do Meio. Na companhia do irmão mais novo gostavam de brincar ao lado de um poço que diziam ser mal assombrado. O irmão mais velho não dava crédito aos boatos que circulavam na boca do povo, enquanto que ele, um pirralho banguela morria de medo das histórias contadas. Os dois irmãos passavam parte dos dias se divertindo num balanço que o pai havia amarrado numa das árvores, plantadas a propósito, para tornar sombrio, o poço que tinha muita serventia para os moradores do sítio, quanto ao fornecimento da água que consumiam. Comenta-se ser comum, naquele local, a aparição de um casal de namorados diz a lenda que os familiares da moça não concordaram com o namoro e os dois jovens apaixonados, desgostosos resolveram colocar um trágico fim em suas vidas, com uma dose excessiva de veneno. Foram encontrados mortos naquele local, em meio ao gramado, abraçados como se dormissem um sono profundo. Certo dia, no vai e vem do balanço, sem se preocuparem com os boatos, o irmão mais velho empurrava o mais novo, dando-lhe mais impulso, enquanto que ele se deliciava abraçado na corda... Nisto, para o seu espanto avistou dois vultos, vestido de branco, trocando carícias de amor, sentados na grama, ao lado do poço... Não teve dúvida de que se tratava de uma visão muito estranha, tantas vezes já anunciada e que jamais desejou vê-la em momento algum... Quis gritar a voz não lhe saiu... Pálido como estava o irmão dava-lhe ainda mais impulso na corda. Os seus pés já passavam rente à cobertura do poço. Pior ainda, atravessava pelos vultos, tanto na ida como na volta, sem sentir a presença dos corpos. Era uma sensação muito estranha. Na agonia que se encontrava, sem poder falar, arrepiado da cabeça aos pés sentia que a qualquer momento ia ter uma vertigem... O irmão que empurrava pelo balanço achava que estava apenas com medo de ser arremessado para longe, de tão alto que balançava... Valendo-se do bom senso resolveu diminuir a força até que o balanço parasse de se movimentar... Foi então que ficou sabendo do fato acontecido contado pelo irmão. Saíram os dois correndo como  cabritinhos em dia de chuva, na direção da casa, sem olhar para trás, tamanho era o medo que sentiam. Abandonaram para sempre o balanço. Logo em seguida a família veio morar em Sertanópolis. Já se passaram muitos anos, o casal de namorados fantasmas ainda continuam se encontrando misteriosamente ao lado onde existia o famoso poço d`água.

UM LOBISOMEM ATRÁS DA MOITA

 Já se passaram muitos anos, nos tempos da onça, seu José e um a amigo foram caçar capivara, lá para as bandas do Rio Tibagi. Era uma noite de lua cheia. Já no meio da mata resolveram separar-se, cada um foi para um lado, uma estratégia daqueles dois caçadores, que somente eles sabiam explicar ao certo suas táticas de caçadores noturnos. Seu José seguiu pelas margens do rio acima ouvindo o barulho sonoro das águas correntes por entre as pedras. Um vento forte sacudiu os galhos das árvores, os sapos coaxavam como se fosse uma orquestra em noite de sinfonia... Com a espingarda engatilhada, pronta para disparar o tiro, mirava até na própria sombra. Tinha fama de nunca errar o alvo... Nisto, ouviu um barulho estranho atrás de uma moita de capim. Com a arma pronta para o disparo, a passos lentos foi ver do que se tratava. Pois até então não tinha medo de nada. Como quem se prepara para uma façanha heroica procurava desvendar o animal que fazia barulho na mata escura. Valia-se de uma lanterna de pouca claridade... O barulho estranho fez estremecer a galhada de pequenos arvoredos, bem próximo de onde se encontrava... Sentiu um forte calafrio que subiu pelas costas, passando pelo pescoço indo parar na cabeça. Deparou-se com um monstro muito estanho: enorme, com os olhos vermelhos, esbugalhados... Ficou pasmo como se fosse uma estátua, sem ter a mínima condição de atirar no suposto fantasma. Quando se recuperou das pernas... Não sabe ao certo por quanto tempo ficou ali parado, cara a cara com a visão sinistra. Deixou o local de cabelos ainda arrepiados. Foi ao encontro do amigo e contou-lhe o fato acontecido, que não acreditou em sua história, pois tinha fama de mentiroso. Mas naquela noite estava falando a verdade. De uma coisa ele ainda tem absoluta certeza, o tal monstro não era nenhuma capivara... Seria então um lobisomem? ... Isso ele não confirma, mas jura que em toda a sua vida, nunca viu nada semelhante.

O FATASMA NA SALA


 Este caso foi contado por um garoto aos seus amigos... Segundo o relato dele, o seu tio dizia que havia um homem muito religioso na cidade de Sertanópolis. Exatamente num dia de domingo, a esposa resolveu passar o dia e a noite na casa dos pais. O marido, alegando estar cansado ficou só em sua casa. A noite foi dormir mais cedo e logo pegou no sono. Lá pelas tantas da madrugada acordou com um barulho muito estranho vindo da sala... A princípio pensou que era o gato de estimação, cujo nome era Tito... O barulho foi aumentando... Aumentando, aumentando e nenhum miado pode ser ouvido. Não, não pode ser o Tito, pensou. O que estava ouvindo, agora mais nítido era o som de uma música muito sinistra... Custou-lhe acreditar, pois tinha absoluta certeza de que havia deixado o rádio desligado antes de se deitar... A música continuou tocando e cada vez mais alto. Temente a Deus como era, levantou-se, a passos lentos e cautelosos foi ver do que se tratava... Quando chegou à sala, acendeu a luz... Santo Deus! ... Deu de cara com um homem muito esquisito, todo de branco, muito pálido. Ainda teve forças para perguntar ao invasor sinistro, quem era e o que estava ali fazendo naquela hora em seus aposentos? ... O suposto fantasma continuou sentado no banco de madeira ao lado do rádio, que ele mesmo jura ter deixado desligado, ouvindo aquela música estranha, alheio ao dono da casa, fumando um cachimbo, soltando baforadas de fumaça. Seria uma alma penada do outro mundo? ... Com certeza! ... Fechou os olhos, apegou-se às orações das quais tinha muita fé... Quando terminou de orar, fez-se um silêncio total no recinto, a música parou de tocar... Abriu os olhos... O homem havia desaparecido, restando apenas um cheiro de fumo forte no ar. Depois daquele dia, antes de dormir, repete sempre as mesmas orações. Nunca mais avistou nenhum fantasma em sua casa.

A LENDA DA GALINHA CHOCA


Dizem que uma mulher, uma antiga moradora da Água do Tigre cuja casa ficava a beira de uma mata e que tinha o terreiro povoado de galinhas foi vítima de um caso inusitado. Desfrutava essa mulher de uma fartura de ovos e aos domingos saboreava com a família um franguinho caipira feito a capricho na panela de ferro, no fogão a lenha. Certo dia, enquanto caminhava a beira da mata, a cata de ninhos das galinhas nas moitas para recolher os ovos,  viu uma galinha choca ciscando em meio à terra fofa enchendo o papo de bichinhos. O estranho é que aquela galinha era-lhe desconhecida... Mesmos assim, até ai, nada de anormal. Galinhas chocas eram tantas naquele terreiro que até se perdia a conta... De repente, algo muito estranho lhe aconteceu. A galinha misteriosamente desapareceu... Pior ainda, começou a levar uma surra de chicote nas costas e por todos os lados do corpo. Olhou para todos os lados enquanto apanhava e gritava por socorro, nada viu... Ficaram as marcas da chicotadas. Retornou a casa muito assustada e dolorida. Tomou um banho de salmoura, numa bacia d'água. Contou o fato acontecido aos familiares deixando-os também de cabelos arrepiados. Como as visões as surras de chicotes se repetiram por várias vezes, com a mesma pessoa e com outros membros da família sempre aparecendo misteriosamente antes e sumindo em seguida a tal da galinha choca... Trataram logo de vender a propriedade e se mudaram para a cidade. Ainda, nos dias de hoje, dizem que sinistra galinha choca continua aparecendo no local... As vítimas fogem o mais rápido possível, afim de não levarem nos lombos as dolorosas chicotadas invisíveis. Pergunta-se que ligação poderia ter a galinha choca com as chicotadas invisíveis? Sabe-se que nenhuma comparação pode ser feita... Mas os quem conta esse causo jura ser ele verdadeiro.

A VELHA CIGANA E A BELA MOÇA

 Lá por volta das décadas de 1930 e 40 passou por certa cidade da região norte do Paraná. Há que, afirme ter acontecido em Sertanópolis, quando ainda era uma pequena comunidade. Dizem que tudo aconteceu com a chegada de uma caravana com dezenas de ciganos, com todas as suas tradições culturais: Muita dança e previsões sobre o futuro, além de curas milagrosas... Fazia parte da caravana uma senhora já de idade avançada. Era a mais solicitada de todas as ciganas nas questões de adivinhações. Na sua tenda o que não faltavam eram os curiosos querendo saber sobre o futuro. Uma jovem muito bonita, julgando-se não levar sorte no amor foi até a famosa cigana tentando desvendar o seu próprio destino. Lá então,  foi informada pela vidente de que na sua vida iria ocorrer uma reviravolta completa e que ela iria encontrar o seu verdadeiro príncipe encantado ainda naquele mesmo dia...  Mas que ela teria que pagar um preço muito alto, não em dinheiro, em outras coisas de muito mais valor... Mal a jovem havia saído da tenda, deparou-se com um rapaz corpulento, muito bonito... Trocaram um olhar penetrante, indo estremecer no fundo do coração... Foi um amor a primeira vista... Uma paixão avassaladora, uma união de corpo e alma tendo início naquele encontro fatal. Mal sabia que o príncipe era também um cigano. Logo ela também se tornou uma cigana e começou a fazer parte da companhia. Tal qual como havia sido profetizado, não só as coisas boas aconteceram como também a ruins. Os seus pais ainda desgostosos com as decisões precipitadas da filha,  foram vítimas de um terrível acidente de carro morreram todos, até mesmo os seus dois irmãos mais novos. Inconformada a linda moça retornou a tenda da velha cigana para reclamar da sorte ingrata... Disse-lhe a cigana que a única maneira de reencontrar com os seus entes queridos isso só aconteceria no plano espiritual. Ou seja, ela também teria que morrer... Com o seu consentimento, a velha cigana fez com que a bela moça entrasse em sono profundo e nunca mais acordou... Dada como morta foi o seu corpo sepultado no cemitério local. Diz à lenda que a sua sepultura é muito visitada até mesmo nos dias de hoje... Não se sabe como e nem de onde, no seu túmulo é comum encontrar objetos ligados às tradições culturais dos ciganos.

UMA NOITE DE TERROR


Tudo aconteceu numa noite de quaresma, num sítio a aproximadamente uns dez quilômetros da cidade  da cidade de Sertanópolis, com uma família que morava nas proximidades da capela. Como era tempo de quaresma a família resolveu ir à cerimônia da Via-sacra. Uma parte dos membros da casa resolveu ficar em casa, um filho adolescente e duas filhas ainda criança. Naqueles tempos, energia elétrica na zona rural nem pensar, as noites ainda eram iluminadas pelas famosas lamparinas a querosene. Mal os pais saíram, os irmãos trataram logo de trancar as portas e janelas e juntos foram ouvir o rádio movido à bateria. Como o som estava péssimo devido à bateria está quase descarregada, as meninas foram para o quarto e o garoto continuou na sala tentando sintonizar uma estação que apresentasse menos chiado já que as demais era uma zoeira total. Passara-se certo tempo e o garoto, já com o rádio desligado ainda reinava na sala planejando aprontar uma safadeza mal agourenta com as irmãs que com certeza aquelas horas já dormiam... Matuta daqui, matuta de lá... Nisto foi surpreendido por um barulho muito estranho vindo do interior de uma mata que havia perto da casa... Era um barulho indecifrável, com nada conhecido podia ser comparado... Os cachorros puseram-se a latir como que também persistem algo irreconhecível... O barulho foi aumentando, vindo na direção da casa e os cachorros davam sinais de que estavam também com medo, já não latiam mais, grunhiam... Com certeza estavam com os rabos entre as pernas buscando proteção debaixo do porão da casa... O barulho era confuso e já rondava o terreiro da casa... As meninas acordaram e vieram todas assustadas para a sala. Deram com o irmão de cabelos arrepiados, tremendo que nem vara verde... Ninguém era capaz de falar uma única palavra... Ficaram os três de olhos arregalados paralisados como se fossem estátuas... Lá fora havia um turbilhão de sons e ruídos muito estranhos... Às vezes se parecia com centenas de pessoas falando ao mesmo tempo em línguas desconhecidas... Tinham a nítida impressão do barulho de serrotes cortando madeira, martelos pregando prego... Nessas alturas os cachorros nem davam sinais de vida... Como se não faltasse mais nada começou a ventar e o vento forte zunia na antena do rádio... De repente fez-se um silêncio total... A fumarenta lamparina da sala deu mais claridade ao ambiente... Ouviram a batida da porteira próxima a casa, Já se podia notar os passos e um barulho bastante peculiar... Era o restante da família que já retornavam da capela numa prosa bastante animada... O filho mais velho mal conseguiu abrir a porta, ainda estava pálido e trêmulo, as duas meninas estavam geladas, ainda sem fala, sem saber do que se tratava ninguém foi capaz de dormir naquela noite... Somente no outro dia é que as vítimas contaram aos pais e aos irmãos mais velhos o sinistro acontecimento. Como o mistério nunca mais se repetiu... Ninguém foi capaz de dizer ao certo o que realmente aconteceu naquele sítio, naquela assombrosa noite da quaresma.

NOITES TENEBROSAS


 Numa fazenda, distante da cidade, as margens do Rion Tibagi, algo muito estranho acontecia em noites de lua cheia... Era uma fazenda de criação de gado, havia alguns cavalos de sela que eram ousados no trabalho campestre, algumas casas em meio à invernada de capim colonião que eram habitadas pelos peões que cuidavam dos animais... A sede da fazenda, um Casarão de várias décadas estava quase sempre de portas trancadas, pois os fazendeiros moravam na cidade de Londrina... Diziam que nas noites de lua cheia era comum ouvir o assoviar semelhante aos dos boiadeiros enquanto tocavam o gado de um pasto para outro ou de quando eram levados para o curral... Todos ouviam um sinistro assoviar e os cavalos corriam relinchando de um lado para o outro da invernada, o gado aprontava um tropel incontrolável... Os peões mal saiam para os terreiros das casas era como se nada estivesse acontecendo... Tudo ao redor em plena paz, na mais perfeita harmonia, somente a lua prateada no céu dava-lhes as boas-vindas... Mal retornavam aos aposentos, fechavam as portas dos casebres, apagavam as luzes... Pronto! ... Começava tudo outra vez e nada dos mistérios serem desvendados. Para que se confirmasse o mau presságio, no dia seguinte, muitos vestígios eram encontrados... Os rabos e as crinas dos cavalos amanheceram cheios de nós... Galinhas que estavam chocando, os ovos eram quebrados, as porteiras abertas... Os bezerros que estavam apartados amanheceram soltos ao lado das mães... De tudo isso, uma única coisa era certa... Os fatos sinistros se repetiam novamente, com mais intensidades e algumas alternâncias sempre em noite de lua cheia. Certas pessoas dizem que era obra do Saci... Outros afirmam em parte que os animais eram atacados pelos morcegos vampiros. Sendo ou não obra do Saci ou dos morcegos vampiros os acontecimentos sinistros ainda acontecem sem explicação, conforme conta o narrador deste causo.

A LENDA DA MOÇA LOIRA


 Alguns Anos atrás uma bela moça loira, de cabelos cumpridos, olhos castanhos, filha de antigos moradores de uma fazenda de café estava prestes a se casar com um rapaz também muito conhecido e respeitado na região. A donzela tinha por hábito passear todas as tardes às margens do rio que dava nome ao lugar, ou seja Couro do Boi. Para os que não sabem o rio ainda tinha, naquela época a magia e o encantamento  da era sertaneja. Infelizmente com o advento da mecanização agrícola sofreu toda a malevolência provocada por assoreado criminal. Agora tenta se recuperar tardiamente pela implantação da mata ciliar...,Aquelas paragens deram acolhida a noiva radiante que não cabia em si de tanto contentamento, às vésperas da realização do seu grande sonho. HÁ poucos dias antes do enlace matrimonial, com todos os preparativos prontos para a grande festa, o pior aconteceu.  A noiva ficou enferma, cometida de um mal súbito que a levou a óbito quase que repentinamente sem que houvesse tempo para ser hospitalizada. Um fato muito estranho passou acontecer nas margens do rio por onde a moça fazia a suas solitárias caminhadas... Muitos moradores ao redor afirmam já  terem visto uma bela mulher vestida de noiva passeando no local. Essa lenda passou a ser contada em toda a região. Se você é daqueles que não tem medo de visões sinistras, sobrenaturais de uma passadinha por lá quem sabe pode ter a sorte de ser contemplado por mais uma das aparições da noiva misteriosa.

UM VULTO MUITO ESTRANHO


Um morador de uma chácara próximo à cidade era do tipo que vivia o tempo todo de mau humor. Sempre xingado a quem estivesse por perto, tratava os parentes e conhecidos com uma ira demoníaca. Tinha por hábito, quase todas as tardes ir até a cidade, pois era chegado numa cerveja. Fazia seu ponto predileto num dos bares, logo na entrada de Sertanópolis... Tomava umas e outras... Quando já estava pra lá de embriagado retornava a casa falando sozinho, com a língua enrolada, uma ladainha incompressível, num linguajar de arrepiar os cabelos. Numa noite de lua cheia, por incrível que pareça não estava tão bêbado como de costume... De repente percebeu que alguém o acompanhava... Supondo ser um dos poucos amigos começou a prosear e a conversa contrariando a sua maneira de ser até que por sinal estava animada... Ao chegar perto de uma porteira, quando foi abri-la... Foi então que percebeu que estava conversando com um vulto que se transformou em uma coisa arrepiante jamais vista em toda a sua vida. Apressou os passos, pela estrada deserta e o monstro vinha atrás fungando em sua nuca, soltando baforadas de fogo, chegando a chamuscar lhe os cabelos mais que arrepiados. Só se livrou por completo do fantasma quando adentrou em sua casa e trancou a porta. Depois do fato acontecido, o tal homem mudou sua rotina, passou a tomar a cervejinha em casa ao lado da esposa e filhos. Dizem até que se transformou numa ótima pessoa.

CERTOS MISTÉRIOS NO CEMITÉRIO


 Conta uma neta as amigas que a sua avó enquanto dormia teve um pesadelo. Uma voz misteriosa disse-lhe que devia ir ao cemitério no dia seguinte e que queimasse no cruzeiro uma vela para cada uma de suas costelas. Quando acordou do pesadelo ficou muito apavorada... Sentiu um cheiro terrível que exalava por todos os aposentos da casa. Levantou-se e nada visível foi constatado, somente o odor insuportável teimava em desfiá-la... Retornou ao leito. Não pegou mais no sono durante aquela noite. Rolou na cama sem parar de um lado para o outro até o amanhecer do dia. Assim que tomou o café, mal o dia havia raiado na companhia de uma filha foi ao cemitério queimar as velas conforme as recomendações do pesadelo sinistro. Quando lá chegaram depararam-se com uma menina toda suja e maltrapilha, descalça, cabelos mal tratados perambulando na terra santa dos mortos... A menina solitária andava por entre os túmulos chamando-lhes atenção... Assim que começaram acender as velas ao pé do cruzeiro a menina desapareceu sem deixar vestígio. Passados certo tempo a avó retornou ao cemitério, desta vez acompanhada pela empregada... Quando lá chegaram, ao invés de queimar logo as velas no cruzeiro foram visitar túmulos aleatoriamente de conhecidos e de estranhos... Desta vez a menina maltrapilha não foi avistada... Pior ainda, levou uma bofetada no rosto e outra nas costas... Em plena  luz do dia olhou para todos os lados e nada viu... Contou a empregada o fato acontecido que ficou muito assustada, trêmula dos pés à cabeça, trataram o mais rápido possível em acender as velas e retornaram em profundo silêncio a casa... Até hoje a avó não sabe explicar aos netos exatamente como tudo aconteceu. Mas afirma serem os dois episódios acontecidos no cemitério verdadeiros. Visitas ao cemitério, só no enterro de parentes ou de pessoas muito conhecidas... Aos mortos, afirma convicta a avó, que todos tenham o descanso eterno em paz.

A LUZ DO MORRO


O Muito já se falou sobre a luz que aparecia em certo morro de uma região rural intensamente povoada. Já foi contada em livros: em prosa e versos. O mais intrigante é que ela aparecia sempre fazendo o mesmo percurso, no sentido oeste-leste. Assemelhava-se a luz de um lampião sendo carregado por alguma pessoa e não se podia estranhar o fato dela aparecer exatamente em um lugar bastante visível e que havia ali um caminho. Não tinha nem dia e nem hora certa para aparecer, mas o fato acontecia em torno das 20 horas, quando as famílias da região já haviam jantado, e como costume da roça, nesse horário, ficavam os moradores reunidos ao lado de fora, tomando uma fresca, contando causos. Anos após anos, décadas após décadas, a tal luz, uma ou duas vezes por semana fazia o trajeto de rotina... Seria a mesma pessoa carregando um lampião? ... Impossível, mesmo porque o caminho, com o tempo ficou abandonado e intransitável. Tal mistério foi comentado ao padre da cidade: _ Gostaria de ver, só que não acredito em nada de sobrenatural. – Disse o padre. Passados certo tempo, numa noite de sábado o padre foi até a zona rural, onde iria rezar a missa mensal na capelinha do Bairro, no dia seguinte pela manhã. Como de costume pernoitava na casa de uma senhora muito conhecida e respeitada em toda a redondeza. Naquela noite a família hospedeira e o padre estavam reunidos na varanda, enquanto conversavam: _ Padre! ... Padre! ... Olha lá a luz do morro. Falou a senhora anfitriã. O padre olhou na direção e pensou por alguns segundos para ter certeza no que iria falar: _ Meu Deus! ... Quanta ingenuidade! ... Aquilo é um lampião. É gente que vai lá, não sei pra onde... Mas a luz é de um lampião. Mal o padre havia acabado de falar, a luz provou o contrário: tornou-se mais intensa, subiu acima do nível do espigão, rodopiou várias vezes no ar, desceu sobre a mata como se viesse na direção da varanda do casarão numa velocidade espantosa e em seguida, desapareceu misteriosamente antes de atravessar o ribeirão... Logo em seguida retornou reaparecer serenamente ao seu costumeiro caminho, como se nada de extraordinário tivesse acontecido. O silêncio tomou conta da varanda: _ Seja lá o que for não sei do que se trata. Falou o padre. A misteriosa luz continuou aparecendo, ainda por muitos anos... O mais estranho é que as famílias que povoavam o local, com o fim das lavouras cafeeiras mudaram-se para outros lugares do Brasil. A região ficou quase desabitada e a luz desapareceu para sempre.

OS FANTASMAS DO RIBEIRÃO


 Conta-se que o fato aconteceu com um garoto, filho de uma família renomada de pioneiros da Água do Cerne. Escreve ele através de memórias literárias, publicada em livro, de sua autoria, já em fase adulta que aos doze anos de idade, traumatizado com a morte do pai e de duas irmãs, ocorridos num curto espaço de tempo. Numa tarde de verão foi até o Ribeirão pescar, seu lazer predileto. Com cuidado desceu o barranco, havia ali um velho tronco de árvore encalhado desde a última enchente, estendia-se no sentido água abaixo, com a parte mais grossa ancorada no barranco, como se fosse uma plataforma. Bem acomodado no tronco da árvore o garoto iniciou a pescaria, como fazia uma ou duas vezes por semana. Isca o anzol, estendeu o caniço ao longo do tronco, deixou-o preso em um dos galhos secos, com a ponta da vara pendendo uns três palmos adiante do fim do tronco, suspensa sobre as águas do rio, sempre na mesma direção, com a mesma quantidade de linha. Era infalível, quase que de imediato começavam os puxões e o pequeno pescador ia colocando peixes e mais peixes sobre o picuá que deixava pendurado num outro galho seco ao alcance das mãos. De repente tudo aconteceu. O garoto sentiu uma sensação de que não estava sozinho, de que alguém se aproxima dele e o espreitava a uma curta distância. Um forte calafrio tomou conta de seu corpo... Um receio pavoroso... Um medo indefinido o impediu de olhar ao redor na tentativa de desvendar o mistério. No outro lado do rio, uma forte lufada de vento agitou estranhamente as moitas de capim colonião, isso ele pode ver, pois estava com olhar fixo na direção. Entretanto, até então, a tarde era mormacenta, sem nenhuma aragem. No mesmo instante, em verdadeira superposição de fatos, parece que vinda da margem oposta, ouviu a mais estranha e irreal das vozes: choro ou canto? Grito ou gemido? Lamento ou acalanto? Seu coração se descompassou. Sentiu as pernas pesadas e imóveis sobre o tronco da árvore, com o olhar embaçado, um zumbido nos ouvidos e a sensação de que algo muito estranho se aproximava dele para um contato incrivelmente doloroso, talvez mortal... Uma brisa fria passou pelo seu rosto como se fosse uma estranha carícia... Sentiu tremor no corpo e ficou com os cabelos ainda mais arrepiados. Não sabe por quanto tempo ali permaneceu... Num esforço supremo conseguiu levantar-se... Subiu o barranco do ribeirão... Atravessou a cerca de arame e saiu correndo na direção da casa e ainda ouvia vozes desesperadas e distantes. Quando chegou a certa distância do ribeirão é que sentiu o alívio de não ter ninguém o seguindo... Embaixo de uma árvore do pasto, jogou-se no chão exausto. Transpirava exageradamente e arquejava em gemidos profundos... Uma forte náusea evolveu-lhe o estômago... Vomitou não sabe quantas vezes. Mais tarde na companhia do irmão, já adulto, desceram até o ribeirão a procura de um bezerro... No local onde pescava o silêncio só não era absoluto devido o barulho das águas batendo nas pedras. No caniço que tinha deixado para trás havia um belo mandi fisgado no anzol, o maior até então pescado, naquele dia sinistro.

O CHORO DA SOGRA MORTA

 Em certa rua de Sertanópolis, fora do centro, quando ainda não havia asfalto, em uma casa bem modesta moravam quatro pessoas: marido, esposa, sogra e uma filha, ainda criança. Com a morte inesperada da sogra, a família em pleno luto, algo muito estranho aconteceu naquela residência. Era uma noite fria de inverno, a mãe e a filha foram dormir mais cedo que o horário de costume, sem a companhia do marido que trabalhava na portaria do hospital. Pois era a noite do seu plantão. Lá pela madrugada aconteceu o inesperado... Um choro muito sofrido começou a rondar a casa, insistindo em incomodar a mãe, enquanto a filha dormia... O choro sinistro assemelhava-se com o da falecida sogra. O tal choro não dava trégua e passou a ficar ainda mais alto e arrepiante... Em certo momento a mãe teve a nítida impressão de que alguém havia entrado no seu quarto, acendeu a lâmpada e nada pode ser visto... De repente ela sentiu um movimento na cama como se uma pessoa adulta havia se deitado ao seu lado... Apavorada pôs-se a rezar. Foi então, que o choro voltou a se repetir do lado de fora da casa, lá continuou por mais de meia hora. A mulher jura que o choro era realmente o de sua sogra... O mais estranho é que os vizinhos mais próximos da casa nada ouviram.

UM ESTRANHO NO VELÓRIO


Alguns anos atrás, numa das igrejas da cidade aconteceu um velório de um homem, morador nas proximidades. Lá pelas tantas da madrugada, em volta do caixão havia apenas três homens e duas mulheres conhecidos do defunto. Nisto chegou um homem, totalmente desconhecido, com cara de poucos amigos, nem sequer cumprimentou os participantes do funeral. O mais estranho é que começou a falar palavrões em altos brados, em seguida arrancou uma faca da cinta e começou a riscar o chão e as paredes do templo fazendo sair faísca de fogo e dava sonoras gargalhadas enquanto insultava a pequena plateia. Um dos amigos do defunto, tremendo que nem vara verde, perguntou-lhe: _ O que o senhor deseja? ... Quer um cafezinho? ... Uma dose de cachaça? ... _ Não vim aqui, nem para comer e nem para beber. _ Respondeu o homem. As cinco pessoas ficaram sem saber o que fazer e nem como pedir socorro. Uma delas ainda perguntou ao forasteiro onde morava: _ Onde moro não é da conta de ninguém. Qual o problema? ... Vim aqui para matar ou morrer! ... Pelo jeito ninguém aqui está a fim de me encarar... Vamos! ... Cadê os machões desta cidade? Todos tremiam da cabeça aos pés, esqueceram-se até do defunto dentro do caixão, próximo ao altar, ladeado de velas acesas. Passados certo tempo, esbravejando, com a faca na mão saiu porta afora da igreja e num segundo desapareceu misteriosamente. A polícia foi avisada, mas ninguém mais viu o tal homem. Depois deste acontecimento, dizem que os defuntos deixaram de ser velados naquela igreja.

OS FANTASMAS DA PEDREIRA


 Conta o avó a sua neta, que quando ela veio morar na cidade as ruas não eram asfaltadas e durante a noite eram mal iluminadas. Principalmente as mulheres tinham muito medo de andar sozinho, somente saiam  acompanhadas pelos maridos. Onde o avô morava, perto de sua casa, havia um terreno abandonado, no local, antigamente existia uma antiga pedreira já desativada. Com o passar dos anos o capim tomou conta do lugar. Durante o dia era comum encontrar no local um bode preto, muito velho, chifres retorcidos e enormes. Para alguns o velho bode pertencia a um morador ao redor, para outros o bode não tinha dono. Falavam coisas horrorosas do velho animal. Mas os fatos mais sinistros não estavam relacionados com o pobre animal. Em altas horas da noite, quase ninguém se arriscava passar por aquele recanto... Diziam ser comuns aparições sinistras, como a de um caixão de defunto voador, gargalhadas e choros vindos do meio do capinzal e de pessoas que eram seguidas por vultos inexplicáveis. Um jovem estudante jura ser testemunha de um fato muito estranho. Certa noite, quando retornava da escola, ao passar pelo local, vários postes nas imediações da sinistra pedreira encontrava-se com as luzes apagadas. Graças a uma bela lua cheia havia certa claridade. Naquela noite constatou um barulho estranho vindo do capinzal. A princípio achou que fosse o bode ou algum cavalo solto pastando a farta comida. O barulho misterioso foi saindo do capinzal vindo ao seu encontro. Pensou em correr, pois faltavam aproximadamente umas cinco quadras para chegar a casa onde morava. Sem que houvesse tempo começou a ouvir o choro de mulher a poucos metros de distância. Olhou para trás, qual foi a sua surpresa, a rua estava completamente deserta, somente ele e o clarão da lua. Apertou os passos e o choro da mulher invisível  o seguia cada vez mais alto e mais próximo aos seus ouvidos Aquele choro desesperado e incontrolável  o acompanhou até o portão da casa. Confessa que nenhum vulto pode ser avistado. Com o passar do tempo, a cidade cresceu, onde era a pedreira, a cratera foi aterrada, e construída várias casas de alvenaria no local... Somente restaram as histórias que ainda hoje são contadas.

ALENDA DA MULHER ESFAQUEDA


 Certa fazenda, distante da cidade de Sertanópolis, conta os antigos moradores daquela região de que lá vivia um casal, aparentemente muito feliz. Em outra casa, na mesma colônia havia uma família, da qual pertencia um rapaz muito bonito. Quase todas as tardes a mulher, saia a passeios duvidosos, desaparecia propositadamente em meio ao milharal. Na verdade ela mantinha encontros secretos amorosos com o rapaz já citado. Era um caso antigo, muito sigiloso, até que o marido passou a suspeitar da esposa que no mínimo duas ou três vezes por semana, na boca da noite dava as suas escapadas rotineiras. Tudo premeditado, bem arquitetado... Certo dia o marido seguiu-a de maneira muito sutil. Levou na cinta uma faca bem afiada e pontuda. Chegando ao milharal... Qual foi a surpresa? ... Encontrou-a nos braços do amante, aos beijos ardentes. Naquele momento, sentindo-se traído, alucinando avançou para cima da mulher e do rapaz dando-lhes diversas facadas... O rapaz teve mais sorte, foi atingido apenas de raspão, nos braços e na barriga. Todo ensanguentado conseguiu fugir mesmo com dores terríveis provocadas pelos ferimentos  e nunca mais retornou retornou a casa onde morava... Tomou rumo ignorado, somente os familiares ficaram mais tarde sabendo do seu paradeiro. A mulher, com o corpo todo alvejado, teve morte repentina no local. Depois do fato acontecido o lugar passou a ser mal assombrado. Afirma-se que muitas pessoas já ouviram, enquanto passam pelo local do crime, a voz misteriosa de uma mulher gritando por socorro.

A ESTRADA MAL ASSOMBRADA


Certa noite escura, um rapaz morador em um sítio perto da cidade, depois de um amoroso encontro com a noiva em sua casa... Enquanto retornava, já depois da meia noite ao passar por uma baixada, onde a estrada era estreita, ladeada por uma reserva de eucaliptos... Mesmo sendo corajoso, naquela noite começou a sentir algo estranho dentro de si enquanto pedalava apressadamente a bicicleta, cujos faróis eram de pouca luminosidade. Lá ia o rapaz sentindo fortes calafrios constantes por todo o corpo, já com as pernas bambas, quase sem força para pedalar o veículo... Até que, vindo do meio do bosque, começou a ouvir um barulho não identificado, quebrando galhos, fungando seguidamente. Pensou ser algo sobrenatural... Diziam coisas tenebrosas acontecidas naquela baixada sombria, histórias de arrepiar os cabelos. Era o rapaz muito religioso, pôs-se a rezar... Criou coragem, tirou do bolso uma lanterna que carregava como prevenção... Focou a luz na direção de onde vinha o barulho, seja lá o que for, pensou... Fortalecido pelas rezas de uma coisa ele tinha certeza: não arredaram os pés do local sem desvendar o mistério...  Tudo em volta ficou calmo, nem mesmo o vento sacudia as folhas dos eucaliptos... Não! ... Não pode ser! ... Surdo ele não estava... Tinha absoluta certeza de que não estava ali parado por acaso, inventando fantasmas do além... Procura daqui, procura de lá... Qual foi a sua surpresa... Não era lobisomem, nem mula sem cabeça... O suposto fantasma era um boi que havia fugido do pasto.

COBRA FERIDA PERIGO DOBRADO


Diziam os pioneiros: Em cobra venenosa não se bate para machucar, é preciso matá-la. A primeira pancada deve ser dada no meio para quebrar-lhe a espinha e em seguida esmagar lhe a cabeça, caso contrário ela vinga-se do agressor. De tanto ouvir esse ditado popular um adolescente da roça acabou por herdar um trauma terrível sobre qualquer espécie de cobras. Estava ele e um colega de infância pescando de peneira, nas águas do ribeirão do Cerne. Eram naquela época dois pirralhos atrevidos, sem terem ainda as mínimas noções dos perigos que rondavam às margens do ribeirão com suas águas ainda um tanto misteriosas e selvagens. Naquela tarde de verão contavam com a sorte, nos primeiros minutos de pescaria. O rio estava de boa lua, a cada peneirada que enfiaram sem medo por debaixo das moitas de capim que se acomodavam sobre as águas, as peneiras saiam cheias de lambaris e cascudos. De quando em quando pintava um bagre ou uma traíra de médio porte. Os picuás de panos que carregavam pendurados sobre os ombros já estavam quase cheios de peixes. Nisto, na outra margem do ribeirão avistaram uma enorme cobra pintada, sabe-se lá o nome da peçonhenta! ... Só sabe que o seu colega não pensou duas vezes, tirou do pescoço o estilingue, enfiou a mão na água e apanhou uma pedra do tamanho de uma jabuticaba. Mirou bem a pontaria e mandou ver a pedrada ... A cobra ferida rodopiou por alguns segundos e sumiu. Logo em seguida reapareceu nas águas erguendo mais da metade do seu corpo, com a língua de fora e veio como um raio na direção dos dois pequenos pescadores. O colega conseguiu fugir... Ele, infelizmente não teve a mesma sorte, tropeçou numa pedra e caiu em meio às águas correntes... Tentou-se levantar o mais rápido possível, mas foi em vão à cobra furiosa já estava a menos de um metro de distância, só teve tempo de colocar a peneira como se ela fosse um escudo em frente do seu corpo, protegendo-se dos pés a cabeça. Sentiu a danada tocar no arame da peneira e em seguida desapareceu nas águas do rio... Foi salvo pela peneira. Manquitolando, aos trancos e barrancos, conseguiu sair do rio... Só sabe dizer que os peixes que estavam no picuá foram por água abaixo. Nunca mais praticou esse tipo de pescaria. Numa outra ocasião, ele foi trabalhar sozinho num talhão de café a beira de um mato. Seu pai e seu irmão mais novo foram à cidade. Fazia muito calor naquela manhã, terra úmida que agarrava-se na enxada, formando uma bola de terra pegajosa, seguidamente tinha que limpá-la com uma pequena pá, feita de casca de peroba. Já havia almoçado, enquanto capinava uma rua de café, perto de uma laranjeira rosa carregada de frutos maduros, uma delícia... Quando de repente, ao desmanchar com a enxada um monte de canas de milho saiu do seu precário esconderijo, uma cobra urutu cruzeiro. Só teve tempo de dar-lhe uma enxadada no lombo. Não viu mais nada, a cobra sumiu por debaixo de um pé de café... Ficou com o corpo todo arrepiado. Mais do que depressa foi capinar do outro lado do talhão de café. O medo era tanta que qualquer graveto que lhe revelasse nas pernas já era o suficiente para sentir um terrível calafrio e pular de um lado para outro, que nem um cabrito novo. Nisto, eis o que ele vê novamente... Exatamente a cobra urutu cruzeiro, com o corpo ensanguentando meio que descadeirada, vindo na sua direção... Largou a enxada no local, pernas para que te queira e fincou o pé na estrada, como diziam os matutos moradores na redondeza. De volta a casa, quando lá chegou, sua mãe, muito curiosa quis saber o motivo do seu regresso antes da hora prevista: _ Não foi nada não, mãe. _ O que foi que te aconteceu, _ Existiu a mãe achando evasiva a sua afirmação. Gaguejou, acabou mentindo. Disse-lhe que tinha sido vítima de uma terrível dor de barriga, acompanhada de diarreia danada. A santa criatura foi logo para o fogão a lenha fazer-lhe o abençoado chazinho de marcelinha. Confessa que estava precisando mesmo era de um chá de erva cidreira.

MEIA NOITE NO CEMITÉRIO


 Após algumas horas de festa, numa capela da zona rural, na Agua das Sete Ilhas,  três jovens da cidade de Sertanópolis retornavam às casas, um pouco passados na cerveja, mais alegres do que embriagados. Ao chegar à entrada da cidade, um deles fez um convite um tanto inusitado de irem ao cemitério, já em horas avançadas da noite e que foi aceito por unanimidade. É que, naquele dia havia morrido um dos bêbados mais famosos de toda a região, o popular “Bituqueiro”. O pobre homem vivia pelas ruas da cidade, pode se dizer, como um mendigo, ganhou o referido apelido, não por acaso, é que saciava o vício de fumar catando bitucas encontradas nas ruas. Com a morte, foi o seu corpo velado na capela do cemitério... Durante o dia, no velório não faltaram os duvidosos amigos. À noite, bem... Alguns gatos pingados passaram pelo local, apenas nas primeiras horas. É bom que se diga que os jovens não éramos amigos do morto... O convite foi feito no sentido de provocação e aceito não por heroísmo e sim por que tinha algo de mistério, uma aventura nunca antes vivenciada. O motorista estacionou a camioneta diante do portão do cemitério. A Rua de acesso ao campo santo dos mortos estava totalmente deserta... Nas casas ao redor o silêncio era total, nenhuma lâmpada acesa, nem tosse dos moradores se ouvia nos casebres, os cachorros estavam de bocas fechadas, só os grilos cantavam... Desceram do veículo calado como três múmias... Era uma noite de poucas estrelas, sem luar...  Lá nos fundos do Cemitério avistava-se a capela mal iluminada por uma meia dúzia de velas acesas... As sepulturas ao redor eram como se fossem muralhas negras em meio os arvoredos... As corujas deram-lhes as boas vindas de maneira arrepiante, num cantar funestos sobre as catacumbas...  Nisto o relógio da matriz começou a badalar... Foram ao todo doze batidas que ecoaram entre as muralhas do cemitério... Era exatamente meia noite. _  Um deles, o mais medroso pediu para voltar, encerrar por ali aquela aventura fora da realidade. Ficaram confabulando se deveriam ou não voltar dali onde estavam. Diante daquele marasmo, nem ata e nem desata... De repente, como se as pernas tivessem sido destravadas ao mesmo tempo, depararam-se a caminhar pela rua estreito no vale dos mortos, na direção da capela... Passaram ao lado do cruzeiro, onde ainda queimavam alguns tocos de velas... As corujas voltaram a cantar sobre as sepulturas, desta vez, bem próximas de seus ouvidos... Confessam que sentiram um calafrio indescritível dos pés a cabeça... Mesmo assim, seguimos em frente, tudo muito estranho, ao redor. Ao chegar na capelinha não avistaram uma viva alma no seu interior ... Quando adentraram ao recinto deram de cara apenas com o caixão, sem flores e sem adornos, nele, apenas  o “Bituqueiro” que dormia o sono eterno, diferente de quando dormia pelas calçadas ou nos bancos da praça. Desta vez, solitário como sempre, esperando o amanhecer do dia, não para mendigar o último trago de cachaça ou o último prato de comida ou catar a última bituca de cigarro e sim para ser sepultado dignamente como um ser humano.

A TAL DA MULA SEM CABEÇA


 Era uma noite qualquer da quaresma. Pelos cálculos de um senhor que conta este causo, o fato aconteceu no final dos anos sessenta, quando ainda era estudante ginasial, um verdadeiro caipira dos tempos da brilhantina. Morava numa chácara nas imediações da última rua da cidade... Era aquele recanto da cidade, ainda pouco povoado e com uma iluminação elétrica de péssima qualidade... Quaisquer relâmpagos no horizonte já se apagavam as luzes... Afinal eram tantas as noites sem aulas, que se perdiam as contas. Naquela noite, contrariando todas as previsões, o tempo não estava para chuva, havia um luar encantador, ótimo para se fazer serenata... O jovem retornou a casa mais cedo. Para variar, houve um apagão e as aulas foram dispensadas. Enquanto descia pela rua, a menos de duas quadras, de onde morava. Ao clarão da lua cheia que lhe fazia lembrar com saudades dos tempos da roça. Ouviu o que já era acostumado a ouvir todas as noites, o latir dos cachorros. A matilha estava afinada, com a goela solta, na captura de um animal de grande porte, pelo menos era o que aparentava... Um boi? ... Um cavalo? ... A corrida vinha em disparada, na sua direção. Em pouco segundos o tropel passou por ele... Olhou para todos os lados e nada viu.  Logo em seguida os cachorros já  latiam a centenas de metros distantes, ouviu se ainda o trotar semelhante ao de um cavalo. No outro dia contou o fato acontecido a um senhor de idade, amigo da família. Afirmou-lhe com convicção de que se tratava de uma mula sem cabeça que rondava a cidade por aquelas paragens.. Depois a sós, pôs-se a meditar sobre o ocorrido... Sendo então, o suposto animal perseguido pelos cachorros uma mula sem cabeça, pelo menos os cachorros e resto do corpo da mula, com certeza teriam sido visto... Só sabe dizer que naquela noite ele estava lúcido. Não estava com febre, muito menos embriagado.

UM CAUSO DE BALCONISTA


Conta um antigo comerciante, sócio de uma venda de Secos & Molhados situada, no centro da cidade de Sertanópolis, quanto ao nome da loja não vem ao caso. Tempo bom aquele, dizia o narrador, em que a cidade desfrutava das benesses cafeeiras... Aos sábados as vendas ficavam repletas com tanta freguesia, principalmente à tarde... Das carrocerias de caminhões, camionetas e tratores desciam centenas de trabalhadores rurais, cada um com os famosos sacos alvejados debaixo do braço e já adentravam nos recintos comerciais a fim de fazerem as compras semanais... Era uma correria danada, um pula, pula; um pesa, pesa; um tromba, tromba... Os balconistas e os proprietários das vendas se viam loucos para darem conta do atendimento ao público. A venda da qual era sócio tinha um ótimo movimento... Enquanto os empregados das fazendas faziam as compras, a vista paga com cheques. Os proprietários por comodismo compravam a prazo. A maioria era mensalista, outros pagavam somente após a colheita, tudo anotado nas famosas cadernetas. Um dos fregueses mensalista pode se dizer, o que mais gastava e o mais pontual quanto ao pagamento, no primeiro dia útil de cada mês, mal as portas da venda eram abertas, lá estava ele encostado o umbigo no balcão, tirando o talão de cheque do bolso, para acertar a conta... Era sem dúvida, um homem cumpridor de suas obrigações, aparentemente um bom esposo e bom pai. Considerado um dos fazendeiros mais próspero de toda a região. Falava-se muito desse homem, coisas de arrepiar os cabelos... Diziam que havia vendido a alma ao diabo para ficar rico... Um fato muito estranho deixou o comerciante com a pulga atrás da orelha, um tanto cismado... Nem precisa dizer que era início de mês e que o tal fazendeiro, como sempre foi o primeiro a entrar na venda... O mais sinistro é que naquele dia não cumprimentou a ninguém, aparentava um olhar um tanto preocupado... Pediu a conta, que já estava somada... O comerciante foi até o escritório apanhá-la... Ao retornar ao salão da venda, no balcão ao fundo, onde era acostumado a entrar na grana, tentando ocultar o sorriso, pois aquele dinheiro vinha em boa hora... Qual foi a sua surpresa? ... A fisionomia do homem estava completamente mudada, já havia guardado o talão de cheque no bolso... Disse-lhe com uma voz mudada que só acertaria a conta depois que o "negão” fosse embora com o olhar fixo no canto da venda e já em seguida saiu porta afora sem se despedir... O comerciante ficou abobalhado com o que acabara de ouvir... Olhou na direção do local onde deveria estar o suposto "negão" , não havia nada além das mercadorias sobre as prateleiras... Mais tarde, como se nada tivesse acontecido, retornou a venda e acertou a conta.

A ÁRVORE MAL ASSOMBRADA


 Nas ruas centrais da cidade de Sertanópolis, em épocas passadas havia muito mais árvores nas calçadas do que nos dias de hoje. Uma delas se destacava entre todas, não por ser a mais frondosa, muito menos por ser a mais alta, nem a mais bela... Então o que havia de extraordinário nessa árvore? ... Diziam que a tal árvore era mal assombrada. Falavam coisas tenebrosas. Então, aproveitando os boatos sinistros que circulavam na boca do povo, um grupo de amigos acostumados a aprontar traquinagens resolveu pregar um susto nas pessoas que costumeiramente retornavam da igreja, nos finais de semana, lá pelas nove horas da noite. Enquanto isso, os malfeitores, subiram com muita dificuldade na tenebrosa árvore carregando o couro curtido de uma vaca preta, ajeitaram-se nas forquilhas dos galhos a certa altura do chão e lá permaneceram mal acomodados alguns minutos em pleno silêncio. O desconforto era total, mesmo assim não desistiram, até que, pela rua deserta, iluminada apenas pelo clarão da lua, lá vinham os religiosos, numa prosa animada, sem se darem conta do que estava para acontecer... Quando já se encontravam embaixo da árvore foram surpreendidos por um vulto enorme preto que nem carvão despencando-se do alto, batendo de galho em galho, fazendo um barulho danado... As vítimas, muito assustadas aprontaram uma gritaria confusa e incontrolável, colocaram em pânico até mesmo os moradores vizinhos. Os donos da arte premeditada, com medo de serem surpreendidos desceram da árvore o mais rápido possível e saíram correndo carregando o couro nas costas pelas ruas escuras e desertas... Os cachorros, não acostumados com esse tipo de visão puseram-se a latir de maneira muito estranha, os mais afoitos saíram dos quintais e perseguiram o vulto negro em disparada, agora mais rápido ainda para se livrarem das presas caninas que vinham fungando atrás dos calcanhares. Foi uma noite um tanto cômica e tenebrosa que entrou para a história dos moradores do pacato vilarejo. Conta-se até nos dias de hoje este causo engraçado e a árvore carregou sobre o peso de seus galhos a triste sina de mal assombrada, até que veio tombar por terra numa noite de tempestade.

A LENDA DO SAPOCÓ


 Todos sabem que antes da formação artificial do Lago Tabocó, antes de se transformar  numa bela paisagem turística, no local havia apenas um pequeno riacho, denominado de Taboca, em meio a um pantanal coberto de taboa, cheio de cobras e de milhares de sapos. Em Tempos de chuva os sapos aumentavam de maneira incontrolável, invadiam as casas mais próximas ao criatório. Era sapo de todas as espécies e tamanho para tudo quanto era lado. Quando os moradores das proximidade, alguém  ia ao banheiro tinha que olhar bem no vaso sanitário, pois lá era o principal esconderijo dos indigestos animais. Os mais descontraídos eram surpreendidos constantemente com eles pulando por entre as pernas. Quando tal fato acontecia com uma mulher... Valha-me Nossa Senhora! ... Era uma gritaria de botar os bofes para fora.  Certa ocasião, após uma longa temporada de chuva, dia e noite sem parar, em que até parecia o prenúncio de um novo dilúvio... Nas noites escuras, enquanto a chuva caia sobre a terra,  milhares de sapos entoavam à famosa orquestra ao redor do riacho.desta feita já represado em fase de formação do lago. Em uma das casas, nas imediações, quase já tomada pelas águas que não parava m de aumentar, os moradores passaram a sentir um gosto estranho na água que bebiam. Havia uma reclamação generalizada, até que o filho mais velho resolveu subir na parte superior do forro da casa... Ao abrir a caixa d’água... Cruz credo! ... Encontrou para seu espanto, vinte sete sapos mortos... Mesmo com náusea teve o capricho de contá-los. A notícia provocou nos moradores da casa uma epidemia incontrolável de vômitos. A partir de então os sapos passaram a ser considerados uma praga... Não se sabe ao certo, mas há quem afirme vir daí  um outro nome dado ao lago que não vigou, ou seja Lago Sapocó.

A LENDA DAS MULHERES FOFOQUEIRAS


 Num sítio, um tanto distante da cidade, moravam  três famílias. Enquanto os homens trabalhavam na roça as mulheres passavam o dia fazendo fofocas, pior ainda colocavam os maridos, uns contra os outros. A fofoca era tanta e cada vez mais maldosa, até que numa tarde a coisa esquentou de fato no terreiro de café e começou uma discussão danada. A briga ficou feia. Quatro corpos ficaram mortos estendidos no chão. Dois irmãos e dois cunhados perderam a vida a golpes de faca e de foice. Essa briga aconteceu na década de 1950, quando a lavoura de café entrava em declínio na região. Os assassinos se apresentaram ao inspetor de quarteirão do bairro que os encaminhou até a delegacia. Foram julgados e condenados a pagar pelo crime que cometeram. Passaram longos anos na cadeia. Foi uma triste intriga de famílias que acabou em tragédia, abalando os moradores da redondeza e o local passou a ter fama de mal assombrado. Dizem que os fantasmas dos mortos habitam no local do crime e que suas almas penadas se apresentam de várias maneiras sinistras causando pânico nos transeuntes que passam por lá em altas horas da noite.

A FOSSA MAL ASSOMBRADA


 No dia 20 de abril de 1988, na parte da tarde, um garoto sem os cuidados da mãe caiu numa fossa, um tanto profunda, escancaradamente aberta e morreu afogado em poucos minutos sem que lhe fosse prestado socorro. Foi um pânico total na vizinhança. Os familiares aflitos, desatinados, diante da tragédia não sabiam o que fazer. Durante o velório muita gente compareceu. A pobre mãe, desconsolada e se sentido culpada pela morte do filho chorou por muito tempo. Nos dia de hoje, muito ainda se fala sobre fato acontecido. Há quem afirma que o lugar ficou mal assombrado. Comenta-se que em altas horas da madrugada, ecoando do fundo da fossa, ouvem-se os gritos desesperados de uma criança pedindo socorro. Infelizmente a lição não foi aprendida. Sendo ou não a fossa mal assombrada, isso não chega a ser relevante; o pior é que ela continua aberta, exposta ao perigo. A qualquer hora poderá acontecer no local uma nova tragédia,

A LENDA DO PADEIRO FANTASMA


 Há muitos anos atrás havia certo padeiro que passava pelas ruas de sua cidade, nas primeiras horas da madrugada entregando os pães, principalmente para os fregueses mensalistas... Era o homem um tanto estranho, magro, muito pálido, de pouca conversa. Dizem que tinha uma das orelhas cortadas. Raramente era visto durante o dia. Era dono de uma carroça que era puxada por um cavalo pangaré, de pelos arrepiados e de cor branca, com uma pisadura no lombo. De repente, o misterioso padeiro sumiu, sem dar notícia do seu novo paradeiro, nem mesmo às contas que tinha para receber foram acertadas... Começaram então a surgir os boatos desencontrados. Algumas pessoas passaram afirmar que ele havia se mudado para uma outra cidade. Outros mais trágicos comentavam que havia sido assassinado por motivo de roubo. Há quem afirmasse que o seu desaparecimento foi provocado por uma terrível maldição imposta pela própria mãe. A verdade é que o homem noctívago sumiu assim como desapareceu também a carroça e o cavalo. Passados certo tempo, numa madrugada, lá pelas 4h., pelas mesmas ruas da cidade, como era de costume os moradores foram despertados novamente pelo barulho da carroça e pelo sininho que o cavalo carregava pendurada no pescoço... Os boatos começaram a fervilhar na boca miúda. Para alguns, tratava-se de um outro padeiro tentando ocupar o espaço deixado pelo anterior, para outros, mais ligados a crendices tratava-se do fantasma do padeiro que havia retornado para vingar-se do preconceito e das calúnias, das quais sempre fora vítima. Nas madrugadas seguintes, sempre no mesmo horário, nas mesmas ruas, o barulho da carroça e do cavalo com seu sininho voltou à rotina... Até que, um dos antigos fregueses resolveu levantar-se de madrugada para comprar os pães para o café daquela manhã... Até aí, nada de anormal. Foi até a rua, esperou pelo padeiro que vinha em sua direção. Fez parar a carroça que era puxada pelo mesmo cavalo pangaré e pediu ao padeiro a quantia de pães, que era acostumado a comprar. O padeiro ao entregar-lhe a mercadoria, quando se virou de frente... Cruz, credo! ... O freguês deparou-se com a mais sinistra visão... Ali, a menos de meio metro de distância viu apenas a capa e o chapéu do padeiro flutuando no ar. Apavorado retornou a casa sem os pães, que foram involuntariamente atirados na calçada. Ao passar pelo portão, virou-se novamente para o lado da rua a fim de confirmar se realmente não estava tendo uma alucinação. Nada mais pode ver. Nem carroça! ... Nem cavalo! ... Nem os pães! ... Tudo sumiu num piscar de olho. Somente o sininho seguiu tocando pela rua deserta. O mais estranho, é que muitos anos já se passaram, ainda nos dias de hoje, há quem afirma que o tal padeiro fantasma ainda circula pelas ruas da cidade.